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BRASIL NO ESPAÇO
Astronauta Pontes pousa no Cazaquistão
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Às 20h48 de ontem (hora de
Brasília), uma mensagem em russo aparecia na tela do centro de
controle da missão em Houston,
EUA: "Iest posádka!" ("temos
pouso!"). Terminava assim, com
uma aterrissagem segura na estepe do norte do Cazaquistão, a viagem espacial do tenente-coronel
Marcos Cesar Pontes, 43, primeiro astronauta brasileiro.
A cápsula Soyuz TMA-7 trazendo Pontes e seus dois companheiros, o russo Valery Tokarev e o
americano William McArthur,
pousou a cerca de 50 km da cidade de Arkalyk. O pouso aconteceu
conforme o previsto, numa madrugada fria (a temperatura no
momento da aterrissagem era de
-10C), sem vento e de céu estrelado. A equipe de resgate levou os
três astronautas para exames médicos. Em seguida, o trio foi despachado em um helicóptero para
Kustanai, cidade a 380 km a nordeste do local de pouso.
Os três seriam embarcados ainda nesta madrugada num avião
para a Cidade das Estrelas, perto
de Moscou. Ali, Pontes, Tokarev e
McArthur passarão por um período de recuperação. Os dois últimos residiram durante seis meses na ISS (Estação Espacial Internacional), e por isso terão uma recuperação mais longa.
"Obrigado, obrigado a todos",
disse o astronauta brasileiro depois que foi retirado da Soyuz.
Longe dali, em Bauru, a família do
tenente-coronel respirava aliviada ao ver que ele passava bem.
"Quando ele abriu o sorriso, a
gente [pensou]: "É o Marcos'",
disse a irmã de Pontes, Rosa.
Tanta tensão se explica: a aterrissagem é a fase mais crítica da
viagem espacial. Foi no pouso que
aconteceram os dois únicos acidentes fatais com as naves russas
Soyuz, em 1967 e 1971. A cápsula
entra na atmosfera a 28 mil quilômetros por hora, sendo freada pelo atrito, depois por pára-quedas
e, por fim, por retrofoguetes. Ao
tocar o solo, ela está a apenas 2
metros por segundo.
Adaptação
Viver longos períodos com a
sensação de ausência de peso
acarreta uma série de problemas
de saúde para um ser humano
-os músculos se enfraquecem, e
os ossos perdem calcificação, numa condição semelhante à da osteoporose, doença óssea que acomete pessoas idosas.
Em razão desses problemas, astronautas que passam longos períodos no espaço são obrigados a
cumprir, em órbita, uma série
exaustiva de sessões de exercícios
físicos. Para Pontes, no entanto,
que passou apenas dez dias em
órbita, o problema não é tão grave, nem exigiu ações tão drásticas.
A recuperação do astronauta
brasileiro, que deve durar oito
dias apenas, consiste principalmente na readaptação dos sistemas do corpo à condição de gravidade normal. O processo envolve
a redistribuição de líquidos no organismo e o restabelecimento do
senso de equilíbrio baseado nos
vestíbulos (interior dos ouvidos),
que não servem para muita coisa
no espaço -dependem da gravidade para funcionar.
O procedimento de resgate envolveu um avião, nove helicópteros e três carros. Todo o aparato é
necessário porque a Soyuz tem
uma precisão limitada em seu retorno à Terra -caindo em algum
ponto de uma região em forma de
elipse com 60 a 80 km de diâmetro, perto da cidade de Akralyk.
Colaborou Salvador Nogueira, da Reportagem Local
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