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Artimanhas inflam produção científica
Pesquisadores e revistas científicas criam estratégias para elevar artificialmente o impacto de seus trabalhos
Criticado por cientistas, fator de impacto é o principal critério do governo para avaliar produção científica
SABINE RIGHETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quando o professor de
ciências farmacêuticas da
Universidade Federal da Paraíba, José Maria Barbosa Filho, assumiu a editoria da
Revista Brasileira de Farmacognosia, em 2005, começou
uma espécie de revolução.
Até então desconhecida, a
revista foi inserida em bases
científicas nacionais e internacionais e ganhou posições
de causar inveja em rankings
de publicações.
O segredo está no que ele
chamou de "trabalho de garimpagem": o próprio editor
convidou pesquisadores para publicarem seus trabalhos
e recomendou que eles citassem artigos da própria revista em seus trabalhos.
A história é um exemplo
do que os editores de publicações científicas fazem para
aumentar o fator de impacto
(FI) de suas publicações.
O FI é o principal critério
utilizado pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior)
para avaliar a produção científica. O sistema criado em
1998 para fazer essa avaliação, o Qualis, tem sofrido críticas da academia.
Segundo os cientistas, o
Qualis prejudica as publicações nacionais, já que essas
revistas não têm como concorrer com o FI (índice baseado no número vezes que um
artigo é citado por outros) de
publicações internacionais.
Como estas têm mais citações e, em muitos casos,
mais prestígio no meio acadêmico, os pesquisadores
brasileiros preferem publicar
seus trabalhos fora do país.
"Os brasileiros citam pouco os trabalhos daqui e publicam os melhores artigos fora
do país. A autocitação deve
ser estimulada e isso não é
ilegal", afirmou Barbosa Filho à Folha.
MAQUIAGEM
A criatividade de Barbosa
Filho para inflar a posição de
sua revista no ranking do
Qualis não é única (veja quadro abaixo).
Segundo o professor da
UnB Marcelo Hermes-Lima,
elas derivam da política da
Capes que avalia qualidade
de produção científica por
meio de números.
"Ficam de fora do Qualis
critérios como análise de citações por região (que consideram as citações por Estado
ou país)", diz Bruno Caramelli, professor da USP e editor
da Revista da Associação Médica Brasileira.
Caramelli integra um grupo de editores científicos que
recentemente enviou um e-mail à Capes solicitando revisão dos critérios do Qualis.
"Não acredito na extinção
das revistas científicas nacionais. Mas se os cientistas
continuarem preferindo as
internacionais, ficaremos
numa situação complicada",
analisa o médico.
BRASILEIRAS
A Capes diz que não há
problemas em avaliar a produção científica pelas citações. "O fator de impacto é
uma metodologia consolidada nas últimas quatro décadas", afirma Lívio Amaral,
diretor da Avaliação Científica da instituição.
Segundo ele, a política da
Capes é manter o apoio às revistas brasileiras."Todos os
países com desenvolvimento
científico e tecnológico têm
as suas revistas. Na Europa
há revistas com 200 anos."
Juntos, Capes e CNPq distribuem cerca de R$ 5 milhões por ano para 188 revistas científicas nacionais.
Quanto melhor classificada no ranking Qualis, maior é
o montante de dinheiro que a
revista científica recebe das
instituições de apoio.
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