São Paulo, sábado, 10 de julho de 2004

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POLÍTICA

Organização acusa governo americano de excluir opositores em comitês de pesquisa e distorcer relatório ambiental

Bush ainda manipula ciência, diz relatório

DA REDAÇÃO

Um novo relatório divulgado ontem pela organização não-governamental União dos Cientistas Responsáveis acusa o governo de George W. Bush de continuar distorcendo e censurando a ciência conforme seus objetivos políticos.
Segundo seus autores, o governo dos EUA coagiu pesquisadores a revelar sua posição política em entrevistas para nomeação em conselhos científicos federais -vetando a participação de opositores de Bush nesses conselhos-, ignorou evidências científicas em relatórios de impacto ambiental e descartou recomendações de cientistas ao proibir a venda de pílulas anticoncepcionais de emergência sem prescrição médica.
O relatório é o segundo do gênero a ser divulgado neste ano. Em fevereiro, a organização publicou um dossiê afirmando que o governo dos EUA manipulava dados científicos toda vez que as evidências iam contra sua agenda política, em questões como aquecimento global e pesquisa com células-tronco. Também acusava Washington de indicar ideólogos do governo para os comitês científicos federais.
A União dos Cientistas Responsáveis publicou, ainda, uma carta assinada por 60 acadêmicos, incluindo ganhadores do Prêmio Nobel, pedindo a Washington que restaurasse a integridade científica nas políticas públicas.
Desde fevereiro, mais de 4.000 cientistas assinaram a carta, incluindo 48 Prêmios Nobel.
Na ocasião do primeiro relatório, o diretor para Políticas de Ciência e Tecnologia da Casa Branca, John Marburger 3º, rejeitou as críticas, acusando a ONG de agir politicamente e dizendo que as sugestões de coação eram "despropositadas".
Marburger divulgou uma nova defesa ontem: "O material apresentado pela União dos Cientistas Responsáveis se assemelha a outros já divulgados, por fazer generalizações com base numa miscelânea de fatos sem conexão e acusações erradas e enganosas".

Lobby
Segundo a UCS, como é conhecida a ONG na sigla em inglês, o novo relatório "traz evidências adicionais de que, quando o conhecimento científico entra em conflito com seus objetivos políticos, a administração Bush tem manipulado o processo pelo qual a ciência entra em suas decisões".
Documentos confidenciais obtidos por meio da Lei de Liberdade de Informação e entrevistas com pesquisadores mostram, por exemplo, que o vice-secretário do Departamento do Interior, Stephen J. Grilles, ex-lobista da Associação Nacional de Minas, instruiu cientistas e funcionários de agências federais a mudar um relatório de impacto ambiental que recomendava limitar os efeitos da mineração de carvão em topos de montanha nos Apalaches.
Um dos cientistas envolvidos na elaboração do documento -cujo nome a UCS não divulga- teria dito ainda que o governo ordenou a retirada de termos como "significativo" ou "grave" para classificar os impactos.
O dossiê divulgado ontem também traz entrevistas com cientistas que teriam sido submetidos a testes de posição política para servir em comitês federais.
Richard Myers, geneticista da Universidade Stanford, diz ter sido inquirido por uma representante do governo sobre sua posição a respeito de pesquisa com células-tronco durante uma entrevista para o Conselho Nacional de Pesquisa no Genoma Humano. "Depois (...) ela quis saber o que eu achava do presidente Bush: se eu gostava dele, o que achava do seu trabalho". Myers disse que se opunha à linha de questionamento. Teve sua nomeação negada. (CLAUDIO ANGELO)


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