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OPINIÃO
Parlamentar comunista vira ideólogo da bancada ruralista
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Em 43 páginas de um relatório dedicado "aos agricultores brasileiros", Aldo Rebelo martela uma só mensagem: a proteção ambiental é
uma invenção dos "estrangeiros" para condenar o Terceiro Mundo à pobreza.
O nacionalismo do deputado do PC do B era a base intelectual que faltava à bancada ruralista para emplacar a
"flexibilização" do Código
Florestal. Bons de pressão,
mas ruins de ideologia, os ruralistas tentam há quase uma
década mudar a lei florestal.
Político experiente e de base urbana, Aldo dá um verniz
erudito à grita primal por
mais produção e menos legislação. Cita Graciliano Ramos, José Bonifácio, Malthus. Mas seu relatório resvala para o humor involuntário.
Pede, por exemplo, a naturalização da jaca, uma vez
que essa espécie chegou ao
Brasil no século 17 -não deveria mais ser "exótica".
Acusa o Greenpeace e a
Holanda de conspiração para ressuscitar a era Nassau.
Não acredita? Ao relatório:
"O sonho batavo de uma
Holanda Tropical foi desfeito
tragicamente nos montes
Guararapes (...) Despojada
do poder militar e comercial
de antigamente, a Holanda
se compraz em sediar e financiar seus braços paramilitares, as inevitáveis ONGs".
(Como ensina Warren
Dean no clássico "A Ferro e
Fogo", a tese da conspiração
internacional para frear o desenvolvimento do Brasil é velha. Ela foi usada já nos anos
1950 para justificar a grilagem das florestas do Pontal
do Paranapanema.)
Mas é em sua invectiva
contra a mudança climática
que o relatório se supera.
Confunde aquecimento
global com buraco na camada de ozônio; dispara contra
os países ricos pelos cruéis
"mecanismos de desenvolvimento limpo", ignorando
que estes são uma invenção
brasileira; e evoca uma "certeza" que nunca houve sobre
um "resfriamento global".
Além de uma consultora
do agronegócio, o deputado
bem poderia ter contratado
um assessor científico.
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