São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 2000

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Kandel tem fascínio por memória

France Presse
Kandel em Columbia, entre Thomas Morris (à esq.) e David Hirsch


DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Eric Kandel, 70, formou-se em história e literatura na Universidade Harvard. Talvez por isso seu "Principles of Neural Science" (Princípios de Neurociência), livro de cabeceira de estudantes de neurobiologia no mundo inteiro, tenha tantas referências às artes.
Numa entrevista ontem em Nova York, Kandel se disse fascinado com a memória. "Somos o que somos por causa do que aprendemos e do que lembramos", disse o cientista, que deixou sua cidade natal, Viena, em 1939.
"Experiências traumáticas como as que eu tive em Viena e outras mais horríveis, que outros tiveram em tempos mais difíceis e que destruíram suas vidas. Entender o que acontece ao cérebro quando isso ocorre -penso que é um problema maravilhoso", afirmou, dizendo que o Nobel o deixou entre incrédulo e eufórico.
Naturalizado americano, Kandel foi fundador e hoje dirige o Centro de Neurobiologia e Comportamento da Universidade Columbia (Nova York). Tornou-se médico pela Escola de Medicina da Universidade de Nova York, especializando-se em psiquiatria na Escola Médica de Harvard.

Memórias distintas
Um dos fundadores da neurobiologia, Kandel mostrou que as memórias de curto prazo e de longo prazo possuem características bioquímicas distintas.
Memória, para as células, significa reter um sinal mesmo depois de ele ter desaparecido. Isso é medido pela resposta dos neurônios.
As células nervosas se comunicam por mensageiros químicos (neurotransmissores). Um neurônio libera essas moléculas e outro as capta em seus receptores.
Quando há uma forte estimulação em um neurônio, ele libera mais transmissores, o que aumenta a resposta do outro neurônio. Se o estímulo possuir uma certa frequência, causará modificações nos receptores do outro neurônio. O neurônio adquire "memória" quando responde intensamente mesmo depois que o estímulo forte tenha cessado.
Kandel descobriu que essas modificações podem ser de curto ou longo prazo (de algumas horas a um dia ou mais) e que isso depende de mudanças nos receptores e em proteínas celulares.
O aumento da resposta dos receptores a estímulos caracteriza a memória de curto prazo. Essas mudanças podem ser explicadas por fosforilações, mecanismo desvendado por Paul Greengard, outro ganhador do Nobel.
Kandel também mostrou que a síntese de novos receptores caracteriza a memória de longo prazo.
O cientista continua na ativa. Na edição de hoje da revista "Proceedings of the National Academy of Sciences", ele assina um artigo. O trabalho mostra como aumentar a duração da memória ao conjugar dois estímulos simultaneamente. E, como sua marca registrada, o estudo foi feito no molusco Aplysia californica, uma espécie de lesma marinha.


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