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São Paulo, sexta-feira, 11 de julho de 2003

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PANORÂMICA

TECNOLOGIA

Pesquisador dos EUA consegue "frear" raio de luz em temperatura ambiente
A coisa mais rápida do mundo é a luz, mas certamente não a que atravessa um cristal de alexandrita no laboratório de Matt Bigelow, da Universidade de Rochester, nos EUA. Lá, as partículas luminosas são desaceleradas a ponto de viajar a ridículos 91 metros por segundo.
Em medidas cotidianas, é uma velocidade alta: 3.276 km/h, quase três vezes a propagação do som no ar. Mas, em termos da velocidade da luz no vácuo, que percorre 300 mil quilômetros a cada segundo, é praticamente um passo de lesma.
A grande novidade do experimento de Bigelow, entretanto, não está no freio luminoso em si, já realizado antes por outros grupos que "congelaram" os fótons em nuvens gasosas mantidas em frio extremo. O sucesso é que o esquema desta vez funcionou a confortáveis 23C, a temperatura ambiente.
O pesquisador jura que o material usado não tem nada de mais. "Alexandrita não é singular. Você pode reduzir a velocidade da luz em outros materiais também. Na verdade, num estudo publicado em março, reduzimos a velocidade da luz a 57 m/s num rubi em temperatura ambiente. Estamos também investigando outros materiais."
O experimento depende da relação entre a frequência da onda luminosa e o índice de refração (capacidade de deixar a luz atravessar) do material, e é capaz de produzir não só pulsos luminosos que parecem lentos, como também outros que parecem mais rápidos que a velocidade da luz no vácuo -supostamente a coisa mais rápida que existe, segundo a teoria da relatividade.
Bigelow diz que não há violação da relatividade, embora o pulso ande tão depressa que pareça ter saído do cristal antes mesmo de ter entrado. "Ele dá mesmo a impressão de sair do material antes de entrar, mas os fótons individuais [partículas de luz] ainda estão se movendo em velocidades inferiores a c [velocidade da luz no vácuo]."
Ele explica: "É como uma "ola" numa partida de futebol. Os torcedores levantam e balançam os braços no ar por um segundo e então se sentam. As pessoas ao lado fazem o mesmo. O resultado é uma onda de movimento em torno do estádio. Se as pessoas forem rápidas o suficiente, a onda pode viajar mais rápido -digamos, 100 km/h- do que um indivíduo pode correr."
Embora a ilusão de velocidade superior a c impressione mais, o feito de transformar a luz em tartaruga é muito mais útil. Os pesquisadores especulam que a manipulação e a armazenagem de pulsos luminosos (que podem codificar informação em formato digital) no futuro encontrarão aplicações tecnológicas em telecomunicações.
(SALVADOR NOGUEIRA, DA REPORTAGEM LOCAL)


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