São Paulo, domingo, 10 de setembro de 2006 |
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+ (C)iência + Marcelo Gleiser Peculiaridades quânticas
Das várias idéias científicas propostas durante o século 20,
poucas se comparam em relevância e impacto social à física quântica, o ramo da física que descreve os
movimentos e propriedades de moléculas, átomos e partículas subatômicas. Não é para menos: a física quântica é responsável por duas revoluções
tecnológicas que essencialmente definem a sociedade moderna: a tecnologia digital dos celulares, CDs, lasers,
DVDs etc. e a tecnologia nuclear dos
reatores e das bombas.
Voltando ao elétron, o que podemos afirmar sobre os seus movimentos? De certa forma, antes de sua posição ser medida, o elétron não está em lugar nenhum e está em todos os lugares. Não devemos visualizá-lo como uma bolinha de bilhar girando em torno do núcleo, como se o átomo fosse um sistema solar em miniatura. O elétron pode também ser visto como uma onda que está em muito lugares ao mesmo tempo. Porém -e aqui algo de muito estranho ocorre-, quando uma medida é feita, o elétron "escolhe" uma órbita especifica. Uma visualização imperfeita é imaginar o átomo como um anfiteatro, cujas escadas circundam o centro. Cada degrau é uma órbita. Antes da medida, o elétron pode estar em qualquer uma das órbitas. Até mesmo em muitas delas ao mesmo tempo. Quando a medida é feita, as coisas mudam radicalmente: o ato de medir interfere na liberdade do elétron, forçando-o a escolher uma das órbitas. Qual é a escolhida? A teoria quântica nos fornece apenas probabilidades de o elétron se encontrar nesta ou naquela órbita após a medida. Se repetirmos o mesmo experimento muitas vezes, o elétron aparecerá em órbitas diferentes com probabilidades dadas pela teoria. Portanto, mesmo que o mundo quântico seja probabilístico, a teoria descreve precisamente esse comportamento. Aliás, graças a essa precisão a revolução digital foi possível. O fato de o mundo quântico ser probabilístico não é um defeito da teoria mas uma propriedade fundamental da natureza. Einstein me perdoe, mas realmente não há razão para supormos que a teoria quântica esteja incompleta. MARCELO GLEISER é professor de física teórica do Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "A Harmonia do Mundo" Próximo Texto: A estranha no ninho Índice |
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