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"Mapa do caminho" já tem seu primeiro rascunho
Prévia do texto que vai guiar ações pós-Kyoto precisa superar desvio de rotas
Esboço sugere que nações ricas reduzam suas emissões entre 25% e 40% até 2020, mas ainda há resistências de vários países em Bali
CLAUDIO ANGELO
ENVIADO ESPECIAL A BALI
"Não cozinhe o clima". A frase, estampada num termômetro gigante no Centro Internacional de Convenções de Bali, é
ironicamente cruel para quem
chega ao local sob um sol de
32C e uma umidade do ar de
97%. Mas ontem, no final da
primeira semana de negociações na COP-13, a conferência
do clima de Bali, ela serviu para
reforçar um alerta: o "mapa do
caminho", o esboço de negociação do regime climático que vai
entrar em vigor após Kyoto,
ainda precisa superar alguns
desvios de rota.
Um rascunho do mapa circulou ontem em Bali. Ele reconhece que, para evitar os piores
efeitos da mudança climática,
os países industrializados (o
chamado Anexo 1) precisarão
reduzir suas emissões entre
25% e 40% até 2020. O texto
diz ainda que as emissões globais de gases-estufa precisam
chegar ao pico em 10 ou 15
anos, para depois então cair para "muito menos que a metade"
dos níveis de 2000, até 2050.
Reconhece também que os
esforços feitos hoje para implementar a Convenção do Clima
são insuficientes para resolver
o problema do aquecimento
global, do qual as evidências
científicas são "inequívocas".
Mas sua aprovação pelos ministros que chegam nesta semana a Bali para o segmento de
alto nível da COP, que começa
na quarta-feira, ainda enfrenta
resistências de vários países.
Desta vez, os Estados Unidos
não levam a culpa sozinhos. O
Canadá tem se manifestado
contra aprofundar as metas
obrigatórias de redução de
emissões dos países ricos caso
os países em desenvolvimento
não assumam metas também.
A posição canadense foi revelada num documento confidencial da delegação que vazou para ambientalistas e que valeu ao
Canadá o seu segundo "Fóssil
do Dia" consecutivo ontem
-prêmio concedido ao país que
mais bloqueia as negociações
na conferência em Bali.
O Japão também tem tentado propor alternativas ao Protocolo de Kyoto que contornem a adoção de metas nacionais. Tampouco concorda com
o reforço do regime de punição
a quem descumprir suas metas.
A Austrália chegou a concordar
com metas de 25% a 40% de redução de emissões até 2020 para países industrializados, só
para voltar atrás nessa posição
algumas horas depois.
Vai-e-vem
A União Européia, geralmente vista como a heroína do clima, manteve um proverbial silêncio sobre metas durante as
plenárias, embora nos corredores seus delegados digam que
estão fazendo tudo o que podem para garantir um novo
acordo completo e forte para
quando o Protocolo de Kyoto
expirar, em 2012.
Tantas idas e vindas são esperadas numa negociação complexa na qual setores importantes da economia de vários países podem ser afetados. Mas
os ambientalistas temem que
esses conflitos possam levar a
uma diluição do chamado
"mandato de Bali", já que há
muito mais coisas a decidir do
que tempo para negociar -e assuntos sobre os quais houver
impasse poderão acabar sendo
resolvidos no pior estilo Nações Unidas, ou seja, enfraquecendo o texto final do acordo.
Impasse do RED
Um dos impasses vistos no final da primeira semana é justamente a questão da redução de
emissão por desmatamento, ou
RED, que mais interessa ao
Brasil. O rascunho do "mapa do
caminho" que circulou ontem
por Bali indica que a redução do
desmatamento será mesmo incluída como uma opção de mitigação. O problema é como isso será feito. Há divergências
entre Brasil, Indonésia e Índia
sobre o assunto. Ontem os indianos tentaram incluir suas
ações históricas de conservação de florestas como ação de
RED. O Brasil discorda.
"Vai sair uma recomendação" sobre florestas em Bali,
afirma Marcelo Furtado, do
Greenpeace brasileiro. "Mas
ela pode ser tanto na linha do
"recomendamos tal mecanismo" [para reduzir emissões e
compensar os países que o fizerem] quanto na do "recomendamos que isso seja resolvido
mais tarde"."
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