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São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2003

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ASTRONOMIA

Resultado questiona pressa em enviar sonda não-tripulada ao planeta antes que o ar congele completamente

Atmosfera de Plutão está se expandindo

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Senso de urgência ou lobby científico? Enquanto centenas de milhões de dólares estão sendo gastos na preparação de uma sonda não-tripulada a Plutão, o mais longínquo dos planetas do Sistema Solar, a comunidade científica não consegue decidir se há mesmo pressa em pôr a nave em seu caminho o mais rápido possível. E as últimas observações astronômicas acabam de colocar ainda mais pimenta no debate, ao mostrar que a atmosfera plutoniana está se expandindo.
Desde a confirmação de que Plutão tem uma atmosfera, em 1988, muitos astrônomos têm pressionado a Nasa (agência espacial americana) por uma missão ao planeta, argumentando que o ar plutoniano iria congelar e desaparecer por completo conforme o planeta começasse a se afastar mais do Sol, processo que começou há cerca de uma década.
Com sua órbita esquisita e oval, Plutão leva 248 anos para completar uma volta em torno da estrela, e sua distância do astro central varia de 30 a 50 unidades astronômicas (1 U.A. vale cerca de 150 milhões de quilômetros, a distância Terra-Sol). Na aproximação máxima, ele chega até a cruzar a órbita de Netuno, o oitavo planeta.
Depois de 1988, ninguém mais havia conseguido observar a atmosfera de Plutão, até o ano passado. O procedimento exige alguma sorte -é preciso que o planeta passe na frente de uma estrela, de modo que alguns raios de luz atravessem a atmosfera plutoniana e mesmo assim cheguem à Terra, portando uma "assinatura" do ar pelo qual passaram que os cientistas podem interpretar.
Em 2002, os astrônomos deram sorte e o planeta passou na frente de duas estrelas, em julho e agosto, permitindo novas medições da atmosfera. Dois grupos, um liderado por James Elliot, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos EUA, e outro por Bruno Sicardy, do Observatório de Paris, na França, fizeram as análises, que foram publicadas na edição de hoje da revista britânica "Nature" (www.nature.com). Resultados preliminares dos dois trabalhos já haviam sido relatados pela Folha, em setembro.
Para a surpresa dos envolvidos, desde 1988 a atmosfera de Plutão (provavelmente composta por nitrogênio) sofreu uma forte expansão, em vez de iniciar um processo de condensação, apesar de o planeta estar agora mais longe do centro do Sistema Solar do que antes. O resultado desafia a noção de que uma sonda precisa ser lançada já para observar o ar daquele mundo antes que ele desapareça.
A nave New Horizons, construída pelo Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins para a Nasa, deve ser lançada em 2006 e atingir o planeta uma década depois. Para Sicardy, não há razão para pressa.
"A atmosfera de Plutão nunca vai sumir. Ela deve mesmo diminuir bastante, mas nunca vai desaparecer. Até 2100 [quando o planeta atingir sua fase de máximo afastamento] ela deve ser detectável", afirma o francês, que contou com a colaboração de pesquisadores brasileiros no esforço de observação (embora o tempo não tenha ajudado e nenhum dado nacional tenha contribuído para o resultado final).
Para Elliot, ainda é cedo para tirar qualquer conclusão sobre a dinâmica atmosférica do planeta. "Podemos afirmar com certeza que ela está mudando", diz. "Nossos dados vão ajudar mais ainda o pessoal que está trabalhando com a sonda a coletar informações."
Uma coisa é certa: agora ou mais tarde, a New Horizons deve oferecer resultados inéditos sobre o pequenino Plutão (com cerca de 2.400 km de diâmetro, ele é menor que a Lua), o menos conhecido de todos os planetas e o único nunca visitado por uma sonda. "A qualquer hora essa missão seria interessante", diz Sicardy.



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