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Fuligem responde por um terço do aquecimento global
Carbono particulado que sai dos escapamentos dos carros e da fumaça das queimadas ganha peso no debate climático
Papel de poluente no clima
era incerto; São Paulo emite
mais fuligem por ano do
que todas as queimadas da Amazônia, estima cientista
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
A fuligem que sai dos escapamentos, das usinas termelétricas e das queimadas florestais
responde por aproximadamente um terço do aquecimento
global líquido. Amenizar o calor que ameaça ecossistemas e
a biodiversidade, portanto, pode ser mais fácil e mais barato
do que se imagina, afirmam
pesquisadores.
Novas estimativas, feitas por
vários grupos de pesquisa, estimam a importância de controlar o chamado carbono negro,
fruto de qualquer processo de
combustão.
A fuligem integra a classe dos
aerossóis, partículas cujo papel
no aquecimento e no resfriamento do planeta durante o século 20 é uma das principais incertezas do relatório do IPCC, o
painel do clima da ONU. Agora
os pesquisadores começam a
diminuir essa incerteza.
"Em São Paulo, a maior fonte
desse poluente é a frota de ônibus a diesel", diz Paulo Artaxo,
físico da USP (Universidade de
São Paulo), e membro do IPCC.
Nas contas feitas pela equipe
do cientista, a capital paulista
tem 20 vezes mais carbono negro em suspensão na sua atmosfera do que a Amazônia,
com todas as suas queimadas.
"Retirar esse tipo de carbono
é bom para o clima e para a saúde das pessoas." O que reforça a
importância, diz Artaxo, de que
exista vontade política para começar a melhorar o ar dos grandes centros urbanos.
Duas vezes mais rápido
Segundo o engenheiro ambiental Mark Jacobson, da Universidade Stanford (EUA), o
controle do carbono negro, em
uma década, pode frear o aquecimento global até duas vezes
mais rápido do que a redução
do gás carbônico.
Mas essa redução, ressalta,
será apenas temporária se não
vier acompanhada de um corte
efetivo nas emissões de CO2.
Este, no longo prazo, continua
sendo o maior responsável pelo
aquecimento global. Mas o carbono negro é o segundo, um
pouco à frente do metano.
"A redução da fuligem sozinha pode eliminar um terço do
aquecimento global líquido",
afirmou Jacobson à Folha. O
carbono negro também tem
um efeito resfriador, pois ajuda
a "semear" nuvens, que refletem a radiação para o espaço.
Em 2007, o pesquisador
apresentou um plano ousado
ao Congresso dos EUA. Pelas
contas do cientista, é teoricamente factível construir e instalar 122 mil turbinas eólicas
para movimentar toda a frota
veicular do país por eletricidade. O esforço, no entanto, demandaria "apenas" trocar toda
a frota americana por veículos
elétricos a hidrogênio.
Essa ação, diz Jacobson, reduziria em aproximadamente
7% ao ano o impacto antrópico
(causado por atividades humanas) sobre o aquecimento global. O cientista, claro, não calculou custos nem deu prazo
para a troca.
No caso brasileiro, diz Artaxo, nem mesmo o carro a álcool
está livre de emitir fuligem sufocante. "Toda combustão lança carbono negro no ar. O motor a álcool emite menos. O
carro a gasolina, dez vezes
mais, e o a diesel, cem vezes
mais do que o a gasolina", diz o
físico. Valores mais precisos
dependem do tipo exato de veículo e o combustível colocado
para encher o tanque.
Enquanto os cientistas refinam o impacto global do carbono negro, no Ártico, os dados
estão mais consolidados.
Estudo da Nasa publicado
em abril, na revista "Nature
Geoscience", mostra que o poluente respondeu por 50% do
aquecimento entre 1890 e
2007. Nesse período, os termômetros subiram, em média,
1,9C naquela região.
Na neve está o outro efeito
perverso do carbono negro. A
fuligem negra sobre ela também absorve calor, acelerando
o derretimento do gelo.
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