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Corte cuidadoso poupa biodiversidade
Variedade de vertebrados e invertebrados na Amazônia pode ser preservada mesmo com extração madeireira, diz estudo
Número de espécies de aves,
aranhas e formigas chegou
a aumentar com extração
modesta; efeito a longo
prazo tem de ser estudado
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
A Amazônia não precisa ser
transformada numa gigantesca
e intocável reserva florestal para que sua biodiversidade seja
preservada, sugere um novo estudo. A extração de madeira, se
feita de forma criteriosa e com
baixo impacto, aparentemente
afeta muito pouco a riqueza de
espécies e a quantidade de invertebrados e vertebrados da
maior floresta do planeta.
As conclusões vêm de um levantamento feito por pesquisadores do Ipam (Instituto de
Pesquisa Ambiental da Amazônia) em três fazendas do Pará.
"O importante desse trabalho é
que ele mostra uma alternativa
econômica para a Amazônia
baseada no manejo florestal, algo melhor do que simplesmente fazer um corte raso na floresta e colocar gado em cima", declarou à Folha a bióloga Claudia Azevedo-Ramos, coordenadora de pesquisas do Ipam.
O estudo de Azevedo-Ramos
e seus colegas Oswaldo de Carvalho e Benedito do Amaral está na edição deste mês da revista científica "Forest Ecology
and Management". Nas três fazendas que eles estudaram, tocadas por duas companhias
madeireiras, a exploração da
floresta fica, em média, por volta dos 19 metros cúbicos por
hectare, índice baixo para matas manejadas na Amazônia.
"Trata-se da primeira avaliação do efeito da exploração madeireira com técnicas de impacto reduzido sobre a fauna
amazônica realizada em larga
escala, num total de 23 mil hectares, e no "mundo real", isto é,
em área de exploração comercial", afirma a bióloga.
Além da retirada modesta
(equivalente a duas ou três árvores por hectare), esse tipo de
exploração também pressupõe
um inventário detalhado das
árvores da propriedade, a retirada prévia de cipós e o planejamento das estradas. Adotando esses cuidados, a empresa
tem direito a um selo ambiental, que permite alcançar mercados diferenciados.
Treino intensivo
Para ampliar ao máximo o alcance da pesquisa, a equipe
treinou os mateiros das próprias fazendas para recolher
dados. Muitos já tinham conhecimento apurado da fauna
da região. Os invertebrados
(formigas e aranhas) foram recolhidos em armadilhas cheias
de uma mistura de álcool e detergente, enquanto os vertebrados (aves e mamíferos) tinham suas aparições anotadas
pelos mateiros. A abundância e
variedade de espécies foi registrada antes do corte seletivo e
seis meses depois dele.
O resultado foi dos mais animadores: das espécies originais, poucas (entre 3% e 15%)
não apareciam no local depois
do corte, e o número total de espécies chegou a aumentar para
aranhas, formigas e aves.
"De certo modo, isso não é
tão absurdo quanto parece,
porque as espécies associadas a
clareiras ou à borda da mata
passam a ter mais ambiente
disponível", diz o biólogo Alexandre Padovan Aleixo, especialista em ecologia de aves do
Museu Paraense Emílio Goeldi. Para ele, porém, o aumento
de diversidade pode não ser necessariamente bom. "É preciso
cuidado. Você pode perder justamente as espécies endêmicas
[exclusivas de determinado lugar], que não sobrevivem na região perturbada."
Ele aponta também as condições ideais das regiões estudadas, onde a área explorada está
cercada por mata virgem. Isso
permitiria que animais das regiões vizinhas recolonizassem
facilmente o trecho em que
houve derrubada. "Será que isso é sustentável, até do ponto
de vista econômico? Ainda é cedo para dizer", afirma ele.
Para Azevedo-Ramos, a viabilidade econômica desse tipo
de exploração tem de ser ressaltada. "O gasto inicial exigido
para planejar a exploração é
maior, mas depois disso a empresa sabe exatamente onde
estão as árvores mais valiosas e
as explora com mais precisão."
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