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VLS-1
Técnicos sabiam de descargas que haviam danificado medidores e que devem ter acionado dispositivos para "ligar" motor
Foguete já tinha enfrentado pane elétrica
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os técnicos envolvidos na campanha de lançamento do VLS-1 já
sabiam da ocorrência de problemas elétricos na plataforma do foguete antes do acidente que matou 21 pessoas no Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, no dia 22 de agosto.
Segundo a Folha apurou, queimas nos transdutores de pressão
(os medidores de pressão dos motores do veículo) já haviam acontecido sem intervenção humana,
antes da catástrofe, o que evidencia a passagem de corrente elétrica pelo foguete e pela plataforma.
Segundo relato de funcionários
do IAE (Instituto de Aeronáutica
e Espaço), responsável pelo projeto do Veículo Lançador de Satélites, o foguete, assim como a plataforma, estava dando "choque elétrico" em quem os tocasse.
Os dispositivos medidores de
pressão perdidos não constituíam
ameaça e até chegaram a ser substituídos, mas a mesma eletricidade que os danificou poderia causar um acidente mais grave caso
afetasse os dispositivos pirotécnicos, que fazem com que o foguete
inicie a queima do combustível.
Dispositivo pirotécnico
Desde os primeiros dias da investigação, o ministro da Defesa,
José Viegas, já declarava que a
principal suspeita sobre a ignição
de um dos propulsores do VLS-1
recaía na indução de uma corrente elétrica capaz de acionar um
dos dispositivos pirotécnicos.
A ignição prematura de um dos
propulsores do primeiro estágio
levou à sucessiva queima dos demais compartimentos do lançador, que abrigava 41 toneladas de
combustível sólido, cuja queima
não pode ser interrompida.
O protocolo de segurança dita
que a instalação dos iniciadores
pirotécnicos deve ser a última
operação na preparação do foguete. Mas a norma não foi seguida: dois dos motores do primeiro
estágio já estavam com seus dispositivos instalados quando três
equipes do CTA (Centro Técnico
Aeroespacial, organização-mãe
do IAE, ligado à Aeronáutica) trabalhavam na plataforma. Os demais iniciadores seriam instalados na tarde do dia do acidente.
Os trabalhos seriam encerrados
às 16h da sexta-feira. No sábado
haveria um churrasco e no domingo seria iniciada a contagem
regressiva do lançamento, marcado para 25 de agosto, que por
coincidência era Dia do Soldado.
A principal suspeita sobre o que
teria causado os problemas elétricos na plataforma recai atualmente sobre a manutenção da pintura,
conduzida antes do início da campanha de lançamento. Foram
usados jatos de areia para remover corrosão e restos de tinta, e o
processo pode ter causado algum
dano à rede elétrica, como o aterramento dos sistemas.
Até agora, a comissão de investigação estabelecida pela Aeronáutica não se manifestou sobre
os detalhes que levaram à causa
do acidente, embora o ministro
Viegas e o brigadeiro-do-ar Tiago
Ribeiro, que coordenava a operação em Alcântara, já tenham descartado atos de sabotagem ou falha humana por parte de alguma
das vítimas do incêndio.
Além dos membros da Força
Aérea, a comissão terá cinco especialistas russos e quatro representantes externos, provenientes da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), da Sociedade Brasileira de Física (SBF),
da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e das famílias das vítimas.
Falhas repetidas
Ouvido pela Folha, um engenheiro do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que
pediu para não ser identificado
disse acreditar que os cientistas
russos, com larga experiência em
foguetaria, não terão dificuldades
em identificar as causas do acidente, nas circunstâncias dadas.
Caso houvesse um lançamento,
seria a terceira tentativa de usar
um protótipo do VLS-1 para colocar um satélite em órbita. As duas
primeiras, realizadas em 1997 e
1999, terminaram em fracasso,
por conta de falhas nos dispositivos pirotécnicos do primeiro e do
segundo estágios, respectivamente. Como os veículos já estavam
em vôo quando os defeitos ocorreram, não houve riscos para o
pessoal em terra.
Nos planos originais do lançador, quatro vôos de qualificação
estavam previstos. A próxima
tentativa está prevista para 2006,
antes do final do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Com as perdas materiais e humanas, torna-se muito difícil atingir essa meta, mesmo com o aumento de recursos para o programa. Os ministros Roberto Amaral
(Ciência e Tecnologia) e José Viegas já pediram R$ 130 milhões
adicionais no Orçamento para alcançar esse objetivo.
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