São Paulo, sábado, 11 de março de 2000


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CIÊNCIA
Poluição do ar diminui frequência de chuvas

ISABEL GERHARDT
da Reportagem Local

A poluição dos grandes centros urbanos pode diminuir a quantidade de chuva nessas regiões. Isso traz como consequências a manutenção de um ar mais poluído, a produção de chuvas ácidas e o aumento da temperatura.
Um estudo feito por Daniel Rosenfeld, da Universidade Hebraica de Jerusalém, e publicado na revista "Science", mostra que as partículas de poluição podem impedir a formação de gotas com o tamanho necessário para que elas se transformem em chuva.
As partículas de poluentes, chamadas de aerossóis, são higroscópicas, ou seja, têm a capacidade de absorver água, transformando-se nas gotículas que formam as nuvens. As nuvens são feitas pelo conjunto dessas gotículas.
O tamanho das gotículas é muito importante para que aconteça a chuva. Uma gota de chuva é formada por milhares de gotículas que se juntam até atingir um tamanho mínimo que a faça cair. Segundo Mário Festa, meteorologista da USP, esse processo se chama coalescência e é auxiliado pela ação das correntes de ar.
O que o estudo da "Science" mostra é que, em regiões poluídas, o tamanho das gotículas formadas com esses aerossóis é muito menor do que em regiões não poluídas. Com isso, a formação da chuva demora mais tempo para acontecer, pois é preciso que muito mais gotículas se encontrem até formar uma gota com o tamanho mínimo para cair.
Além disso, por serem menores, as gotículas de água podem evaporar antes de se encontrar umas com as outras, atrasando ainda mais as precipitações.
Em entrevista à Folha, Owen Toon, da Universidade do Colorado, nos EUA, disse que "o estudo de Rosenfeld é a primeira evidência direta de como a poluição urbana e industrial está afetando os níveis de chuva. Essa é uma questão debatida pelos cientistas há décadas, inclusive porque estudos anteriores haviam mostrado que a poluição do ar poderia aumentar as taxas de chuva".
O estudo de Rosenfeld indicou, com o auxílio de observações fornecidas por satélites, uma substancial redução na precipitação em regiões poluídas.
Esse, no entanto, ainda pode ser um ponto controverso. De acordo com Carlos Nobre, do CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Inpe, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o tamanho do aerossol é que determina o tamanho da gotícula de chuva. Se um aerossol for muito grande, pode ter o efeito contrário e formar gotículas de água com tamanho suficiente para que aconteça a precipitação.
"Em uma cidade como São Paulo, a princípio, a redução da taxa de precipitação pode aumentar a temperatura do ar, pois as chuvas contribuem para o resfriamento da atmosfera", disse Paulo Artaxo, do Instituto de Física da USP.
"No entanto, as nuvens das regiões mais poluídas podem refletir de forma mais intensa os raios solares do que nuvens de regiões não poluídas. Com isso, há um efeito contrário ao que seria provocado pela ausência de chuva", acrescentou.
Segundo Artaxo, uma nuvem comum reflete 70% dos raios solares, enquanto a nuvem "poluída" reflete até 85% da luz solar. A maior taxa de reflexão faz com que menos calor consiga chegar ao solo.
A presença de partículas poluidoras no ar pode afetar não só centros urbanos, mas também ecossistemas, como o da região amazônica.


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