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TECNOLOGIA
Grupo nos EUA capta intenção de símios com eletrodos e espera que método permita criar próteses inteligentes
Computador lê pensamentos de macaco
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Última novidade na incansável
busca pelo macaco ciborgue: pesquisadores trabalhando com símios no Caltech, o Instituto de
Tecnologia da Califórnia, desenvolveram um método para ler
seus pensamentos e intenções no
nível mais elementar.
A esperança dos cientistas é que
um dia as pesquisas levem ao desenvolvimento de próteses robóticas capazes de obedecer aos comandos mentais de usuários humanos, o que poderia melhorar
muito a vida de deficientes físicos.
O conceito lembra os ciborgues,
palavra surgida do inglês como
contração da expressão "cybernetic organisms" -seres que combinam funcionalmente tecidos
orgânicos a peças tecnológicas.
A área de pesquisa ficou famosa
após os sucessos da equipe de Miguel Nicolelis, médico brasileiro
que trabalha na Universidade Duke, Carolina do Norte, EUA.
Começando em 2000, seu grupo
fez com que macacos localizados
em seu laboratório conseguissem
movimentar braços robóticos como se fossem seus. Detalhe: a prótese estava localizada no MIT
(Instituto de Tecnologia de Massachusetts), e os sinais mentais do
macaco foram enviados para lá
em tempo real, via internet.
O mais novo avanço não teve a
participação do pesquisador brasileiro e, numa primeira olhada,
nem parece ser lá grande coisa.
Na prática, o que o grupo do Caltech fez foi conseguir que três macaquinhos movessem um cursor
numa tela usando apenas seu
pensamento. Até aí, Nicolelis já
havia conseguido fazer seus símios jogarem até videogame.
A diferença está no tipo de sinal
que cada um dos grupos procurava no cérebro dos animais. Enquanto a equipe liderada pelo
brasileiro procurava detectar os
disparos de neurônios que codificavam o movimento almejado
pelo macaco, o grupo do Caltech
foi à caça dos sinais neuroniais
que registravam a intenção, a meta final do bicho ao se mover.
"Por exemplo, um sinal de meta
indica a intenção de agarrar uma
maçã, enquanto um sinal de trajetória indicaria a direção pretendida do movimento da mão durante o agarramento", escrevem Richard Andersen e seus colegas,
num estudo publicado hoje no
periódico científico "Science"
(www.sciencemag.org).
Para Andersen, as duas estratégias, a de detectar a intenção e a de
detectar o movimento, serão úteis
na hora de criar braços robóticos.
"Definitivamente, elas são complementares", disse o cientista à
Folha. "Quanto mais sinais obtivermos, melhor será o resultado."
Os sinais mentais dos macacos
foram coletados com o auxílio de
eletrodos implantados cirurgicamente em uma região do cérebro
conhecida em "neurologuês" como a área medial intraparietal.
No experimento, conforme os
neurônios disparavam, os sinais
eram captados pelos eletrodos e
enviados a um computador, que
os processava. Inicialmente, os
macacos eram estimulados a
apontar para uma figura surgida
na tela, para que o computador
pudesse identificar os padrões de
atividade cerebral ligados ao planejamento desse movimento.
Num segundo momento, os
pesquisadores executaram um
teste em que o macaco atinge o alvo sem realmente mover o braço,
apenas planejando o movimento.
O sinal é detectado pelo computador e a máquina reage como se o
macaco tivesse tocado a tela, sem
que o animal chegue a fazê-lo.
Além de codificar a intenção do
macaco, os pesquisadores descobriram que podiam medir também sua intensidade. Viram, por
exemplo, que os neurônios apresentavam um sinal mais forte
quando o símbolo mostrado na
tela indicava que o macaco iria receber uma recompensa de sua
preferência, como um boa quantidade de suco de laranja.
Ao comprovar que sinais cerebrais mais elementares -que denotam objetivos e intenções-
podem ser decodificados com sucesso, os pesquisadores do Caltech abriram a porta não só para o
futuro desenvolvimento de próteses inteligentes, mas para usos
ainda mais sofisticados de processamento de informação cerebral.
"Essa pesquisa sugere que todos
os tipos de sinal cognitivo de pacientes podem ser decodificados", concluíram os cientistas.
"Por exemplo, gravar pensamentos de áreas da fala [no cérebro]
poderia aliviar o uso de teclados
incômodos e programas lentos de
soletração, e gravações de centros
emocionais poderiam oferecer
uma indicação on-line do estado
emocional de um paciente."
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