São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2010

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Intrigas com colegas marcaram a carreira de Robert Trivers

DE SÃO PAULO

Professores da própria Universidade Harvard não gostaram, nos anos 1970, das ideias de Trivers sobre comportamento humano.
Cientistas sociais acharam (e acham) que se tratava de "determinismo biológico".
"Quando era doutorando, achava que em 20 anos ninguém mais ia falar que tudo era construção social. Mas já faz 40 e veja se eles mudaram!", diz Trivers.
Mesmo biólogos importantes de Harvard, notoriamente a dupla Stephen Jay Gould e Richard Lewontin, opuseram-se a ele. Trivers e eles trocavam farpas.
Quando Gould, por exemplo, disse que o orgasmo feminino estava ali por acaso (um rescaldo evolutivo inútil, como os mamilos masculinos), Trivers respondeu que isso mostrava "o quanto Stephen deve conhecer de perto esse evento abençoado".
Já Lewontin, o mais velho dos três, era cobra criada quando Trivers publicou seus primeiros trabalhos. Alguns anos após ele terminar o doutorado, Lewontin conseguiu afastá-lo de Harvard (ao menos essa é a versão de Trivers), em 1978. Trivers foi trabalhar longe dali.
Quase 30 anos depois, em 2005, viu que, ao menos entre os biólogos, o jogo tinha virado. Foi convidado a voltar a Harvard para dar aulas. "Foi como matar aqueles filhos da p. e roubar a juventude deles", disse, adepto dos palavrões que é, sobre seus velhos colegas.
Trivers é do tipo que briga com alguma facilidade. Certa vez, na Jamaica, ficou dez dias preso após uma briga decorrente de uma discórdia sobre uma conta de hotel.
"Eu acho que os organismos precisam de certo feedback físico às vezes", disse.
Brigando ou não, sua tentativa de conquistar a juventude parece ter funcionado. Toda uma área de pesquisa, que passa pela obra "O Gene Egoísta", de 1976, que apresentou Richard Dawkins ao mundo, e chega aos livros do próprio Steven Pinker, baseia-se nos seus estudos. (RM)


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