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ECOLOGIA
Estudo americano mostra que poluente produzido em metrópoles é "exportado" e envenena plantas na zona rural
Árvores crescem mais depressa na cidade
MARCUS VINICIUS MARINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
As árvores crescem melhor na
atmosfera poluída das grandes cidades que em ecossistemas rurais.
Parece um contra-senso, mas é o
que mostra o estudo comandado
pela cientista Jillian Gregg, da
Universidade Cornell, nos Estados Unidos, que é capa da edição
de hoje da revista científica "Nature" (www.nature.com).
A equipe da ecologista plantou
mudas de árvore de mesmo tamanho em Nova York e em áreas rurais próximas à cidade, com controle das condições de incidência
de luz, umidade e solo, deixando
como preocupação principal apenas as diferenças na qualidade do
ar, e as deixou crescer por três
anos. A espécie escolhida foi o
choupo-americano (Populus deltoides), de crescimento rápido e
uniforme durante o ano todo. A
pesquisa produziu um estranho
resultado: as árvores da cidade
cresceram com uma velocidade
duas vezes maior.
"Nós não tínhamos nenhuma
idéia do que iria acontecer quando começamos o estudo. Só queríamos estudar o impacto das
grandes cidades sobre a vida das
plantas", disse Gregg à Folha.
A explicação para o fenômeno
tem suas raízes na própria cidade:
o ozônio (O3), que em baixas altitudes -na troposfera- é um poluente comum das metrópoles,
produzido por substâncias orgânicas (derivadas da queima de
combustível de automóveis), migra para as áreas do campo. Lá, ele
impede que as plantas se desenvolvam, sendo absorvido por algumas folhas e inibindo a fotossíntese, o que diminui a velocidade de crescimento.
Nos grandes centros esse impedimento não acontece, já que o
ozônio produzido é rapidamente
degradado por outros poluentes
como os óxidos de nitrogênio, antes mesmo de atacar as árvores.
"A poluição vinda das cidades
encontra menos resistência das
plantas no campo, já que só há
elas para interagir com o ozônio",
explica Gregg.
Seria uma boa notícia para os
habitantes dos grandes centros,
então, saber que um poluente como o ozônio troposférico migra
para longe? "Eu diria que a pesquisa está mais para "má notícia
para o campo". Para a cidade não
é uma boa notícia, pois, na verdade, o ozônio ocorre em pouca
quantidade nas áreas urbanas,
mas as substâncias que o originam, igualmente tóxicas ou até
mais, continuam lá".
A descoberta de Gregg e sua
equipe não está restrita apenas ao
choupo-americano e a Nova
York, mas a uma série de plantas e
lugares. "Não são todas, mas existem muitas espécies que são envenenadas por ozônio, e esse gás está em todo lugar", diz a autora.
Mesmo lugares isolados, longe de
grandes centros, acabam recebendo um pouco do gás produzido nas metrópoles. "Tem ozônio
até no pólo Norte e no Havaí",
afirma a pesquisadora.
Segundo Gregg, outros fatores,
como a alta concentração de gás
carbônico (gás ligado à fotossíntese) nas cidades, não têm relação
com o maior crescimento das árvores nas áreas urbanas. Da mesma forma outros poluentes, como
derivados de enxofre, também
não influem de forma decisiva.
O próximo passo, segundo a
cientista, é conhecer mais da espécie que ela manipula para entender melhor como o ozônio ataca as plantas. "Temos de ter consciência do impacto que as cidades
que construímos têm na natureza. Não pensar nisso seria irresponsabilidade."
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