São Paulo, sábado, 10 de abril de 2010

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Pessimismo marca nova rodada do clima

Diplomatas dizem que cúpula de Copenhague foi "fracasso total" durante encontro preparatório em Bonn (Alemanha)

Expectativa de fechar um tratado mundial no fim do ano foi abandonada; ricos e pobres mantêm rusgas sobre obrigações futuras


Jürgen Schwarz/France Presse
Membros do Greenpeace fazem protesto dizendo que "é hora de catar os caquinhos" das negociações climáticas de Copenhague

RENATE KRIEGER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BONN

A primeira reunião pós-Copenhague da Convenção do Clima das Nações Unidas começou ontem na Alemanha ainda à sombra da insatisfação que resultou da cúpula de dezembro de 2009. O encontro em Bonn, sede da convenção, também deixou evidente o desacordo entre países ricos e pobres sobre os próximos passos das negociações que poderão levar a um acordo global para combater os efeitos das mudanças climáticas, a partir de 2013.
Os termos "fracasso total" e "decepção" diante do "fraco resultado" de Copenhague eram moeda corrente nos pronunciamentos de países em desenvolvimento, com destaque para as declarações da Venezuela e da Bolívia. Há quatro meses, a reunião diplomática na Dinamarca falhou na tentativa de estabelecer um acordo global de combate às mudanças climáticas a partir de 2013.

Segundo tempo
Nesse ano, deveria começar o segundo período de compromisso do Protocolo de Kyoto -único acordo internacional de redução de emissões de gases do efeito estufa. A reunião acabou no Acordo de Copenhague, declaração sem força legal que quer restringir o aumento da temperatura mundial em 2C, mas sem dizer como.
Até agora, 110 dos 192 países da convenção aderiram ao texto (incluindo grandes poluidores como a China, os Estados Unidos, a Índia e a Rússia). Na reunião de Bonn, a discussão gira em torno de como incluir o acordo nas negociações. Mas o braço-de-ferro entre ricos e pobres vem dos temores dos pobres de que o acordo poderia virar a única base para discussões. Seria descartado o caminho adotado até agora: o Protocolo de Kyoto e as ações de longo prazo de combate ao aquecimento global negociadas sob a Convenção do Clima da ONU.
"O Acordo de Copenhague é uma declaração política voluntária. Mas, segundo cientistas, as propostas de redução de emissões de gases poluentes levariam a um aumento de 5C na temperatura global", afirmou Claudia Salerno, chefe da delegação venezuelana. "Ninguém pode se parabenizar por isso", atacou, destacando que a Venezuela só vai apoiar as negociações baseadas nas determinações da Convenção do Clima da ONU -e não no Acordo de Copenhague. Essa posição também foi defendida ontem pelo grupo formado pela China e pelo G77, que inclui o Brasil.
Já os EUA se mostraram bem mais otimistas com o Acordo de Copenhague. "Acreditamos que o acordo deveria influenciar significativamente as demais negociações", declarou o negociador americano Jonathan Pershing. Depois da reunião, o diplomata disse à Folha que, para ele, não está claro por que o Acordo de Copenhague deveria ter sua importância negligenciada nas negociações. "Em Copenhague, o combinado foi recorrermos tanto aos textos negociados pela Convenção quanto ao Acordo."
O que não está claro ainda é a posição do Brasil, que faz parte do G77, mas ajudou a negociar o controverso Acordo de Copenhague como parte do chamado grupo Basic, formado ainda por China, Índia e África do Sul. "A grande questão neste ano é saber como o Brasil vai se comportar, fazendo parte desses dois grupos", diz a brasileira Juliana Russar, que faz parte da iniciativa Adote Um Negociador, grupo de jovens de 13 países que acompanha os negociadores da Convenção. Procurados pela Folha, os diplomatas brasileiros não deram declarações ontem.
Nos bastidores da reunião, um funcionário da ONU levantou a questão de o Brasil poder amenizar a posição de países economicamente mais fracos, como a Venezuela e a Bolívia.

Antes do México
Até domingo, a reunião na Alemanha também deve definir um programa de encontros antes da próxima cúpula da ONU em Cancún, no México, em dezembro. Os países em desenvolvimento querem cinco reuniões, incluindo a de Bonn e a mexicana. Mas países desenvolvidos defendem um número menor de encontros.
O próprio secretário-executivo da Convenção do Clima, o holandês Yvo de Boer, disse antes do encontro em Bonn que não acredita que um novo acordo global para o clima saia da reunião mexicana.


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