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Felipe Vieira/ Diário do Vale
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Interior da fábrica de combustível nuclear da INB em Resende, região Sul do Rio de Janeiro |
Usina de álcool pode capturar carbono
Sugestão foi apresentada por brasileiros membros do IPCC e poderia tornar etanol combustível de "emissão negativa'
Criar meta de redução do
desmatamento para evitar
liberação de gases-estufa
ainda é uma proposta sem
consenso entre cientistas
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
No momento em que se discute a redução da emissão de
gases do efeito estufa no mundo, o Brasil pode se beneficiar
de uma tecnologia de produção
de energia que não apenas diminui a emissão de CO2 como
também ajuda a reduzir a presença desse gás na atmosfera.
Ao debater ontem, num
evento do Fórum Brasileiro de
Mudanças Climáticas realizado na Coppe (Coordenação dos
Programas de Pós-Graduação
em Engenharia da UFRJ), as
conclusões do mais recente relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança
Climática), pesquisadores brasileiros que participaram da
elaboração do documento citaram como exemplo de tecnologia a ser incentivada no país a
técnica de captura e armazenamento de CO2 sob o solo.
Trata-se de uma tecnologia
que permite armazenar a mais
de 700 metros de profundidade o gás carbônico produzido
em algumas atividades.
Essa tecnologia foi citada no
relatório do IPCC, mas apontada como uma opção de mitigação (redução de emissões) ainda cara na maior parte dos casos. Ela pode ser utilizada, por
exemplo, em termelétricas a
carvão, mas de forma menos
eficiente. Sua aplicação no Brasil poderia ser feita na produção do álcool combustível a
partir da cana.
No processo de produção de
álcool, metade da massa é
transformada em combustível
e a outra metade vira CO2, que é
liberado. Para evitar que isso
aconteça, é possível capturá-lo
e imobilizá-lo debaixo da terra.
Isso pode ser feito, por exemplo, em lençóis aqüíferos salinos, que não são explorados
para consumo humano.
Segundo explicou José Roberto Moreira, do Centro Nacional de Referência em Biomassa da USP, para isso é preciso construir uma chaminé ligada a um sistema de bombeamento. No caso brasileiro, o
maior investimento seria identificar os lençóis, tarefa que poderia ser feita pela Petrobras.
Emílio La Rovere, do Programa de Planejamento Estratégico da Coppe, disse que uma característica do álcool brasileiro
é que, por ser uma fonte de
energia renovável produzida a
partir da cana-de-açúcar, ele
não contribui para o aumento
do CO2. O gás emitido é reabsorvido pelo crescimento da
cana na safra seguinte. A captura de carbono poderia tornar o
álcool um combustível de
"emissão negativa" -portanto,
ainda mais atraente do ponto
de vista ambiental.
Metas para Amazônia
No debate, os pesquisadores
Emílio La Rovere e Roberto
Schaeffer, ambos da Coppe, divergiram a respeito da proposta de fixar metas de desmatamento da Amazônia e levá-las
às negociações internacionais
sobre clima.
"Os níveis de desmatamento
são tão altos que, se você não tiver uma meta, não haverá como
medir se estamos cumprindo
nosso objetivo. O fato de ter
uma meta não quer dizer que
tenhamos que cumpri-la sozinhos. O país pode solicitar ajuda financeira internacional para cumprir seus objetivos", defendeu Schaeffer.
Para La Rovere, no entanto, a
definição de metas não seria
tão simples: "Acho muito complicado levar alguma meta de
desmatamento para negociações internacionais. O que temos de fazer é reduzir ao mínimo o desmatamento e acho justo que tenhamos incentivos financeiros de países industrializados para esse fim. A Amazônia presta serviços ambientais
para todo o mundo".
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