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ASTRONOMIA
Resultado questiona pressa em enviar sonda não-tripulada ao planeta antes que o ar congele completamente
Atmosfera de Plutão está se expandindo
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Senso de urgência ou lobby
científico? Enquanto centenas de
milhões de dólares estão sendo
gastos na preparação de uma sonda não-tripulada a Plutão, o mais
longínquo dos planetas do Sistema Solar, a comunidade científica
não consegue decidir se há mesmo pressa em pôr a nave em seu
caminho o mais rápido possível. E
as últimas observações astronômicas acabam de colocar ainda
mais pimenta no debate, ao mostrar que a atmosfera plutoniana
está se expandindo.
Desde a confirmação de que
Plutão tem uma atmosfera, em
1988, muitos astrônomos têm
pressionado a Nasa (agência espacial americana) por uma missão ao planeta, argumentando
que o ar plutoniano iria congelar e
desaparecer por completo conforme o planeta começasse a se
afastar mais do Sol, processo que
começou há cerca de uma década.
Com sua órbita esquisita e oval,
Plutão leva 248 anos para completar uma volta em torno da estrela,
e sua distância do astro central varia de 30 a 50 unidades astronômicas (1 U.A. vale cerca de 150 milhões de quilômetros, a distância
Terra-Sol). Na aproximação máxima, ele chega até a cruzar a órbita de Netuno, o oitavo planeta.
Depois de 1988, ninguém mais
havia conseguido observar a atmosfera de Plutão, até o ano passado. O procedimento exige alguma sorte -é preciso que o planeta passe na frente de uma estrela,
de modo que alguns raios de luz
atravessem a atmosfera plutoniana e mesmo assim cheguem à
Terra, portando uma "assinatura" do ar pelo qual passaram que
os cientistas podem interpretar.
Em 2002, os astrônomos deram
sorte e o planeta passou na frente
de duas estrelas, em julho e agosto, permitindo novas medições da
atmosfera. Dois grupos, um liderado por James Elliot, do MIT
(Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos EUA, e outro por
Bruno Sicardy, do Observatório
de Paris, na França, fizeram as
análises, que foram publicadas na
edição de hoje da revista britânica
"Nature" (www.nature.com). Resultados preliminares dos dois
trabalhos já haviam sido relatados
pela Folha, em setembro.
Para a surpresa dos envolvidos,
desde 1988 a atmosfera de Plutão
(provavelmente composta por nitrogênio) sofreu uma forte expansão, em vez de iniciar um processo de condensação, apesar de o
planeta estar agora mais longe do
centro do Sistema Solar do que
antes. O resultado desafia a noção
de que uma sonda precisa ser lançada já para observar o ar daquele
mundo antes que ele desapareça.
A nave New Horizons, construída pelo Laboratório de Física
Aplicada da Universidade Johns
Hopkins para a Nasa, deve ser
lançada em 2006 e atingir o planeta uma década depois. Para Sicardy, não há razão para pressa.
"A atmosfera de Plutão nunca
vai sumir. Ela deve mesmo diminuir bastante, mas nunca vai desaparecer. Até 2100 [quando o
planeta atingir sua fase de máximo afastamento] ela deve ser detectável", afirma o francês, que
contou com a colaboração de pesquisadores brasileiros no esforço
de observação (embora o tempo
não tenha ajudado e nenhum dado nacional tenha contribuído
para o resultado final).
Para Elliot, ainda é cedo para tirar qualquer conclusão sobre a dinâmica atmosférica do planeta.
"Podemos afirmar com certeza
que ela está mudando", diz. "Nossos dados vão ajudar mais ainda o
pessoal que está trabalhando com
a sonda a coletar informações."
Uma coisa é certa: agora ou
mais tarde, a New Horizons deve
oferecer resultados inéditos sobre
o pequenino Plutão (com cerca de
2.400 km de diâmetro, ele é menor que a Lua), o menos conhecido de todos os planetas e o único
nunca visitado por uma sonda. "A
qualquer hora essa missão seria
interessante", diz Sicardy.
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