|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasil quer dinheiro para país pobre, mas espera pouco para si
Nações ricas resistem a financiar redução de CO2 em grandes emergentes; país diz que manterá meta
DA ENVIADA A COPENHAGUE
O Brasil defende um compromisso de financiamento para os países mais pobres lutarem contra a mudança climática, mas não conta com um valor
significativo para si mesmo ao
fim das negociações em Copenhague, no próximo dia 18.
"O Brasil não condiciona sua
ação [para mitigar as emissões
de gases-estufa] à existência de
ajuda externa. Isso está claro",
disse à Folha o negociador-chefe do país para clima, Luiz
Alberto Figueiredo. "Dinheiro
é fundamental do ponto de vista do acordo, mas não para custear o que já está na mesa."
Na mesa está uma proposta
de desviar entre 36% e 39%
menos as emissões previstas
para 2020. A maior parte desse
objetivo seria alcançada com a
redução do desmatamento.
Ainda assim, o Brasil marca
posição política e continua a
defender a importância de os
países ricos custearem as ações
dos países pobres tanto em
adaptação aos efeitos da mudança climática quanto em mitigação de suas emissões -neste último ponto se encaixam os
grandes emergentes.
"Se não houver dinheiro não
há acordo", repete Figueiredo.
Mas Sérgio Serra, o embaixador extraordinário para o clima, abre a brecha: "É possível
que os números não sejam bem
aqueles que nós desejamos",
afirmou à Folha.
Os países desenvolvidos têm
se mostrado reticentes a um
compromisso de longo prazo
com o financiamento. O que se
fala é do chamado "fast money"
-dinheiro imediato, até 2012,
para os países mais pobres se
adaptarem ao aquecimento
global. Foi nisso que insistiram
os EUA anteontem. É nisso
também que fala o Japão.
Só que até 2012 as cifras cogitadas são US$ 10 bilhões ao
ano. A grande questão é 2020 e
além, quando se prevê que os
países em desenvolvimento
precisarão de pelo menos US$
150 bilhões anuais. Os europeus trabalham com esse horizonte, mas ainda não colocaram nenhum número na mesa.
"Precisamos de um prazo [de
financiamento] pelo menos até
2020, a duração do compromisso [de redução de emissões
que deve ser assumido]", disse
Serra. "Financiamento de dois
ou três anos não resolve."
Prestação de contas
A retórica dos países desenvolvidos -ecoada, de certa forma, pelo presidente da Conferência do Clima da ONU, Yvo
de Boer- é a de que não é possível se comprometer com financiamento sem que os países em
desenvolvimento esclareçam
como usarão o dinheiro.
Os europeus também relutam em custear os grandes
emergentes, que teriam mais
condições de captar o dinheiro
no setor privado. Por isso, segundo uma pessoa próxima às
negociações, discute-se modos
de incluir no acordo final critérios que criem barreiras para
que eles se beneficiem.
Para Serra, "não há uma maneira objetiva de classificar os
países". O embaixador ainda
discorda que o país não teria
por que exigir dinheiro público
dos mais ricos, citando ações de
mitigação em desmatamento,
agricultura e indústria da bioenergia são candidatas à verba.
De Boer concorda com a discriminação, mas não prevê que
ela chegue à exclusão. "Mecanismos diferentes de financiamento funcionam para países
diferentes de modos diferentes. Mas o mundo não é preto e
branco", diz. "Claro que espero
que esses países também recebam financiamento."
(LC)
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Climáticas Índice
|