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CIÊNCIA
Arqueóloga diz que fósseis no
Piauí podem ter 15 mil anos
MARCELO LEITE
enviado especial a São Raimundo Nonato (PI)
Niède Guidon, 67, talvez a mais
polêmica arqueóloga brasileira, se
prepara para chocar mais uma
vez seus pares com uma nova datação. Desta vez, ela diz ter encontrado os restos humanos mais antigos das Américas.
São três dentes humanos e um
pedaço de crânio, escavados da
gruta do Garrincho. Um dos dentes foi enviado aos Estados Unidos para ter sua idade estimada.
Resultado, que segundo Niède
chegou em janeiro: 15 mil anos.
Se for confirmada e aceita, baterá todos os outros restos humanos americanos conhecidos. Eles
estão, em geral, abaixo dos 10 mil
anos, como o famoso esqueleto de
Luzia, encontrado no sítio de Lagoa Santa (Minas Gerais).
A aceitação pela comunidade
científica só se dará depois da publicação das datas numa publicação científica de renome, o que
ainda não aconteceu. A arqueóloga diz que só a descrição dos dentes e do fragmento de osso saiu
publicada, pela Academia de
Ciências da França, há dois anos.
Foi empregada na datação do
dente uma variante técnica do
método de carbono-14, a espectometria por aceleração de massa.
Ela permite trabalhar com quantidades muito pequenas de matéria orgânica (ou seja, contendo
carbono). Segundo a pesquisadora, esses dentes estavam muito
fossilizados (mineralizados), portanto com muito pouca matéria
orgânica. Somente a espectometria permitiria datá-los.
Guidon escava há três décadas
os sítios da região da serra da Capivara, sudoeste do Piauí. O mais
disputado deles, até agora, era o
do Boqueirão da Pedra Furada.
Ali ela encontrou carvão, que
diz ser de origem antropogênica
(produzido pelo homem, em fogueiras), cujas datações em laboratório convenceram-na de que
homens frequentavam os abrigos
na rocha arenítica já entre 50 mil e
60 mil anos atrás.
Segundo as teorias tradicionais
de ocupação das Américas, isso
seria impossível. Por elas, hordas
humanas penetraram no continente entre 10 mil e 20 mil anos
atrás, por pontes de terra que se
formaram na chamada Beríngia,
hoje o estreito de Bering (que separa os extremos da Ásia e da
América), com as glaciações.
Guidon defende que a espécie
humana chegou em várias ondas
à América, também por mar. Isso
teria ocorrido 70 mil ou até 80 mil
anos atrás. Essas hipóteses não
são aceitas por críticos de trabalho de Niède Guidon. Especialmente resistentes são os arqueólogos norte-americanos. Mas pesquisadores brasileiros, como
Walter Neves, da USP, também se
recusam a aceitar tais idéias sobre
migração, que Neves chama pejorativamente de "pirotecnias".
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