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Nova nanopartícula imita o câncer para identificá-lo
Material que se "amplifica" sozinho se liga a células de tumor, tornando-as visíveis
Técnica também poderá
ser usada para entregar
quimioterapia com maior
precisão; aplicação clínica
ainda levaria uma década
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Em vez de combater o inimigo, ligue-se a ele. Com esse
princípio em mente, pesquisadores americanos conseguiram
desenvolver um sistema nanotecnológico que imita o modo
de agir de um tumor.
O sistema, assim como as células cancerosas, se "amplifica"
sozinho. Só que, neste caso, para ajudar o paciente.
A nova técnica, apresentada
ontem na forma de um artigo
científico na revista "PNAS"
(www.pnas.org), só foi testada por enquanto em camundongos. Mas, promete aumentar a precisão na detecção dos
tumores em humanos.
"O avanço significativo foi
que conseguimos fazer um sistema que se alimenta sozinho",
disse à Folha o pesquisador
Erkki Ruoslahti, do Instituto
Burnham, da Califórnia.
Segundo o principal autor do
estudo, a parte mais difícil foi
conseguir o ajuste fino do experimento. "Tivemos de fazer
muitas tentativas", recorda-se.
Antes de injetar as nanopartículas na corrente sangüínea
dos camundongos, os pesquisadores desenvolveram um tipo
de proteína capaz de reconhecer tecidos tumorais.
Depois da injeção, a expectativa do grupo de pesquisa se
confirmou. Elas foram direto
ao câncer e se ligaram a ele. A
reação em cadeia, então, teve
início. Novas nanopartículas
foram se juntando às primeiras, fazendo com que o tumor
ficasse evidente de forma artificial. Eis a imitação perfeita,
que não danifica o organismo.
Sem especialistas
Há quem veja os resultados
com ceticismo, no entanto.
"Existe pouca relação entre os
dados apresentados e as conclusões a que eles chegaram. Isso é normal quando uma pesquisa multidisciplinar não é
conduzida com a especialização apropriada", afirma a bioquímica Renata Pasqualini, que
pesquisa nanotecnologia e câncer na Universidade do Texas
em Houston, Estados Unidos.
A cientista brasileira analisou o trabalho de Ruoslahti e
colegas juntamente com os
também brasileiros Wadih
Arap e Glauco Souza, da mesma
instituição. O trio tem usado vírus e nanopartículas de ouro
para criar "cavalos-de-tróia"
capazes de detectar tumores
com precisão e destruí-los.
Apesar das ressalvas, o autor
do trabalho está confiante que
tem um bom método na mão.
Mesmo assim, segundo ele, esses resultados ainda estão muito longe de qualquer tipo de
aplicação médica.
"A realidade é que deveremos ter que esperar uma média
de dez anos para que qualquer
resultado saia do laboratório
em direção ao campo clínico",
afirmou o cientista americano.
O método apresentado agora, além de ajudar a identificar
o tumor, também é seguro, explica o autor do estudo.
"Nós não registramos nenhum tipo de problema no camundongo depois que injetamos as nanopartículas. Isso
não significa que nada poderá
ocorrer no paciente. Principalmente, se houver outros tipos
de patologia em curso além do
câncer", explica.
A técnica das nanopartículas
que se ligam aos tumores também pode levar a outro caminho dentro da nanomedicina: o
de encolher a quimioterapia.
Como a técnica facilita a precisão no tratamento, ela poderá
contribuir para que um tipo de
medicamento qualquer seja levado diretamente ao local em
que ele deverá realmente agir
-no caso, o tecido doente.
Essa quimioterapia de altíssima precisão vem sendo perseguida por vários grupos de
pesquisa -inclusive o de Pasqualini-, e é uma das maiores
promessas da nanomedicina.
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