São Paulo, Sábado, 08 de Maio de 1999
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Pesquisa mapeia a matemática no cérebro

MARCELO FERRONI
da Reportagem Local

Um estudo de como o cérebro se comporta quando uma pessoa lida com questões matemáticas pode levar ao desenvolvimento de novos métodos de educação infantil.
O estudo, publicado ontem na revista "Science", dos EUA, mostra que problemas numéricos, como a soma, dependem de uma área cerebral relacionada à linguagem.
Mas, quando se trata de obter resultados aproximados, a parte ativada é ligada à percepção visual e espacial, segundo o estudo, que foi realizado a partir de testes com indivíduos bilíngues.
"A nossa pesquisa sugere, em primeiro lugar, que os educadores devem prestar mais atenção ao ensinar o senso numérico a crianças", disse à Folha, em entrevista por e-mail, Elizabeth Spelke, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA.
"Em nossos estudos, o treino com adultos fez com que eles desenvolvessem um senso de logaritmos e de funções de raiz cúbica. O mesmo método também poderia ser bem-sucedido em crianças."
Spelke e seus colegas apontaram também, na pesquisa, que crianças que aprendem duas línguas ao mesmo tempo podem ter problemas com a matemática.
"O aprendizado de cálculos exatos não é transferido de uma língua para a outra com a mesma facilidade que há no caso de valores aproximados", disse.
"Isso torna possível que as crianças que começam a aprender a matemática em uma língua tenham dificuldades ao, mais tarde, passar para outra", afirmou a cientista.
A pesquisadora disse que ainda são necessários testes com crianças para fortalecer as conclusões.
Spelke participou do estudo conduzido pelo francês Stanislas Dehaene, do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica, em Paris.
Nele, foram selecionados voluntários que falavam russo e inglês com fluência. As pessoas primeiro treinavam alguns conceitos matemáticos em uma das línguas e, em seguida, resolviam problemas.
Um grupo foi ensinado em russo e o outro, em inglês. Quando era pedido que fizessem cálculos precisos na língua diferente daquela em que haviam recebido as regras, os indivíduos demoravam até 1 segundo a mais na resposta.
A velocidade do raciocínio, porém, não se alterava quando eram feitas estimativas aproximadas -o que indicou que essa tarefa não estaria ligada à linguagem. Os testes foram monitorados com imagens obtidas a partir da detecção dos impulsos nervosos.


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