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POLÍTICA CIENTÍFICA
Segundo associação, estações importadas com verba de fundo setorial tinham equivalente nacional
Indústria acusa Inpe de ajudar estrangeiros
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Seria em princípio um procedimento normal. Em abril, o Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais) comprou de um fabricante estrangeiro 80 plataformas
de coleta de dados, no valor de
US$ 1,2 milhão. Mas, segundo a
Associação de Indústrias Aeroespaciais do Brasil, a compra foi feita em detrimento de um equivalente de fabricação nacional. A
verba partiu dos fundos setoriais,
que teoricamente deveriam fomentar a inovação dentro do país.
O Inpe alega que o equivalente
nacional na verdade é feito por
subsidiária de uma empresa americana e diz que o equipamento
não estava propriamente qualificado para funcionar em conjunto
com a rede de cerca de 600 plataformas, conectadas via satélite.
Walter Bartels, o presidente da
Aiab, apresentou a denúncia em
carta endereçada ao diretor do Inpe, Luiz Carlos Miranda, e enviada também a Carlos Américo Pacheco, secretário-executivo do
MCT (Ministério da Ciência e
Tecnologia), e a Ildeu de Castro
Moreira, da equipe de transição
na área de CT&I (Ciência, Tecnologia & Inovação). Bartels sugere
que o instituto tenha deliberadamente optado pela compra no exterior, "apesar de existir empresa
nacional fornecedora na área de
São José dos Campos".
A novela da compra das estações de dados meteorológicos já
se arrasta desde 2001, quando foi
aberta, e depois revogada, uma licitação para sua aquisição.
O projeto então passou às mãos
da Funcate (Fundação de Ciência,
Aplicações e Tecnologia Espaciais), tradicional parceira do Inpe. Ela recebeu recursos da Finep
(Financiadora de Estudos e Projetos), originalmente recolhidos
por meio do Fundo de Energia do
MCT (um dos fundos setoriais
criados para o ministério para fomentar CT&I no país), para efetuar a compra das estações. O
CPTEC (Centro de Previsão de
Tempo e Estudos Climáticos) do
Inpe foi listado como executor.
Quando a compra é realizada
por fundação, ela não precisa passar por licitação. Basta uma simples coleta de preços. E aí começa
a confusão de versões. Segundo a
Aiab, a empresa Squitter do Brasil
teria se apresentado na licitação
original (revogada por falta de
tempo para conduzir o procedimento até o fim do ano, após uma
das empresas participantes ter entrado com um recurso contra o
resultado, em 31 de dezembro de
2001), mas não foi nem consultada na nova tomada de preços.
A versão que circula na direção
do Inpe, segundo a Folha apurou,
é a de que nenhuma empresa nacional havia se apresentado para a
licitação original. Havia, sim, uma
Squitter, mas a Squitter Electronics, empresa com sede na Flórida, criada em 1994. A subsidiária
brasileira surgiu só em 1998.
Nessa primeira licitação, o equipamento fabricado pela Squitter
já havia sido desqualificado, por
não possuir certificado de homologação do Inpe, garantindo que
as estações eram compatíveis
com a comunicação via satélite
exigida delas. Por isso, a empresa
nem teria sido consultada quando
recaiu sobre a Funcate a tarefa de
comprar as 80 estações.
A Folha apurou que a correspondência entre a Aiab e o Inpe
repercutiu no MCT, levando o
ministro Ronaldo Sardenberg a
pedir esclarecimentos a Miranda.
Carta aberta
Além disso, há indicações de
que o instituto passa por uma crise interna. Uma carta aberta escrita por pelo menos uma dezena de
pesquisadores do Inpe, que optaram pelo anonimato, está circulando internamente, fazendo críticas à atual direção. A diretoria
não comenta a carta, por considerá-la "apócrifa".
Entre as críticas estão uma suposta deterioração das relações
com a Agência Espacial Brasileira
(AEB), o "patrulhamento" e a
"censura" a pesquisadores e a troca de chefias e coordenadores em
projetos cuja verba junto aos órgãos de fomento à pesquisa havia
sido obtida pelos ocupantes anteriores das funções.
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