|
Texto Anterior | Índice
ENTOMOLOGIA
Biólogos decifram canção de amor do mosquito da dengue
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
O que para humanos é um
zumbido irritante, para mosquitos é uma canção de
amor. Pesquisadores nos
EUA descobriram que, antes
do sexo, um casal de mosquitos Aedes aegypti -transmissores da dengue- ajusta
o batimento das asas para
produzir um zumbido na
mesma frequência sonora.
Os biólogos descobriram
que, quando sozinha, a fêmea "zumbe" batendo asas
na frequência de cerca de
400 Hz (hertz, ou vibrações
por segundo) e o macho voa
a 600 Hz. Aproximadamente, é como se fosse uma nota
sol e outra ré, na região central do piano. Mosquitos se
amando, porém, são mais irritantes, pois macho e fêmea
adotam uma frequência
mais aguda -um "harmônico", como é conhecido entre
os músicos. E o dueto do casal é "cantado" a 1.200 Hz, a
próxima nota ré à direita, seguindo a escala do piano.
"A sinalização acústica
evoluiu muitas vezes entre
insetos, como gafanhotos,
grilos e muitos outros como
um modo de facilitar o acasalamento. Em muitos insetos, a função de sinalização
deriva do bater das asas,
adaptada secundariamente
para isso", diz o líder da pesquisa, Ronald Hoy, da Universidade Cornell, de Ithaca,
Nova York. "Na nossa hipótese, a convergência harmônica é o resultado da seleção
sexual darwinista."
"O segredo é que a interação não se dá na frequência
fundamental, mas em harmônicos mais altos, e em frequências que se achava estarem além da sensibilidade
dos mosquitos", diz Hoy.
Outra bióloga, Lauren
Castor, montou o experimento. "Primeiro, eu fazia os
mosquitos ficarem lentos esfriando-os com gelo, e então
usava Superbonder para colar o mosquito na parte rombuda de um alfinete de inseto", contou. "Depois de colados, eles eram colocados em
um micromanipulador, que
eu usava para mover os mosquitos dentro e fora dos seus
campos auditivos [distância
a que conseguem se ouvir]."
Os cientistas descobriram
que os mosquitos ouvem
sons de até 2.000 Hz, bem
mais do que se imaginava.
Para isso, espetaram eletrodos com apenas um micrômetro de diâmetro na base
das antenas do animal para
medir impulsos nervosos.
A descoberta pode ser
aplicada agora no desenvolvimento de técnicas para
controle de pragas. Um método comum é o lançamento
de machos estéreis que copulam com as fêmeas e impedem que sejam fecundadas pelos machos naturais e
férteis. Sabendo as frequências dos zumbidos, é possível
criar um teste de aptidão para esses machos, pois o batimento das asas na frequência certa indicaria que eles
podem atrair fêmeas.
Texto Anterior: Balão da Nasa "escuta" ruído misterioso no cosmo Índice
|