São Paulo, sábado, 08 de dezembro de 2007

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Rato raro é achado na Bahia após 183 anos

Espécie da mata atlântica tem só dois exemplares identificados até hoje

Roedor vive no Brasil sobre as árvores, pesquisadores querem agora que ele seja rotulado como animal "criticamente em perigo"

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo preso em uma armadilha, e morto sem ser fotografado, o rato-sauiá coletado a 20 km de Nova Viçosa, no sul da Bahia, entrou para a história da ciência. Ele está sendo considerado pelos pesquisadores um dos mamíferos mais raros de que se tem notícia no Brasil.
"Este animal havia sido descrito a partir de um único exemplar coletado no começo do século 19 e que hoje está empalhado em um museu na Alemanha", disse à Folha o biólogo Yuri Leite, responsável pela captura da versão século 21 do rato-sauiá (Phyllomys unicolor), o segundo exemplar da espécie visto até hoje no mundo.
A descrição desse novo indivíduo, que era jovem, está publicada na revista científica "Zootaxa". Ele tinha 28,5 cm de comprimento e pesava 73 gramas. "A armadilha estava em um tronco de árvore, perto de um córrego", explica o pesquisador da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo).
A espécie, apesar de ser da mata atlântica, deve viver, provavelmente, em áreas já bem degradadas, o que talvez possa explicar sua raridade. "Isso mostra a importância biológica das áreas alagadas próximas à mata atlântica e nem tão exuberantes e chama a atenção para a falta de unidades de conservação naquela região do Brasil", explica Leite, da Ufes.
O esforço de captura do rato-sauiá, lembra o pesquisador, foi grande. Em sete expedições feitas pela região, a mesma onde o primeiro indivíduo havia sido coletado em 1824 e levado para a Alemanha, o raro mamífero, que tem o hábito de viver sobre as árvores, apareceu apenas em uma. E no alto, a 1,5 metro da superfície, onde estava a armadilha científica.
Com a redescoberta do rato, que na verdade já poderia ter sido dado como extinto porque há mais de 50 anos não era encontrado, os pesquisadores pedem uma nova classificação de risco para ele.
"Nós propomos que o rato-sauiá seja listado globalmente como "criticamente em perigo" pela União Mundial da Natureza", explica Leite. A instituição que o cientista menciona é a responsável por monitorar a perda de biodiversidade mundial com suas listas.

Olhar de mateiro
A descoberta científica, afirma Leite, contou com a contribuição dos mateiros locais, acostumados com a fauna da região. Alguns pesquisadores já haviam achado que tinham visto o P. unicolor nos alagados da região do sul da Bahia.
"O problema é que existe uma espécie muito parecida (os olhos do leigo não conseguem diferenciar uma da outra), a P. pattoni, que sempre acabava gerando confusão."
Segundo Leite, depois de anos de procura, quando ele estava observando um P. pattoni, um morador da região virou para ele e disse: "Mas aqui tem um outro rato também que é diferente desse."
A partir daquela suspeita, é que os esforços de coleta voltaram a ser intensificados.


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