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Maconha sintética reduz pressão
Substância criada por cientista brasileiro em Israel controla hipertensão sem efeito entorpecente
Fármaco se saiu bem em
testes com ratos e pode
ir para ensaio clínico em
breve; Harvard quer elucidar
biomecanismo da droga
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um substância sintética semelhante ao THC, o princípio
ativo da maconha, se mostrou
uma droga promissora contra a
hipertensão. Em experimentos
feitos na Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, o
brasileiro Yehoshua Maor, 35,
conseguiu controlar a pressão
arterial de ratos usando uma
versão sintética alterada do canabigerol, uma outra molécula
que a planta Cannabis sattiva
produz. O fármaco obteve êxito
sem causar efeitos psicotrópicos, o "barato" da maconha.
"Desde 1978 se tenta separar
o efeito psicotrópico [da droga]
da atividade cardiovascular,
mas não se conseguia porque
estavam trabalhando em cima
da molécula do THC", explica
Maor. Para fazer isso, pesquisadores inseriam átomos ou
pedaços de outras moléculas
na substância para tentar obter
as características desejadas.
O brasileiro tentou então
trabalhar sobre o canabigerol,
que é um precursor do THC
dentro da planta. Usando uma
técnica que potencializa o efeito da molécula, ele fez com que
ela adquirisse grande atividade
hipotensiva sem grandes efeitos colaterais. O fármaco foi batizado canabigerol-DMH.
Maor, descendente de judeus
portugueses, é maranhense da
cidade de Imperatriz. Ele começou a fazer pesquisa em farmacologia depois de passar por
estudos para rabino, carreira
que não seguiu. "Eu estava procurando algumas respostas filosóficas", diz.
Seu trabalho com o canabigerol foi feito entre 2003 e
2005, mas só agora foi revelado, porque a universidade queria patentear molécula antes.
Um estudo descrevendo o novo
fármaco foi submetido ao periódico "European Journal of
Pharmachology", e deve ser
publicado no mês que vem.
Segundo Maor, a Universidade Hebraica está em negociações com uma empresa do setor farmacêutico, que poderá
assumir a continuidade da pesquisa, com testes em humanos.
Se o canabigerol-DMH se
sair bem em testes futuros, pode ser uma droga importante
num setor vive hoje uma crise.
Muitos anti-hipertensivos
atuais têm efeitos colaterais
fortes e complicam a terapia. A
busca de uma droga menos
agressiva -como o fármaco de
Maor mostrou ser em ratos- é
considerada uma meta de
grande importância.
Outra característica desejável no canabigerol-DMH é seu
efeito antiinflamatório moderado, porque muitos remédios
populares desta classe -como
o Vioxx, que saiu das prateleiras- podem ter reações cardíacas adversas. Pacientes hipertensos obrigados a tomá-los
poderiam reduzir a dose, se a
droga hipotensiva ajudar a
controlar a inflamação.
Todas as propriedades do canabigerol-DMH foram confirmadas in vivo (com aplicação
em animais saudáveis), ex vivo
(com artérias extraídas dos
roedores) e in vitro (com cultura de células imunológicas em
laboratório, para verificar o
efeito antiinflamatório). Antes
de pedir autorização para testes em humanos, a universidade precisa apenas fazer testes
para verificar se subprodutos
da droga no corpo não podem
gerar efeito descontrolado ou
excessivamente tóxico.
Maor não deve participar
desta fase, pois em agosto segue para a Escola Médica de
Harvard, em Boston, onde investigará biologia básica de
moléculas canabinóides.
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