São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2007

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"Mapa do caminho" já tem seu primeiro rascunho

Prévia do texto que vai guiar ações pós-Kyoto precisa superar desvio de rotas

Esboço sugere que nações ricas reduzam suas emissões entre 25% e 40% até 2020, mas ainda há resistências de vários países em Bali

CLAUDIO ANGELO
ENVIADO ESPECIAL A BALI

"Não cozinhe o clima". A frase, estampada num termômetro gigante no Centro Internacional de Convenções de Bali, é ironicamente cruel para quem chega ao local sob um sol de 32C e uma umidade do ar de 97%. Mas ontem, no final da primeira semana de negociações na COP-13, a conferência do clima de Bali, ela serviu para reforçar um alerta: o "mapa do caminho", o esboço de negociação do regime climático que vai entrar em vigor após Kyoto, ainda precisa superar alguns desvios de rota.
Um rascunho do mapa circulou ontem em Bali. Ele reconhece que, para evitar os piores efeitos da mudança climática, os países industrializados (o chamado Anexo 1) precisarão reduzir suas emissões entre 25% e 40% até 2020. O texto diz ainda que as emissões globais de gases-estufa precisam chegar ao pico em 10 ou 15 anos, para depois então cair para "muito menos que a metade" dos níveis de 2000, até 2050.
Reconhece também que os esforços feitos hoje para implementar a Convenção do Clima são insuficientes para resolver o problema do aquecimento global, do qual as evidências científicas são "inequívocas". Mas sua aprovação pelos ministros que chegam nesta semana a Bali para o segmento de alto nível da COP, que começa na quarta-feira, ainda enfrenta resistências de vários países.
Desta vez, os Estados Unidos não levam a culpa sozinhos. O Canadá tem se manifestado contra aprofundar as metas obrigatórias de redução de emissões dos países ricos caso os países em desenvolvimento não assumam metas também. A posição canadense foi revelada num documento confidencial da delegação que vazou para ambientalistas e que valeu ao Canadá o seu segundo "Fóssil do Dia" consecutivo ontem -prêmio concedido ao país que mais bloqueia as negociações na conferência em Bali.
O Japão também tem tentado propor alternativas ao Protocolo de Kyoto que contornem a adoção de metas nacionais. Tampouco concorda com o reforço do regime de punição a quem descumprir suas metas. A Austrália chegou a concordar com metas de 25% a 40% de redução de emissões até 2020 para países industrializados, só para voltar atrás nessa posição algumas horas depois.

Vai-e-vem
A União Européia, geralmente vista como a heroína do clima, manteve um proverbial silêncio sobre metas durante as plenárias, embora nos corredores seus delegados digam que estão fazendo tudo o que podem para garantir um novo acordo completo e forte para quando o Protocolo de Kyoto expirar, em 2012.
Tantas idas e vindas são esperadas numa negociação complexa na qual setores importantes da economia de vários países podem ser afetados. Mas os ambientalistas temem que esses conflitos possam levar a uma diluição do chamado "mandato de Bali", já que há muito mais coisas a decidir do que tempo para negociar -e assuntos sobre os quais houver impasse poderão acabar sendo resolvidos no pior estilo Nações Unidas, ou seja, enfraquecendo o texto final do acordo.

Impasse do RED
Um dos impasses vistos no final da primeira semana é justamente a questão da redução de emissão por desmatamento, ou RED, que mais interessa ao Brasil. O rascunho do "mapa do caminho" que circulou ontem por Bali indica que a redução do desmatamento será mesmo incluída como uma opção de mitigação. O problema é como isso será feito. Há divergências entre Brasil, Indonésia e Índia sobre o assunto. Ontem os indianos tentaram incluir suas ações históricas de conservação de florestas como ação de RED. O Brasil discorda.
"Vai sair uma recomendação" sobre florestas em Bali, afirma Marcelo Furtado, do Greenpeace brasileiro. "Mas ela pode ser tanto na linha do "recomendamos tal mecanismo" [para reduzir emissões e compensar os países que o fizerem] quanto na do "recomendamos que isso seja resolvido mais tarde"."


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