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Ebola matou até 5.500 gorilas na África
Aliada à caça, epidemia pode extinguir animais; plano de vacinação esbarra em dificuldades técnicas
DENISE GRADY
DO "NEW YORK TIMES"
O vírus ebola matou entre
3.500 e 5.500 gorilas em uma
região da República do Congo
entre 2002 e 2006, e sua propagação contínua, ao lado da caça,
pode extingüir a espécie, afirma estudo na edição de ontem
da revista "Science".
"Muitos animais estão morrendo", afirma o ecólogo Peter
Walsh, do Instituto Max Planck
de Antropologia Evolutiva, em
Leipzig (Alemanha), um dos
autores do trabalho. "Há um
declínio maciço."
Diversas vacinas contra o
ebola desenvolvidas recentemente funcionam em animais
de laboratório, incluindo macacos, e Walsh está ansioso para
testá-las em gorilas selvagens.
O imunizante pode ser injetado
nos animais com dardos ou colocado em sua comida. Ao perseguir a disseminação do vírus
e vacinar animais que estão em
seu caminho, pode ser possível
deter os surtos, afirma.
Outros pesquisadores afirmam que, apesar de a vacinação poder ser viável, ainda não
se sabe se a imunização pode
ser produzida em uma forma
resistente ao calor ou que funcione via oral. Além disso, haveria um mar de burocracia para atravessar, envolvendo vários grupos conservacionistas,
doadores e governos.
Stuart Nichol, biólogo molecular da divisão de patógenos
especiais do CDC (Centro de
Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) afirma que será
um "pesadelo" tentar implementar um programa de vacinação. "Não parece bom sentar-se e não fazer nada, mas na
realidade será tremendamente
difícil fazer algo", diz.
Os autores do trabalho estudam os gorilas-ocidentais (Gorilla gorilla) -espécie distinta
dos gorilas-orientais (Gorilla
beringei)- desde 1995 no Santuário Lossi, no noroeste da República do Congo, perto do Gabão. Em 2002, após surtos da
doença em humanos causados
pela linhagem Zaire do ebola,
os pesquisadores começaram a
achar gorilas mortos. Ao longo
de alguns meses eles encontraram 33, testaram 12 para o ebola e encontraram o vírus em nove deles. De outubro de 2002 a
janeiro de 2003, 130 dos 143 gorilas que eles estudavam simplesmente desapareceram. As
perdas continuaram depois.
Apenas quatro de 95 gorilas sob
observação entre outubro de
2003 e janeiro de 2004 restaram após uma morte em massa.
Muitos chimpanzés na região
também morreram.
No início, alguns pesquisadores questionavam se era realmente o ebola que estava matando os gorilas, uma vez que
poucas carcaças tinham sido
submetidas a testes. Nichol diz
que gostaria de ter visto mais
testes, mas afirma que acredita
nos resultados do grupo e reconhece que obter amostras é um
trabalho difícil e perigoso.
A região é uma selva densa,
gorilas machos atacam humanos que se aventuram muito
perto e as carcaças infectadas
são altamente contagiosas. Para coletar amostras, os cientistas tem de usar trajes herméticos especiais e filtros de ar.
Apesar de gorilas serem caçados por sua carne mesmo em
reservas ecológicas, os autores
afirmam que a atividade de caça na região não é suficiente para explicar tantas mortes entre
2002 e 2005 na região. E eles
ainda afirmam que a estimativa
de 3.500 a 5.500 é conservadora. Walsh diz que seu "chute
calculado" é de que o ebola tenha matado um quarto dos gorilas do mundo desde 1992.
Caça ao hospedeiro
Gorilas e chimpanzés são os
parentes mais próximos dos
humanos e, assim como as pessoas, são fatalmente vulneráveis ao ebola, que mata por hemorragia e choque. A maneira
com que o ebola se transmite,
porém, ainda não é conhecida
em detalhes.
Cientistas supõem que, os
macacos devem contrair o vírus de outro animal que age como um hospedeiro natural e
carrega o vírus sem ser morto.
Morcegos frugívoros são suspeitos, mas nunca se encontrou
um que fosse hospedeiro, diz
Nichol. Não se sabe ainda se a
infecção passada de um gorila a
outro tem papel importante na
epidemia.
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