São Paulo, sábado, 09 de julho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

"Tecnologia nuclear não é apenas energia", diz novo chefe da Cnen

Para especialista, Dilma decidirá sobre novas usinas nucleares

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

Especialista em materiais para reatores atômicos e professor da Poli-USP, Angelo Padilha defendeu a "essencialidade da tecnologia nuclear para a humanidade" ao tomar posse na presidência da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear).
Em discurso anteontem e em entrevista à Folha, Padilha quis enfatizar que a utilidade da tecnologia vai além da produção de energia nuclear, que está sendo questionada depois do acidente na usina de Fukushima, no Japão, em 11 de março.
Ele evitou opinar sobre se o Brasil deve ou não construir novas usinas nucleares além de Angra 3. Mas afirmou que é favorável à criação de uma agência reguladora nuclear, que assumiria atividades de licenciamento e fiscalização hoje exercidas pela Cnen.
Padilha, 59, substituiu Odair Dias Gonçalves, professor da UFRJ, que estava no cargo desde 2003. Abaixo, trechos da entrevista.

 

FOLHA - O sr. toma posse quando se questiona do futuro da energia nuclear. O governo não decidiu se fará novas usinas além de Angra 3. Como vê esse debate?
Angelo Padilha -
Sempre que acontece um acidente das proporções de Fukushima, é horrível para a população local e, para os programas nucleares, é uma oportunidade de reavaliação. Os engenheiros trabalham nas causas e nas soluções.
Já aconteceu depois de Three Mile Island (1979, EUA), de Tchernobil (1986, Ucrânia). É natural.

Qual é a sua posição?
A parte de geração de energia é do Ministério de Minas e Energia. A decisão não tem a ver diretamente com a Cnen. Por coincidência e também por sorte, uma das maiores especialistas em energia do mundo é a presidente Dilma Rousseff. A decisão de quantos novos reatores teremos ou não está em boas mãos.

O acidente justifica um recuo?
Já temos algumas decisões. Tem a da Alemanha [de desativar suas usinas em prazo de 11 anos], que é predominantemente política e não técnica. Outros países, como a China, estão mantendo.
O Brasil está numa situação confortável porque nossa matriz energética permite várias outras alternativas. A presidente já se manifestou sobre isso, falou em construir novas hidrelétricas.
A decisão poderá ter consequências para atividades em que a Cnen tem peso, como a produção de combustível nuclear, a exploração das minas de urânio.
A tecnologia nuclear não é só produção de energia, que no Brasil é proporcionalmente pequena. Tem a área de radioisótopos. Cerca de 3 milhões de brasileiros se beneficiam de radioisótopos por ano, produzidos na Cnen.
A Cnen tem atividades de fiscalização e licenciamento, que continuam. A Cnen explora os minerais nucleares, como urânio, tório, terras raras. Isso também continua.
Para o reator multipropósito, que produzirá radioisótopos [usados em exames de imagem], há a intenção de fazer um projeto com a Argentina. A implantação do reator multipropósito brasileiro é a prioridade do MCT [Ministério de Ciência e Tecnologia].

E a parceria com a Argentina?
O acordo com a Argentina não é em função da nossa incapacidade técnica. Quem coordenou o projeto do reator para o submarino é o mesmo coordenador do reator multipropósito, que é o engenheiro José Augusto Perrota [diretor de projetos especiais do Instituto de Pesquisas Nucleares e Energéticas].
Vamos somar experiências. Na área nuclear temos uma interação muito boa com a Argentina. Não é um jogo São Paulo x Boca Juniors.
Existe a proposta de divisão da Cnen, em que a atividade de fiscalizar e regular iria para uma agência, deixando a Cnen só com pesquisa e desenvolvimento. Qual a sua posição?
A criação da agência reguladora nuclear é um consenso na comunidade científica. Diria é irreversível, necessária. Nós já temos um projeto inicial, que considero razoável. Ele foi entregue ao MCT, e já começou a receber críticas e sugestões. Preciso coletar essas sugestões, fazer uma nova proposta, que deve ser discutida novamente, para termos um projeto bom.

O sr. então é a favor? A Cnen perderá atribuições...
Sou a favor. O que interessa é que o país ganha, não se o poder do presidente da Cnen aumenta ou diminui.

FOLHA.com
Confira a íntegra em
www.folha.com.br/ci941143


Texto Anterior: Último ônibus espacial da Nasa decola com sucesso
Próximo Texto: Raio-X: Angelo Padilha
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.