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São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2003

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ECOLOGIA

Estudo americano mostra que poluente produzido em metrópoles é "exportado" e envenena plantas na zona rural

Árvores crescem mais depressa na cidade

MARCUS VINICIUS MARINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

As árvores crescem melhor na atmosfera poluída das grandes cidades que em ecossistemas rurais. Parece um contra-senso, mas é o que mostra o estudo comandado pela cientista Jillian Gregg, da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, que é capa da edição de hoje da revista científica "Nature" (www.nature.com).
A equipe da ecologista plantou mudas de árvore de mesmo tamanho em Nova York e em áreas rurais próximas à cidade, com controle das condições de incidência de luz, umidade e solo, deixando como preocupação principal apenas as diferenças na qualidade do ar, e as deixou crescer por três anos. A espécie escolhida foi o choupo-americano (Populus deltoides), de crescimento rápido e uniforme durante o ano todo. A pesquisa produziu um estranho resultado: as árvores da cidade cresceram com uma velocidade duas vezes maior.
"Nós não tínhamos nenhuma idéia do que iria acontecer quando começamos o estudo. Só queríamos estudar o impacto das grandes cidades sobre a vida das plantas", disse Gregg à Folha.
A explicação para o fenômeno tem suas raízes na própria cidade: o ozônio (O3), que em baixas altitudes -na troposfera- é um poluente comum das metrópoles, produzido por substâncias orgânicas (derivadas da queima de combustível de automóveis), migra para as áreas do campo. Lá, ele impede que as plantas se desenvolvam, sendo absorvido por algumas folhas e inibindo a fotossíntese, o que diminui a velocidade de crescimento.
Nos grandes centros esse impedimento não acontece, já que o ozônio produzido é rapidamente degradado por outros poluentes como os óxidos de nitrogênio, antes mesmo de atacar as árvores.
"A poluição vinda das cidades encontra menos resistência das plantas no campo, já que só há elas para interagir com o ozônio", explica Gregg.
Seria uma boa notícia para os habitantes dos grandes centros, então, saber que um poluente como o ozônio troposférico migra para longe? "Eu diria que a pesquisa está mais para "má notícia para o campo". Para a cidade não é uma boa notícia, pois, na verdade, o ozônio ocorre em pouca quantidade nas áreas urbanas, mas as substâncias que o originam, igualmente tóxicas ou até mais, continuam lá".
A descoberta de Gregg e sua equipe não está restrita apenas ao choupo-americano e a Nova York, mas a uma série de plantas e lugares. "Não são todas, mas existem muitas espécies que são envenenadas por ozônio, e esse gás está em todo lugar", diz a autora. Mesmo lugares isolados, longe de grandes centros, acabam recebendo um pouco do gás produzido nas metrópoles. "Tem ozônio até no pólo Norte e no Havaí", afirma a pesquisadora.
Segundo Gregg, outros fatores, como a alta concentração de gás carbônico (gás ligado à fotossíntese) nas cidades, não têm relação com o maior crescimento das árvores nas áreas urbanas. Da mesma forma outros poluentes, como derivados de enxofre, também não influem de forma decisiva.
O próximo passo, segundo a cientista, é conhecer mais da espécie que ela manipula para entender melhor como o ozônio ataca as plantas. "Temos de ter consciência do impacto que as cidades que construímos têm na natureza. Não pensar nisso seria irresponsabilidade."



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