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POLÍTICA
Organização acusa governo americano de excluir opositores em comitês de pesquisa e distorcer relatório ambiental
Bush ainda manipula ciência, diz relatório
DA REDAÇÃO
Um novo relatório divulgado
ontem pela organização não-governamental União dos Cientistas
Responsáveis acusa o governo de
George W. Bush de continuar distorcendo e censurando a ciência
conforme seus objetivos políticos.
Segundo seus autores, o governo dos EUA coagiu pesquisadores
a revelar sua posição política em
entrevistas para nomeação em
conselhos científicos federais
-vetando a participação de opositores de Bush nesses conselhos-, ignorou evidências científicas em relatórios de impacto
ambiental e descartou recomendações de cientistas ao proibir a
venda de pílulas anticoncepcionais de emergência sem prescrição médica.
O relatório é o segundo do gênero a ser divulgado neste ano. Em
fevereiro, a organização publicou
um dossiê afirmando que o governo dos EUA manipulava dados científicos toda vez que as evidências iam contra sua agenda
política, em questões como aquecimento global e pesquisa com células-tronco. Também acusava
Washington de indicar ideólogos
do governo para os comitês científicos federais.
A União dos Cientistas Responsáveis publicou, ainda, uma carta
assinada por 60 acadêmicos, incluindo ganhadores do Prêmio
Nobel, pedindo a Washington
que restaurasse a integridade
científica nas políticas públicas.
Desde fevereiro, mais de 4.000
cientistas assinaram a carta, incluindo 48 Prêmios Nobel.
Na ocasião do primeiro relatório, o diretor para Políticas de
Ciência e Tecnologia da Casa
Branca, John Marburger 3º, rejeitou as críticas, acusando a ONG
de agir politicamente e dizendo
que as sugestões de coação eram
"despropositadas".
Marburger divulgou uma nova
defesa ontem: "O material apresentado pela União dos Cientistas
Responsáveis se assemelha a outros já divulgados, por fazer generalizações com base numa miscelânea de fatos sem conexão e acusações erradas e enganosas".
Lobby
Segundo a UCS, como é conhecida a ONG na sigla em inglês, o
novo relatório "traz evidências
adicionais de que, quando o conhecimento científico entra em
conflito com seus objetivos políticos, a administração Bush tem
manipulado o processo pelo qual
a ciência entra em suas decisões".
Documentos confidenciais obtidos por meio da Lei de Liberdade de Informação e entrevistas
com pesquisadores mostram, por
exemplo, que o vice-secretário do
Departamento do Interior, Stephen J. Grilles, ex-lobista da Associação Nacional de Minas, instruiu cientistas e funcionários de
agências federais a mudar um relatório de impacto ambiental que
recomendava limitar os efeitos da
mineração de carvão em topos de
montanha nos Apalaches.
Um dos cientistas envolvidos na
elaboração do documento -cujo
nome a UCS não divulga- teria
dito ainda que o governo ordenou
a retirada de termos como "significativo" ou "grave" para classificar os impactos.
O dossiê divulgado ontem também traz entrevistas com cientistas que teriam sido submetidos a
testes de posição política para servir em comitês federais.
Richard Myers, geneticista da
Universidade Stanford, diz ter sido inquirido por uma representante do governo sobre sua posição a respeito de pesquisa com células-tronco durante uma entrevista para o Conselho Nacional de
Pesquisa no Genoma Humano.
"Depois (...) ela quis saber o que
eu achava do presidente Bush: se
eu gostava dele, o que achava do
seu trabalho". Myers disse que se
opunha à linha de questionamento. Teve sua nomeação negada.
(CLAUDIO ANGELO)
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