São Paulo, sexta-feira, 08 de novembro de 2002

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Genes podem permitir teste precoce

DA REDAÇÃO

Pesquisadores do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer estão perto de criar um novo tipo de teste diagnóstico precoce para dois tipos de câncer, com base em trechos de DNA.
Se tudo caminhar bem, em dois ou três anos poderão ter um exame que usa apenas pares e trios de genes -e muita matemática- para detectar tumores de estômago e de tireóide em estágios hoje indetectáveis. Esperam, com isso, fornecer aos médicos uma ferramenta para evitar muitas mortes e cirurgias desnecessárias.
Genes são como registros na memória da espécie, gravados na escrita da molécula de DNA. Sempre que o organismo precisa realizar uma função, vai buscar no DNA as "receitas" (genes) das proteínas para pô-la em marcha.
O estudo será apresentado amanhã por Luiz Fernando Lima Reis no simpósio internacional "Novas Abordagens Clínicas e Moleculares Voltadas para o Câncer".
A esperança é conseguir identificar lesões do estômago numa fase de transição, a caminho de se tornarem malignas. Depois que o tumor se instala e se alastra, não há tratamento disponível além da cirurgia para extirpação. Como em geral é diagnosticado em estágio avançado, revela-se uma das formas de câncer mais mortais.
Reis, 43, é pesquisador da filial paulistana da rede internacional do Instituto Ludwig, que foi parceira da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) no programa Genoma do Câncer, já encerrado.
O teste em desenvolvimento é um subproduto do programa, que identificou 70 mil genes humanos em potencial a partir da análise de tumores (o que leva a crer que o homem tenha bem mais do que os 30 mil a 40 mil genes estimados em 2001 no rascunho do genoma humano).
Essas sequências foram usadas para construir chips de DNA, lâminas com milhares de furinhos contendo amostras desses genes, um em cada buraco (cuja sequência é conhecida). Quando se põe material dos tumores sobre a lâmina, o DNA que as células cancerosas estiverem usando, de fato, vai interagir com as sequências complementares em cada furinho, fazendo com que ele "se acenda" após o pareamento.
É uma maneira de identificar os genes mais usados nas células cancerosas, para descobrir sua assinatura genética, pois se supõe que cada tipo de tumor mobilize um conjunto peculiar de sequências de DNA para se desenvolver. No caso do câncer de estômago, a equipe de Reis começou testando 4.700 deles e chegou a um conjunto de 141, com base em seis amostras de tecidos normais e seis de tumores, para comparação.
Em seguida, incluíram outros candidatos a marcadores diagnósticos, chegando a 200. Aí entraram em cena a estatística e a computação, para tentar identificar entre esses 200 alguns pares ou trios de genes que, sozinhos, fossem capazes de predizer com segurança se a amostra em questão é ou não de um tumor.
Primeiro, o computador tem a chance de aprender, pois recebe informação sobre quais são os genes ativos no tumor e no tecido normal, e em que intensidade. Depois, recebe apenas perfis de expressão dos genes e tem de predizer se a amostra é de tumor ou tecido são (e o pesquisador pode verificar o grau de acerto).
Reis diz que já tem mais de uma dezena de pares e trios capazes de permitir tal "classificação", como se diz no jargão dos médicos. Os resultados da primeira etapa desse trabalho, que envolveu um número reduzido de pacientes, sairá em breve na revista "Cancer Letters". O Instituto Ludwig está preparando um pedido de patente para o futuro teste. Se concedida a patente, a receita será repartida com a Fapesp.
A mesma estratégia está sendo seguida para criar um teste para tumores malignos da tireóide. Hoje, 60% das cirurgias de retirada da glândula na base do pescoço revelam nódulos benignos. Parte delas poderia ser evitada, se não houver outras indicações associadas, como melhorar a deglutição.


Simpósio Internacional Novas Abordagens Clínicas e Moleculares Voltadas contra o Câncer - De hoje (14h) a domingo, no Auditório Senador José Ermírio de Moraes, Hospital do Câncer A.C. Camargo, rua Tamandaré, 764, bairro Liberdade, São Paulo, SP.



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