São Paulo, quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

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Testosterona aumenta a generosidade feminina

Autores do estudo querem rever relação entre o hormônio e a agressividade

Em experimento utilizando dinheiro, mais testosterona significava menos egoísmo; o próximo passo é repetir estudo com sexo masculino


RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A testosterona, o principal hormônio sexual masculino, costuma ser associada na visão popular a comportamentos másculos, agressivos. Uma nova pesquisa mostrou que o hormônio produzido principalmente nos testículos -de onde ganhou o nome- está mais para "metrossexual" do que para "machão". Mulheres que tomaram este hormônio esteroide tornaram-se mais generosas em um experimento envolvendo a partilha de dinheiro.
A fama de testosterona, que está presente em doses menores em mulheres, como causadora de comportamento antissocial é consequência de um estudo de 1969 que mostrou que ela causava aumento de agressividade em camundongos.
Essa visão é tão grande que, nos EUA, a presença excessiva de testosterona já serviu como atenuante em crimes. Também se notou que entre detentos havia mais testosterona na saliva de assassinos e estupradores do que na dos condenados por furto e uso de drogas.
Uma outra hipótese diz que, em vez de promover agressão, a testosterona estaria ligada à busca de status, especialmente nas situações mais desafiadoras -o que explicaria a maior presença nos presos violentos.
"Assim, em locais como prisões, onde hierarquias sociais rígidas impõem posições subordinadas aos indivíduos, aqueles predispostos a atingir status social podem questionar a hierarquia de maneiras antissociais e rebeldes", diz Ernst Fehr, da Universidade de Zurique (Suíça), autor do estudo publicado na revista "Nature".
O trabalho feito com 60 mulheres que participavam em duplas de um jogo de barganhar com ultimato.
As mulheres "A" e "B" têm que decidir como compartilhar um valor de dez unidades monetárias. E dinheiro real é usado. A mulher "A" propõe a divisão como um ultimato -por exemplo, uma divisão justa e generosa, 50% para cada uma, ou uma injusta - "70% pra mim, 30% para você, pois "B" não pode fazer contrapropostas; ou aceita a partilha, e as duas recebem sua parte, ou a rejeita e nenhuma ganha.
O estudo procurou controlar vários fatores que poderiam interferir no resultado. As interações entre "A" e "B" eram via computador em total anonimidade. Parte das mulheres recebeu uma dose de testosterona debaixo da língua, outras recebiam um placebo (substância inócua), mas sem saber qual.
Curiosamente, as mulheres acreditavam na teoria popular da "testosterona antissocial", por isso os pesquisadores também checaram qual substância elas achavam estar recebendo, o hormônio ou o placebo.
Pela hipótese "popular", se esperaria que as que receberam testosterona fariam ofertas mais injustas. O resultado do experimento mostrou exatamente o contrário. As que tomaram o hormônio "fizeram na verdade ofertas significativamente maiores", escreveram os autores do trabalho.
Mais ainda, eles descobriram a força do mito na cabeça das voluntárias. Mulheres que acreditavam estar recebendo testosterona fizeram ofertas menores do que as que acreditavam estar tomando placebo.
"[O estudo] joga fortes dúvidas na hipótese popular e é consistente com a hipótese de status social", dizem os autores.
O experimento serviu para mostrar também que nem tudo que funciona com roedores funciona em seres humanos. Mas o estudo ainda terá que ser feito também com homens.


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