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CIÊNCIA
Poluição do ar diminui frequência de chuvas
ISABEL GERHARDT
da Reportagem Local
A poluição dos grandes centros
urbanos pode diminuir a quantidade de chuva nessas regiões. Isso
traz como consequências a manutenção de um ar mais poluído,
a produção de chuvas ácidas e o
aumento da temperatura.
Um estudo feito por Daniel Rosenfeld, da Universidade Hebraica de Jerusalém, e publicado na
revista "Science", mostra que as
partículas de poluição podem impedir a formação de gotas com o
tamanho necessário para que elas
se transformem em chuva.
As partículas de poluentes, chamadas de aerossóis, são higroscópicas, ou seja, têm a capacidade
de absorver água, transformando-se nas gotículas que formam
as nuvens. As nuvens são feitas
pelo conjunto dessas gotículas.
O tamanho das gotículas é muito importante para que aconteça a
chuva. Uma gota de chuva é formada por milhares de gotículas
que se juntam até atingir um tamanho mínimo que a faça cair.
Segundo Mário Festa, meteorologista da USP, esse processo se
chama coalescência e é auxiliado
pela ação das correntes de ar.
O que o estudo da "Science"
mostra é que, em regiões poluídas, o tamanho das gotículas formadas com esses aerossóis é muito menor do que em regiões não
poluídas. Com isso, a formação
da chuva demora mais tempo para acontecer, pois é preciso que
muito mais gotículas se encontrem até formar uma gota com o
tamanho mínimo para cair.
Além disso, por serem menores,
as gotículas de água podem evaporar antes de se encontrar umas
com as outras, atrasando ainda
mais as precipitações.
Em entrevista à Folha, Owen
Toon, da Universidade do Colorado, nos EUA, disse que "o estudo de Rosenfeld é a primeira evidência direta de como a poluição
urbana e industrial está afetando
os níveis de chuva. Essa é uma
questão debatida pelos cientistas
há décadas, inclusive porque estudos anteriores haviam mostrado que a poluição do ar poderia
aumentar as taxas de chuva".
O estudo de Rosenfeld indicou,
com o auxílio de observações fornecidas por satélites, uma substancial redução na precipitação
em regiões poluídas.
Esse, no entanto, ainda pode ser
um ponto controverso. De acordo
com Carlos Nobre, do CPTEC
(Centro de Previsão de Tempo e
Estudos Climáticos do Inpe, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o tamanho do aerossol é
que determina o tamanho da gotícula de chuva. Se um aerossol
for muito grande, pode ter o efeito
contrário e formar gotículas de
água com tamanho suficiente para que aconteça a precipitação.
"Em uma cidade como São Paulo, a princípio, a redução da taxa
de precipitação pode aumentar a
temperatura do ar, pois as chuvas
contribuem para o resfriamento
da atmosfera", disse Paulo Artaxo, do Instituto de Física da USP.
"No entanto, as nuvens das regiões mais poluídas podem refletir de forma mais intensa os raios
solares do que nuvens de regiões
não poluídas. Com isso, há um
efeito contrário ao que seria provocado pela ausência de chuva",
acrescentou.
Segundo Artaxo, uma nuvem
comum reflete 70% dos raios solares, enquanto a nuvem "poluída" reflete até 85% da luz solar. A
maior taxa de reflexão faz com
que menos calor consiga chegar
ao solo.
A presença de partículas poluidoras no ar pode afetar não só
centros urbanos, mas também
ecossistemas, como o da região
amazônica.
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