São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 2006

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Maconha sintética reduz pressão

Substância criada por cientista brasileiro em Israel controla hipertensão sem efeito entorpecente

Fármaco se saiu bem em testes com ratos e pode ir para ensaio clínico em breve; Harvard quer elucidar biomecanismo da droga

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um substância sintética semelhante ao THC, o princípio ativo da maconha, se mostrou uma droga promissora contra a hipertensão. Em experimentos feitos na Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, o brasileiro Yehoshua Maor, 35, conseguiu controlar a pressão arterial de ratos usando uma versão sintética alterada do canabigerol, uma outra molécula que a planta Cannabis sattiva produz. O fármaco obteve êxito sem causar efeitos psicotrópicos, o "barato" da maconha.
"Desde 1978 se tenta separar o efeito psicotrópico [da droga] da atividade cardiovascular, mas não se conseguia porque estavam trabalhando em cima da molécula do THC", explica Maor. Para fazer isso, pesquisadores inseriam átomos ou pedaços de outras moléculas na substância para tentar obter as características desejadas.
O brasileiro tentou então trabalhar sobre o canabigerol, que é um precursor do THC dentro da planta. Usando uma técnica que potencializa o efeito da molécula, ele fez com que ela adquirisse grande atividade hipotensiva sem grandes efeitos colaterais. O fármaco foi batizado canabigerol-DMH.
Maor, descendente de judeus portugueses, é maranhense da cidade de Imperatriz. Ele começou a fazer pesquisa em farmacologia depois de passar por estudos para rabino, carreira que não seguiu. "Eu estava procurando algumas respostas filosóficas", diz.
Seu trabalho com o canabigerol foi feito entre 2003 e 2005, mas só agora foi revelado, porque a universidade queria patentear molécula antes. Um estudo descrevendo o novo fármaco foi submetido ao periódico "European Journal of Pharmachology", e deve ser publicado no mês que vem.
Segundo Maor, a Universidade Hebraica está em negociações com uma empresa do setor farmacêutico, que poderá assumir a continuidade da pesquisa, com testes em humanos.
Se o canabigerol-DMH se sair bem em testes futuros, pode ser uma droga importante num setor vive hoje uma crise. Muitos anti-hipertensivos atuais têm efeitos colaterais fortes e complicam a terapia. A busca de uma droga menos agressiva -como o fármaco de Maor mostrou ser em ratos- é considerada uma meta de grande importância.
Outra característica desejável no canabigerol-DMH é seu efeito antiinflamatório moderado, porque muitos remédios populares desta classe -como o Vioxx, que saiu das prateleiras- podem ter reações cardíacas adversas. Pacientes hipertensos obrigados a tomá-los poderiam reduzir a dose, se a droga hipotensiva ajudar a controlar a inflamação.
Todas as propriedades do canabigerol-DMH foram confirmadas in vivo (com aplicação em animais saudáveis), ex vivo (com artérias extraídas dos roedores) e in vitro (com cultura de células imunológicas em laboratório, para verificar o efeito antiinflamatório). Antes de pedir autorização para testes em humanos, a universidade precisa apenas fazer testes para verificar se subprodutos da droga no corpo não podem gerar efeito descontrolado ou excessivamente tóxico.
Maor não deve participar desta fase, pois em agosto segue para a Escola Médica de Harvard, em Boston, onde investigará biologia básica de moléculas canabinóides.


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