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Origem da matéria dá Nobel a japoneses
Trabalhos sobre a chamada quebra de simetria, feitos a partir dos anos 1960, ajudam a explicar por que tudo existe
Yoichiro Nambu, radicado nos EUA, ficará com metade do prêmio; a outra metade irá para Toshihide Maskawa e para Makoto Kobayashi
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
IGOR ZOLNERKEVIC
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um trio de origem japonesa
ganhou ontem o Prêmio Nobel
de Física por seus trabalhos
que ajudam simplesmente a explicar por que tudo existe.
Se uma tal de "quebra de simetria", estudada pelos laureados, não tivesse acontecido no
início do Universo, toda a matéria teria sido aniquilada pela
sua irmã gêmea "do mal", a antimatéria.
O japonês naturalizado americano Yoichiro Nambu, 87,
que está desde 1952 na Universidade de Chicago, vai receber
US$ 700 mil pelo Nobel. Em
1960, Nambu inventou o conceito de "quebra de simetria".
Makoto Kobayashi, 64, que
trabalha no acelerador de alta
energia KEK em Tsukuba, Japão, e Toshihide Maskawa, 68,
da Universidade Kyoto, ganharão US$ 350 mil cada.
Dois trabalhos de Nambu,
em 1961, contribuíram de forma decisiva para o surgimento
do chamado Modelo Padrão,
que consolida todo o conhecimento que os físicos têm sobre
as partículas elementares.
A única peça faltante no Modelo Padrão é o chamado bóson
de Higgs, que dá uma massa diferente para cada uma das partículas, justamente por uma
"quebra de simetria".
O físico brasileiro Rogério
Rosenfeld, do Instituto de Física Teórica da Unesp (Universidade Estadual Paulista), explica a quebra de simetria imaginando um chapéu mexicano.
"Imagine que sobre o cocuruto
do chapéu exista um animal. A
aba, neste caso, forma um extenso vale onde existe comida.
Em tese, ele pode escolher
qualquer direção mas, ao fazer
isso, estará quebrada a simetria. Ele poderia ter ido tanto
para a esquerda quanto para a
direita", explica.
Rosenfeld contou com a presença de Nambu na sua banca
de doutorado, em 1990, na Universidade de Chicago.
Kobayashi e Maskawa levaram o Nobel por descobrirem a
quebra de simetria que fez a
matéria sobrepujar a antimatéria no Big Bang.
"Eu não esperava ganhar. É
uma honra receber o prêmio
pelo meu trabalho tanto tempo
depois", afirmou Kobayashi logo após o resultado ter sido divulgado, ontem de manhã. "Estava apenas perseguindo meu
interesse [acadêmico]."
Em 1972, Kobayashi e Maskawa usaram o conceito de
quebra de simetria para explicar o comportamento estranho
de uma partícula chamada
kaon, observada em 1964. O
problema, explica o físico da
Unesp, é que para o modelo deles fazer sentido deveria haver
três quarks a mais do que os conhecidos na época, o "up", o
"down" e o "estranho". Os
quarks são partículas do núcleo
do átomo que são os menores
constituintes da matéria.
"O modelo deles foi ignorado
na época", conta o físico Gustavo Burdman, da USP. "A explicação que estava na moda era
outra, que foi provada errada."
Explosão de quarks
Todos os físicos, porém, logo
reconheceram a explicação de
Kobayashi e Maskawa como a
correta quando os quarks que
eles previram ("charme", "bottom" e "top") foram descobertos, em 1974, 1977 e 1994.
Além de explicar o kaon, a
proposta da dupla sobre a quebra de simetria relacionada às
cargas dos pares de partículas e
antipartículas explica a própria
existência da matéria.
No momento do Big Bang, se
toda a matéria tivesse sido aniquilada pela antimatéria, só teríamos a radiação. A sorte, talvez, é que houve um pequeno
desvio da ordem de uma partícula de matéria para cada 10 bilhões de partículas de antimatéria. "O desbalanço é grande,
mas os parâmetros que levaram a essa assimetria são pequenos", diz Rosenfeld. Exatamente a explicação de parte
dessa assimetria é que rendeu o
Nobel à dupla japonesa.
Em 2001 e 2002, aceleradores de partículas nos EUA e no
Japão -o mesmo onde Kobayashi trabalha-, confirmaram
a sutil diferença entre matéria e
antimatéria em partículas chamadas mésons B.
Maskawa disse que, como
cientista, não estava tão emocionado com o prêmio. "O Nobel é uma coisa bem mundana."
Com agências internacionais
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