São Paulo, sexta-feira, 09 de novembro de 2001

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BIOLOGIA

Grupo explica tática do parasita para ocupar fígado

Verme da esquistossomose vigia células de defesa para sobreviver

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisadores nos EUA descobriram mais uma tática de infecção do verme causador da esquistossomose que permite a esse parasita sobreviver longos anos no interior do organismo humano.
Os vermes se aproveitam de um pequeno conjunto de células de defesa do próprio organismo presentes no fígado para modular o seu próprio desenvolvimento, adaptando seu ciclo reprodutivo ao estado de saúde do doente. Com isso, eles evitam causar danos desnecessários, que poderiam matar a pessoa precocemente, pois ela é o "hospedeiro" de que precisam para se perpetuar.
A esquistossomose é uma doença endêmica em regiões do Extremo Oriente, no Egito e no Brasil. É causada por um verme do gênero Schistosoma. O ciclo da infecção inclui o desenvolvimento da larva do verme em moluscos de água doce. Depois de saírem desse hospedeiro, podem infectar o ser humano penetrando a pele. Causam danos principalmente ao fígado. Seus ovos vão para o intestino e são expelidos pelas fezes.
A pesquisa foi feita pela equipe liderada por James McKerrow, do Veterans Affairs Medical Center, de São Francisco, Califórnia, e está relatada na edição de hoje da revista científica "Science" (www.sciencemag.org).
Esses parasitas podem viver por décadas no organismo de infectados. É no fígado que passam a parte crítica do seu ciclo de vida.
Os pesquisadores notaram que a produção de ovos pelos parasitas demorava mais tempo e era menor em camundongos que não tinham no fígado as células de defesa do tipo linfócitos T CD4+.
Sem os sinais bioquímicos dessas células, o parasita como que "paralisa" seu desenvolvimento, reconhecendo que sua ausência indica que o hospedeiro está com o organismo debilitado.
O resultado é o aparecimento de uma forma atenuada de parasita, o que prolonga a sobrevivência tanto do hospedeiro quanto do verme. A descoberta pode ajudar a explicar por que doentes portadores de Aids e também infectados por esses vermes têm menos ovos do parasita nas fezes.


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