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Rato raro é achado na Bahia após 183 anos
Espécie da mata atlântica tem só dois exemplares identificados até hoje
Roedor vive no Brasil sobre as árvores, pesquisadores querem agora que ele seja rotulado como animal "criticamente em perigo"
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo preso em uma armadilha, e morto sem ser fotografado, o rato-sauiá coletado a 20
km de Nova Viçosa, no sul da
Bahia, entrou para a história da
ciência. Ele está sendo considerado pelos pesquisadores um
dos mamíferos mais raros de
que se tem notícia no Brasil.
"Este animal havia sido descrito a partir de um único
exemplar coletado no começo
do século 19 e que hoje está empalhado em um museu na Alemanha", disse à Folha o biólogo Yuri Leite, responsável pela
captura da versão século 21 do
rato-sauiá (Phyllomys unicolor), o segundo exemplar da espécie visto até hoje no mundo.
A descrição desse novo indivíduo, que era jovem, está publicada na revista científica
"Zootaxa". Ele tinha 28,5 cm de
comprimento e pesava 73 gramas. "A armadilha estava em
um tronco de árvore, perto de
um córrego", explica o pesquisador da Ufes (Universidade
Federal do Espírito Santo).
A espécie, apesar de ser da
mata atlântica, deve viver, provavelmente, em áreas já bem
degradadas, o que talvez possa
explicar sua raridade. "Isso
mostra a importância biológica
das áreas alagadas próximas à
mata atlântica e nem tão exuberantes e chama a atenção para a falta de unidades de conservação naquela região do
Brasil", explica Leite, da Ufes.
O esforço de captura do rato-sauiá, lembra o pesquisador, foi
grande. Em sete expedições feitas pela região, a mesma onde o
primeiro indivíduo havia sido
coletado em 1824 e levado para
a Alemanha, o raro mamífero,
que tem o hábito de viver sobre
as árvores, apareceu apenas em
uma. E no alto, a 1,5 metro da
superfície, onde estava a armadilha científica.
Com a redescoberta do rato,
que na verdade já poderia ter
sido dado como extinto porque
há mais de 50 anos não era encontrado, os pesquisadores pedem uma nova classificação de
risco para ele.
"Nós propomos que o rato-sauiá seja listado globalmente
como "criticamente em perigo"
pela União Mundial da Natureza", explica Leite. A instituição
que o cientista menciona é a
responsável por monitorar a
perda de biodiversidade mundial com suas listas.
Olhar de mateiro
A descoberta científica, afirma Leite, contou com a contribuição dos mateiros locais,
acostumados com a fauna da
região. Alguns pesquisadores já
haviam achado que tinham visto o P. unicolor nos alagados da
região do sul da Bahia.
"O problema é que existe
uma espécie muito parecida
(os olhos do leigo não conseguem diferenciar uma da outra), a P. pattoni, que sempre
acabava gerando confusão."
Segundo Leite, depois de
anos de procura, quando ele estava observando um P. pattoni,
um morador da região virou
para ele e disse: "Mas aqui tem
um outro rato também que é
diferente desse."
A partir daquela suspeita, é
que os esforços de coleta voltaram a ser intensificados.
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