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PERISCÓPIO
Recriação de espécies extintas
JOSÉ REIS
especial para a Folha
Ousado sonho é recriar, pela
engenharia genética, espécies extintas, como mamutes e até mesmo dinossauros.
Essa idéia ganhou novo alento
depois que Russell Higushi e colaboradores publicaram, na revista britânica "Nature"
(312,322), trabalho sobre isolamento do material genético
(DNA) de um exemplar de
"quagga", curioso misto de cavalo e zebra cujo último exemplar
morreu em 1883.
Sabe-se, desde o começo do século, que nos fósseis se encontram restos de matéria orgânica
preservada.
Grande impulso a esses estudos deu J. Loewenstein, que desenvolveu e aplicou delicadas
técnicas imunológicas para
identificar proteínas de animais
extintos, assim como estabelecer
seu parentesco e sua idade.
A análise da estrutura das proteínas e do DNA tem, aliás, prestado grande serviço à paleontologia e à antropologia, pela identificação do grau de proximidade entre espécies e gêneros
-por exemplo, o homem e seus
antropóides.
Higushi partiu de um pedacinho de músculo encontrado em
pele, conservada em solução salina, de um "quagga" morto há
cerca de 140 anos.
Extraiu mínima quantidade de
DNA, que multiplicou por meio
de engenharia genética: primeiro, implantou o DNA num vírus
que infecta bactérias.
Depois, introduziu o vírus no
bacilo coli, ao qual se incorporou
o DNA do "quagga".
Com sua multiplicação, o bacilo também multiplica o DNA do
"quagga", facilmente reconhecível porque a ele se juntou um
isótopo radiativo.
Está, pois, Higushi de posse de
pelo menos parte do DNA de
um"quagga".
Seu objetivo é obter maior
quantidade de músculo para ter
DNA mais abundante e completo, que contenha todo o material
genético próprio de uma célula
desse animal extinto.
A partir daí, começa o sonho.
Inserir o DNA do "quagga" no
óvulo fecundado de uma zebra
bem próxima do "quagga" e retirar o núcleo, para afastar o material genético da zebra.
Assim, o óvulo da zebra ficará
só com o DNA do "quagga", o
qual deverá comandar o seu desenvolvimento, até que esse óvulo se transforme em filhote de
"quagga".
Sonho, sim, mas, em ciência,
os sonhos muitas vezes se transformam em realidade mais depressa do que imaginamos. Para
lembrar o velho Kekulé: "Se
aprenderes a sonhar, talvez descubras a realidade".
Bem mais ousado é o sonho de
produzir um dinossauro vivo.
Primeiro, a necessidade de obter
DNA de um desses fósseis. Segundo, não temos a menor indicação sobre o óvulo que poderia
receber esse DNA. Terceiro,
mesmo que dispuséssemos desse óvulo, surgiria o problema de
como incubá-lo. E se conseguíssemos tudo isso, e obtivéssemos
o dinossaurinho vivo, apareceria
o mais grave dos problemas: o
que fazer com ele?
Tudo isso aconteceu em decorrência dos progressos da inseminação artificial, do implante e da
transferência de embriões, da
fertilização em tubo de ensaio e
da conservação, em temperaturas muito abaixo de zero, de células germinativas e embriões
em início de formação.
Particular interesse desperta a
possibilidade de conservar sêmen, óvulos e embriões, em início de formação, congelados
muitos graus abaixo de zero. Teremos, no futuro, zôos congelados, nos quais a parte excedente
da população seria guardada no
laboratório como células reprodutoras e embriões congelados.
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