São Paulo, sábado, 08 de agosto de 2009

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País faz teste inédito com células-tronco

Pela primeira vez no mundo, terapia celular é usada contra doença pulmonar grave; estudo ocorre no Rio de Janeiro

Durante 12 meses, 10 pacientes que têm silicose, inflamação que afeta 6 milhões, serão tratados com material da própria medula


EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

O primeiro teste mundial do uso de células-troncos adultas no tratamento de doenças respiratórias em humanos vai começar na próxima quinta-feira no Brasil. O experimento está sob responsabilidade da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Em dez semanas, dez pacientes portadores de silicose -uma inflamação que causa enrijecimento dos pulmões - receberão injeções com suas próprias células-tronco retiradas da medula óssea.
Será apenas uma aplicação por pessoa. Todos os pacientes, cuja seleção envolveu critérios restritivos -como ausência de pneumonia-, serão avaliados após um ano de tratamento.
Segundo Marcelo Morales, um dos coordenadores do projeto de pesquisa, nestes 12 meses iniciais, o grande objetivo do grupo é testar exclusivamente a segurança do método.
O procedimento está aprovado pelo Conep (Conselho Nacional de Saúde), órgão do governo federal responsável por autorizar pesquisas com humanos no país, desde outubro.
A silicose, inflamação no pulmão deflagrada pelo contato com o pó de sílica, atinge 6 milhões de pessoas no país. Trabalhadores da indústria naval são os mais atingidos.
Outros profissionais, como mineiros, artistas plásticos e vidraceiros, também podem sofrer com a doença.
"Esse protocolo desenhado para a silicose é fundamental também para o tratamento de outras doenças com células-tronco", disse Morales à Folha.
Segundo o pesquisador, em animais, no laboratório, o método também mostrou que é eficiente para pelo menos outros três tipos de disfunções pulmonares até agora.
"O uso de células-tronco foi bem satisfatório no tratamento de asma grave, síndrome do desconforto respiratório agudo e na doença pulmonar obstrutiva crônica", afirma o pesquisador da UFRJ.
No nível individual, qualquer opção de tratamento para a silicose é relevante, diz Morales, porque é uma doença que não tem cura. É impossível retirar fisicamente o pó de sílica do pulmão dos trabalhadores. Como esse agente externo é o causador da inflamação, ela se torna crônica e incapacitante.

Desinflamação
Em nível celular, os macrófagos (células do sistema de defesa do corpo humano) dos alvéolos pulmonares são ativados e liberam uma série de enzimas por causa do pó.
Este processo, segundo Morales, destrói outros macrófagos e gera uma reação em cadeia no pulmão doente. "Esse mecanismo, irreversível, forma fibromas [tecido fibroso] no pulmão", diz Morales.
Nos testes em animais "todos os parâmetros pulmonares dos camundongos melhoraram" -e, agora, o mesmo objetivo tentará ser obtido em humanos, mas apenas na segunda fase, após o método ter a sua segurança testada.

Reação fatal em cadeia
Nos camundongos, as células-tronco agiram exatamente sobre os macrófagos, quebrando a reação em cadeia provocada por eles e fazendo com que a fibrose diminuísse.
Mesmo com os resultados positivos e o entendimento geral do processo, os cientistas ainda precisam responder a perguntas científicas básicas.
Atualmente, todas as células-tronco retiradas da medula, depois de serem concentradas, são injetadas numa solução diretamente no pulmão das pessoas. Mas, certamente, não são todas essas células que agem sobre os alvéolos.
Um dos objetivos do grupo de Morales é tentar diferenciar os grupos de células-tronco da medula e identificar aqueles que realmente estão causando a reversão do dano no pulmão.
Sabendo isso, dizem os cientistas, será possível melhorar o rendimento da técnica clínica.


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