São Paulo, quarta-feira, 09 de dezembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasil quer dinheiro para país pobre, mas espera pouco para si

Nações ricas resistem a financiar redução de CO2 em grandes emergentes; país diz que manterá meta

DA ENVIADA A COPENHAGUE

O Brasil defende um compromisso de financiamento para os países mais pobres lutarem contra a mudança climática, mas não conta com um valor significativo para si mesmo ao fim das negociações em Copenhague, no próximo dia 18.
"O Brasil não condiciona sua ação [para mitigar as emissões de gases-estufa] à existência de ajuda externa. Isso está claro", disse à Folha o negociador-chefe do país para clima, Luiz Alberto Figueiredo. "Dinheiro é fundamental do ponto de vista do acordo, mas não para custear o que já está na mesa."
Na mesa está uma proposta de desviar entre 36% e 39% menos as emissões previstas para 2020. A maior parte desse objetivo seria alcançada com a redução do desmatamento.
Ainda assim, o Brasil marca posição política e continua a defender a importância de os países ricos custearem as ações dos países pobres tanto em adaptação aos efeitos da mudança climática quanto em mitigação de suas emissões -neste último ponto se encaixam os grandes emergentes.
"Se não houver dinheiro não há acordo", repete Figueiredo.
Mas Sérgio Serra, o embaixador extraordinário para o clima, abre a brecha: "É possível que os números não sejam bem aqueles que nós desejamos", afirmou à Folha.
Os países desenvolvidos têm se mostrado reticentes a um compromisso de longo prazo com o financiamento. O que se fala é do chamado "fast money" -dinheiro imediato, até 2012, para os países mais pobres se adaptarem ao aquecimento global. Foi nisso que insistiram os EUA anteontem. É nisso também que fala o Japão.
Só que até 2012 as cifras cogitadas são US$ 10 bilhões ao ano. A grande questão é 2020 e além, quando se prevê que os países em desenvolvimento precisarão de pelo menos US$ 150 bilhões anuais. Os europeus trabalham com esse horizonte, mas ainda não colocaram nenhum número na mesa.
"Precisamos de um prazo [de financiamento] pelo menos até 2020, a duração do compromisso [de redução de emissões que deve ser assumido]", disse Serra. "Financiamento de dois ou três anos não resolve."

Prestação de contas
A retórica dos países desenvolvidos -ecoada, de certa forma, pelo presidente da Conferência do Clima da ONU, Yvo de Boer- é a de que não é possível se comprometer com financiamento sem que os países em desenvolvimento esclareçam como usarão o dinheiro.
Os europeus também relutam em custear os grandes emergentes, que teriam mais condições de captar o dinheiro no setor privado. Por isso, segundo uma pessoa próxima às negociações, discute-se modos de incluir no acordo final critérios que criem barreiras para que eles se beneficiem.
Para Serra, "não há uma maneira objetiva de classificar os países". O embaixador ainda discorda que o país não teria por que exigir dinheiro público dos mais ricos, citando ações de mitigação em desmatamento, agricultura e indústria da bioenergia são candidatas à verba.
De Boer concorda com a discriminação, mas não prevê que ela chegue à exclusão. "Mecanismos diferentes de financiamento funcionam para países diferentes de modos diferentes. Mas o mundo não é preto e branco", diz. "Claro que espero que esses países também recebam financiamento." (LC)


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Climáticas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.