São Paulo, sexta-feira, 10 de novembro de 2006

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Primo "bruto" da humanidade também tinha dieta variada

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um estudo publicado hoje questiona a teoria de que uma dieta variada foi o que garantiu o sucesso dos ancestrais do Homo sapiens em seus primeiros milhões de anos. A descoberta é do grupo do antropólogo Matt Sponheimer, da Universidade do Colorado, que estudou dentes fósseis de Paranthropus robustus. Ele mostrou que esses hominídeos primitivos, que não são ancestrais diretos da humanidade, também também diversificavam o cardápio.
Segundo a teoria mais aceita hoje, o Paranthropus, que surgiu há 2 milhões de anos, se extinguiu 800 mil anos depois durante grandes secas, quando raízes e arbustos que comia escassearam. Já o Homo erectus, da linhagem humana, pôde variar sua alimentação devido à sua maior inteligência, que lhe permitia usar ferramentas.
Mas Sponheimer mostra hoje em estudo na revista "Science" que a história não foi bem assim. Ao analisar isótopos (variações do mesmo átomo) de carbono na composição de dentes de Paranthropus, ele viu que esse pequeno hominídeo cabeçudo e de mandíbula forte era capaz de comer sementes duras e talvez até carne.
O estudo foi possível porque plantas distintas mostram preferência por absorver isótopos de carbono diferentes. Como o carbono que nos compõe vem de nosso alimento, nossos ossos registram o que comemos. E, pelo visto, o paladar do Paranthropus era tão sofisticado quanto o de nossos ancestrais.
"O Paranthropus pode ter tido acesso a frutos secos duros apenas com seus dentes, enquanto os Homo precisavam de ferramentas", disse Sponheimer à Folha. Será preciso agora outra explicação para o sucesso dos humanos frente a outros hominídeos. "Pode ser que os Homo tenham achado um meio de aumentar sua taxa de reprodução ou, se vivessem em grupos sociais grandes, podem ter criado problema para os Paranthropus em conflitos."
Para Sponheimer, seu estudo sugere que a adaptabilidade alimentar em si pode não ter sido o grande diferencial humano. "A disparidade de inteligência pode ter sido mais importante do que se imaginava."


Leia o estudo sobre o P. robustus www.sciencemag.org


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