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País faz teste inédito com células-tronco
Pela primeira vez no mundo, terapia celular é usada contra doença pulmonar grave; estudo ocorre no Rio de Janeiro
Durante 12 meses, 10 pacientes que têm silicose, inflamação que afeta 6 milhões, serão tratados com material da própria medula
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
O primeiro teste mundial do
uso de células-troncos adultas
no tratamento de doenças respiratórias em humanos vai começar na próxima quinta-feira
no Brasil. O experimento está
sob responsabilidade da UFRJ
(Universidade Federal do Rio
de Janeiro).
Em dez semanas, dez pacientes portadores de silicose
-uma inflamação que causa
enrijecimento dos pulmões -
receberão injeções com suas
próprias células-tronco retiradas da medula óssea.
Será apenas uma aplicação
por pessoa. Todos os pacientes,
cuja seleção envolveu critérios
restritivos -como ausência de
pneumonia-, serão avaliados
após um ano de tratamento.
Segundo Marcelo Morales,
um dos coordenadores do projeto de pesquisa, nestes 12 meses iniciais, o grande objetivo
do grupo é testar exclusivamente a segurança do método.
O procedimento está aprovado pelo Conep (Conselho Nacional de Saúde), órgão do governo federal responsável por
autorizar pesquisas com humanos no país, desde outubro.
A silicose, inflamação no pulmão deflagrada pelo contato
com o pó de sílica, atinge 6 milhões de pessoas no país. Trabalhadores da indústria naval
são os mais atingidos.
Outros profissionais, como
mineiros, artistas plásticos e vidraceiros, também podem sofrer com a doença.
"Esse protocolo desenhado
para a silicose é fundamental
também para o tratamento de
outras doenças com células-tronco", disse Morales à Folha.
Segundo o pesquisador, em
animais, no laboratório, o método também mostrou que é
eficiente para pelo menos outros três tipos de disfunções
pulmonares até agora.
"O uso de células-tronco foi
bem satisfatório no tratamento
de asma grave, síndrome do
desconforto respiratório agudo
e na doença pulmonar obstrutiva crônica", afirma o pesquisador da UFRJ.
No nível individual, qualquer
opção de tratamento para a silicose é relevante, diz Morales,
porque é uma doença que não
tem cura. É impossível retirar
fisicamente o pó de sílica do
pulmão dos trabalhadores. Como esse agente externo é o causador da inflamação, ela se torna crônica e incapacitante.
Desinflamação
Em nível celular, os macrófagos (células do sistema de defesa do corpo humano) dos alvéolos pulmonares são ativados e
liberam uma série de enzimas
por causa do pó.
Este processo, segundo Morales, destrói outros macrófagos e gera uma reação em cadeia no pulmão doente. "Esse
mecanismo, irreversível, forma
fibromas [tecido fibroso] no
pulmão", diz Morales.
Nos testes em animais "todos
os parâmetros pulmonares dos
camundongos melhoraram"
-e, agora, o mesmo objetivo
tentará ser obtido em humanos, mas apenas na segunda fase, após o método ter a sua segurança testada.
Reação fatal em cadeia
Nos camundongos, as células-tronco agiram exatamente
sobre os macrófagos, quebrando a reação em cadeia provocada por eles e fazendo com que a
fibrose diminuísse.
Mesmo com os resultados
positivos e o entendimento geral do processo, os cientistas
ainda precisam responder a
perguntas científicas básicas.
Atualmente, todas as células-tronco retiradas da medula, depois de serem concentradas,
são injetadas numa solução diretamente no pulmão das pessoas. Mas, certamente, não são
todas essas células que agem
sobre os alvéolos.
Um dos objetivos do grupo de
Morales é tentar diferenciar os
grupos de células-tronco da
medula e identificar aqueles
que realmente estão causando
a reversão do dano no pulmão.
Sabendo isso, dizem os cientistas, será possível melhorar o
rendimento da técnica clínica.
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