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Testosterona aumenta a generosidade feminina
Autores do estudo querem rever relação entre o hormônio e a agressividade
Em experimento utilizando dinheiro, mais testosterona significava menos egoísmo; o próximo passo é repetir estudo com sexo masculino
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
A testosterona, o principal
hormônio sexual masculino,
costuma ser associada na visão
popular a comportamentos
másculos, agressivos. Uma nova pesquisa mostrou que o hormônio produzido principalmente nos testículos -de onde
ganhou o nome- está mais para "metrossexual" do que para
"machão". Mulheres que tomaram este hormônio esteroide
tornaram-se mais generosas
em um experimento envolvendo a partilha de dinheiro.
A fama de testosterona, que
está presente em doses menores em mulheres, como causadora de comportamento antissocial é consequência de um estudo de 1969 que mostrou que
ela causava aumento de agressividade em camundongos.
Essa visão é tão grande que,
nos EUA, a presença excessiva
de testosterona já serviu como
atenuante em crimes. Também
se notou que entre detentos havia mais testosterona na saliva
de assassinos e estupradores do
que na dos condenados por furto e uso de drogas.
Uma outra hipótese diz que,
em vez de promover agressão, a
testosterona estaria ligada à
busca de status, especialmente
nas situações mais desafiadoras -o que explicaria a maior
presença nos presos violentos.
"Assim, em locais como prisões, onde hierarquias sociais
rígidas impõem posições subordinadas aos indivíduos,
aqueles predispostos a atingir
status social podem questionar
a hierarquia de maneiras antissociais e rebeldes", diz Ernst
Fehr, da Universidade de Zurique (Suíça), autor do estudo
publicado na revista "Nature".
O trabalho feito com 60 mulheres que participavam em
duplas de um jogo de barganhar com ultimato.
As mulheres "A" e "B" têm
que decidir como compartilhar
um valor de dez unidades monetárias. E dinheiro real é usado. A mulher "A" propõe a divisão como um ultimato -por
exemplo, uma divisão justa e
generosa, 50% para cada uma,
ou uma injusta - "70% pra
mim, 30% para você, pois "B"
não pode fazer contrapropostas; ou aceita a partilha, e as
duas recebem sua parte, ou a
rejeita e nenhuma ganha.
O estudo procurou controlar
vários fatores que poderiam interferir no resultado. As interações entre "A" e "B" eram via
computador em total anonimidade. Parte das mulheres recebeu uma dose de testosterona
debaixo da língua, outras recebiam um placebo (substância
inócua), mas sem saber qual.
Curiosamente, as mulheres
acreditavam na teoria popular
da "testosterona antissocial",
por isso os pesquisadores também checaram qual substância
elas achavam estar recebendo,
o hormônio ou o placebo.
Pela hipótese "popular", se
esperaria que as que receberam
testosterona fariam ofertas
mais injustas. O resultado do
experimento mostrou exatamente o contrário. As que tomaram o hormônio "fizeram
na verdade ofertas significativamente maiores", escreveram
os autores do trabalho.
Mais ainda, eles descobriram
a força do mito na cabeça das
voluntárias. Mulheres que
acreditavam estar recebendo
testosterona fizeram ofertas
menores do que as que acreditavam estar tomando placebo.
"[O estudo] joga fortes dúvidas na hipótese popular e é
consistente com a hipótese de
status social", dizem os autores.
O experimento serviu para
mostrar também que nem tudo
que funciona com roedores
funciona em seres humanos.
Mas o estudo ainda terá que ser
feito também com homens.
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