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BIOLOGIA
Descoberta facilita cultivo
Célula-tronco adulta age como embrionária
DA REDAÇÃO
A descoberta de que uma certa
proteína causa estranhos tumores
reversíveis em camundongos pode facilitar o cultivo de células-tronco adultas em laboratório, expandindo seu uso em terapias, dizem cientistas dos EUA.
Embora ainda não realize o
grande sonho dos pesquisadores
-descobrir células-tronco adultas que tenham o mesmo poder
de se transformar em qualquer tipo de tecido que as células embrionárias, evitando a controvérsia ética em torno da questão-, o
trabalho dos cientistas do Instituto Whitehead, em Cambridge
(Estado de Massachusetts), permite a multiplicação dessas células adultas em grande quantidade. Isso pode facilitar terapias que
usem células-tronco para reconstituir tecidos danificados.
"Isso poderia ser benéfico para
vítimas de queimadura", diz o
biólogo alemão Rudolf Jaenisch,
pesquisador do Whitehead e professor do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).
Em um estudo publicado na última edição do periódico científico "Cell" (www.cell.com), o grupo de Jaenisch, liderado por seus
alunos Konrad Hochedlinger e
Yasuhiro Yamada, descobriu que
as células-tronco adultas da pele
respondem a uma proteína conhecida como Oct-4.
Células-tronco têm a capacidade de se diferenciar em diversos
tipos de tecido. Células-tronco de
embriões são pluripotentes, ou
seja, podem virar virtualmente
qualquer outro tipo de célula.
Suas contrapartes presentes em
tecidos adultos perdem essa capacidade, podendo originar apenas
alguns tipos de célula. Ainda assim, têm um grande potencial de
uso em terapias.
A Oct-4, até agora, era conhecida por agir somente nos primeiros estágios do desenvolvimento
do embrião. Ela funciona como
um vigia, deixando as células embrionárias em seu estado indiferenciado -e mantendo, assim, a
imaturidade do embrião. Quando
o gene que traz a receita para a fabricação da Oct-4 é desligado, as
células embrionárias começam a
se diferenciar em coração, fígado,
ossos e neurônios, por exemplo.
Hochedlinger e Yamada estavam curiosos para saber o que
acontecia quando esse gene é religado em tecidos adultos. A aposta
dos cientistas era que o Oct-4 fosse um potente gene causador de
tumor, já que ele tem a capacidade de afetar o ciclo celular -e o
câncer nada mais é do que uma
anomalia nesse ciclo.
Tumor instantâneo
A dupla produziu camundongos geneticamente modificados
para ter o gene Oct-4 ligado em
suas células sempre que ingeriam
uma determinada substância.
O tal remédio era misturado à
água dos pobres roedores. Os
cientistas viram que, após períodos extremamente curtos -de
três a cinco dias-, os animais desenvolviam tumores. Então, eles
interromperam a administração
do remédio, fazendo com que o
Oct-4 fosse automaticamente
desligado. Espantosamente, os
cânceres sumiram nos animais.
Linguagem arcaica
Um exame nos animais doentes
revelou que as células que se multiplicavam de forma enlouquecida em presença da proteína Oct-4
eram justamente células-tronco.
De alguma forma, mesmo depois
de adultas, elas retêm a capacidade de compreender a "linguagem
química" falada pelo embrião, e
provocam o tumor justamente
por se replicar indefinidamente
sem produzir tecido maduro.
Mas o que é um problema sério
num organismo pode ser uma
bênção para cientistas que precisem cultivar células-tronco adultas em laboratório. Uma das dificuldades desse cultivo é a "vontade" inerente das células adultas de
amadurecer. A Oct-4 pode ser
usada para evitar que isso ocorra.
"Você pode remover a pele de
uma pessoa, isolar as células-tronco da pele e submetê-las a um
ambiente que ative a Oct-4", disse
Hochedlinger. "Isso faria com
que as células se multiplicassem e
se mantivessem células-tronco.
Como o processo é reversível, depois de ter uma massa crítica dessas células, você pode reinseri-las
na pessoa, onde elas produziriam
tecido saudável."
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