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China vira maior emissor global de carbono em 2009
Relatório prevê mais demanda mundial por óleo e aponta energia nuclear como opção
Dados compilados pela
Agência Internacional de
Energia devem esquentar
debate sobre inclusão de
pobres no acordo de Kyoto
Greg Baker/Associated Press
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Homem passa de bicicleta por torres de resfriamento de termelétrica a carvão em Fuxin, China |
DA REDAÇÃO
Um dia depois do início da
conferência internacional sobre mudança climática de Nairóbi, a IEA (Agência Internacional de Energia) divulgou um
cenário sombrio para o planeta:
a demanda global por energia
deve crescer 53% até 2030, e
mais de 70% desse crescimento
virá de países do Terceiro Mundo, como a Índia e a China. Esta
deverá passar os EUA como
maior emissor de gás carbônico
do planeta em 2009 -uma década antes do previsto.
Os dados são do relatório
"World Energy Outlook 2006",
lançado ontem em Londres pela IEA. O documento prevê que
o crescimento econômico chinês, movido a carvão mineral
para geração de eletricidade,
tornará a China o principal
contribuidor para o aquecimento global. O carvão é o mais
"sujo" dos combustíveis fósseis, principais responsáveis
pelas emissões de gás carbônico (CO2) que aquecem o planeta além do normal.
A demanda por outros combustíveis fósseis, como o petróleo, também cresce de forma
acelerada: a sede global de petróleo, que em 2005 era de 84
milhões de barris por dia, deve
chegar a 116 milhões de barris
por dia em 2030.
Segundo Claude Mandil, diretor-executivo da agência, o
relatório "revela que o futuro
energético que encaramos hoje, baseado nas tendências
atuais, é sujo, inseguro e caro".
Os dados devem esquentar
as já tensas negociações que se
desenrolam até o dia 17 em
Nairóbi sobre o futuro regime
internacional de combate às
emissões de gases de efeito estufa. Os negociadores de 180
países reunidos no Quênia precisam definir um acordo que dê
continuidade ao Protocolo de
Kyoto, cujo primeiro período
se encerra em 2012.
Pelo acordo de Kyoto, os países industrializados se comprometem a reduzir coletivamente suas emissões de gases-estufa em 5,2% em relação aos
níveis de 1990. Há pressões fortes desses países, em especial
dos EUA, para que nações do
Terceiro Mundo, que foram
desobrigadas de metas de redução em Kyoto, passem a ser
obrigadas a adotar compromissos após 2012.
O bloco dos gigantes subdesenvolvidos rejeita metas, argumentando que a responsabilidade histórica pelo problema
é do mundo industrializado
-onde, de resto, estão as maiores emissões per capita. Com
seu 1,3 bilhão de habitantes, a
maioria na zona rural, mesmo
se chegar às 7 bilhões de toneladas de CO2 projetadas para
2009 (igualando os EUA), a
China ainda emitirá por habitante um quinto do que emitem os Estados Unidos, com
300 milhões de pessoas.
Solução nuclear
Uma das formas de resolver o
problema apontadas pelo relatório é investir em eficiência
energética e em energias alternativas, como os biocombustíveis -o papel do Brasil neste
aspecto é destacado pela IEA.
Outra maneira é investir em
energia nuclear, citada como
uma forma "barata" de reduzir
a dependência de combustíveis
fósseis e as emissões de gás carbônico, desde que subsidiada
pelos governos. A capacidade
de geração nuclear poderia subir de 368 gigawatts em 2005
para 519 gigawatts em 2030.
"Isso é "hype". Fico espantado
que isso tenha entrado no relatório", disse à Folha o secretário de Estado de Meio Ambiente de São Paulo, José Goldemberg. Grande especialista em
energia, Goldemberg é opositor histórico da opção nuclear.
"A meu ver, o renascimento
nuclear é estimulado pela administração Bush, que deu subsídio forte [a essa energia]."
Segundo Goldemberg, para
que esse tipo de energia fosse
eficiente contra o aquecimento
global, seria necessária a construção de 400 reatores por ano.
"São dois novos reatores por
semana. Você está brincando."
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