São Paulo, Domingo, 09 de Janeiro de 2000 |
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Gabriela Scheinberg
Novas drogas que combatem a impotência masculina foram a solução para o problema sexual de
muitos homens. Mas o mesmo não está acontecendo
com as mulheres. Embora haja hoje pesquisas que busquem medicamentos para tratar disfunções sexuais de
mulheres, os médicos sofrem com uma questão básica:
o orgasmo feminino permanece uma incógnita.
Goldstein avalia que muitas mulheres que têm o problema não procuram tratamento. "Isso pode ser consequência da falta de produtos disponíveis no mercado", avalia. "Falta muita pesquisa para entender a melhor forma de tratar as disfunções sexuais femininas." Celso Gromatzky, urologista do Hospital das Clínicas, diz acreditar que o ponto de divergência não está relacionado ao medicamento, mas sim aos estudos. Isso é provocado pela falta de conhecimento sobre a disfunção sexual feminina. "Por isso, fica muito difícil estabelecer um critério de inclusão de voluntárias para um estudo", diz. Assim como no homem, o Viagra não funciona em todos os casos de disfunção na mulher. Para saber se a droga funciona, seria necessário, primeiro, separar um grupo de mulheres que tem indicação para o remédio. "Como não se sabe ao certo as causas da disfunção sexual na mulher, fica difícil selecionar aquelas que poderiam ser tratadas com o Viagra", assinala Gromatzky. Remédio machista Embora drogas como o Viagra tenham trazido à tona a questão da sexualidade, as mulheres parecem ter sido esquecidas da discussão. E elas já reclamaram. Pouco depois de o Viagra ter sido lançado, um estudo nos Estados Unidos avaliou que a maioria das mulheres considerava o Viagra "machista" e preferia que seus maridos não o usassem. Talvez elas estivessem expressando um sentimento de exclusão. Afinal, quando as mulheres terão uma pílula para resolver seus problemas sexuais? Segundo especialistas, a questão da impotência é mais iminente nos homens. "A mulher pode ter relação sexual sem libido, desejo e excitação", diz Martins. O mesmo não acontece com os homens. "A incapacidade erétil é mais difícil para eles, que têm de lidar com uma sociedade machista, na qual a ereção faz parte da inclusão social", declara Almeida Claro. E o problema da impotência não pode ser escondido da mulher que, por sua vez, pode omitir a falta de orgasmo. "É impossível o homem não demonstrar que o órgão não funciona. Na mulher, não há esse problema", ressalta Abdo. No entanto, ela reconhece que há a necessidade de remédios para disfunção sexual. "Antes o mais importante para a mulher era o carinho e a intimidade com o parceiro. Hoje, isso mudou", diz Abdo. "Agora, às vezes o sexo para a mulher independe da questão afetiva." Ela avalia que, atualmente, algumas mulheres têm mais interesse em relações instáveis. "Elas procuram um relacionamento isolado, só pelo prazer." O fato de as disfunções sexuais na mulher serem menos evidentes não significa que elas não têm problemas. Dentre eles, o mais frequente é a falta de orgasmo, o que antigamente era conhecido como frigidez. Para uma mulher chegar ao orgasmo, é preciso passar por algumas etapas. A primeira é o desejo, um estímulo sexual que desperta a libido. Essa fase é seguida da excitação e do orgasmo. A última fase é o relaxamento. "Se alguma dessas etapas estiver bloqueada, não há orgasmo", assinala Abdo. Segundo ela, de 60% a 70% dos casos investigados pelo Prosex são referentes à falta de orgasmo. Em 30% dos casos, não há desejo e, em 10%, falta excitação. Ao longo da vida, 33% das mulheres terão falta de orgasmo. "Mas isso é temporário e depende do parceiro." Não se sabe ao certo quantas mulheres têm disfunções sexuais. Um estudo no Reino Unido e nos EUA indicou que 50% preferiam fazer compras a sexo. "Mas esse estudo não indica a realidade", afirma Almeida Claro. Mais importante do que não saber quantas mulheres têm disfunção sexual é entender as causas desse problema. Segundo Gromatzky, a maioria dos tratamentos que estão sendo testados para mulheres é baseada no que se conhece da fisiologia do homem. "A disfunção sexual na mulher é uma síndrome: tem várias causas desconhecidas", diz. A falta de orgasmo na mulher é provocada principalmente por problemas psíquicos. "Pode ser provocada por educação reprimida, vergonha ou falta de experiência", explica Gromatzky. Quando a causa não é psicológica, então se procura um problema fisiológico. No homem, a impotência está associada a problemas vasculares, cardíacos ou neurológicos. "Por isso, procuram-se as mesmas causas nas mulheres." Embora não haja hoje nenhuma droga aprovada para tratar a disfunção sexual em mulheres, os estudos continuam. Há duas linhas. A primeira, que vem se desenvolvendo rapidamente, usa drogas já conhecidas para homens. A segunda estuda as causas do problema para depois criar uma terapia. Para a primeira linha de pesquisa, vários estudos estão sendo conduzidos. No entanto, nenhum comprovou a eficiência do Viagra ou do Vasomax em mulheres. Há ainda um supositório de prostaglandina, substância que atua no sistema de excitação do homem. "Mais uma vez, os pesquisadores estão transpondo para a mulher o que se conhece do homem", afirma Gromatzky. Para ele, os bons resultados de estudos em mulheres são empíricos, e não científicos. Ele avalia ainda que, como as duas linhas de pesquisa estão andando em paralelo, estudos podem revelar, nos próximos anos, uma droga para mulheres, mesmo que a causa do problema não seja conhecida. Martins acredita que a melhor droga para as mulheres seria um remédio para despertar a libido. E mais. Ele afirma que, para os homens, essa "pílula do prazer" seria fundamental. "A ereção não aumenta a libido, nem o desejo, apenas melhora a qualidade da ereção", declara. Sem libido, com o tempo, os homens que hoje comemoram a ereção com o Viagra perderão a vontade de tomar remédio, considera Martins. "O laboratório que descobrir como despertar a libido ganhará pilhas de dinheiro." De janeiro a novembro de 1999, a Pfizer, fabricante do Viagra, lucrou US$ 31,5 milhões com o produto só no Brasil. Próximo Texto: Como funciona o Viagra Índice |
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