São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2008

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Diretor do Cern diz querer acordo com Brasil para ampliar parceria científica

DE GENEBRA

Uma nova era no estudo da física teve início ontem, garante Robert Aymar, diretor-geral do Centro de Física Nuclear Europeu (Cern), que abriga o superacelerador de partículas LHC. Em conversa com a Folha, ele disse ser impossível prever como o experimento mudará a ciência. Mas aposta que ele fornecerá respostas não só às perguntas que são feitas há décadas, mas àquelas que ainda não foram feitas.

 

FOLHA - Alguns temem que o LHC irá criar mais perguntas novas do que fornecer respostas às questões antigas da física. O que acha disso?
AYMAR
- Pelo contrário. Acho que o LHC vai responder a perguntas que nem sequer fizemos. Este projeto é único porque com ele iremos explicar coisas que sabemos existir, como a matéria escura. Mas temos muitos modelos que são contraditórios e eles serão testados aqui. A pesquisa científica não serve só para confirmar o que já sabemos, mas para fazer novas descobertas.

FOLHA - O sr. disse que hoje [ontem] começa uma nova era na física. É possível antever para onde ela levará a ciência?
AYMAR
- Está tudo aberto. Pode ser que os resultados mostrem que há no mundo dois tipos de partículas, as que conhecemos hoje e as que chamamos de supersimétricas. E que o primeiro tipo é o das partículas que existiam no início do Universo e o segundo as que formam a matéria escura. Se for isso, e as partículas supersimétricas existirem, será possível convergir as quatro forças, que serão unificadas.

FOLHA - O Brasil ganharia se entrasse como país associado do Cern?
AYMAR
- Nossa cooperação com alguns cientistas do Brasil é antiga, mas nos últimos três anos ocorreu uma mudança quantitativa. A Comissão Européia lançou um programa para ajudar cientistas da América Latina a ficarem no Cern de três a seis meses. Isso permitiu que a conexão se fortalecesse.
Minha esperança é de que esse programa, que termina no ano que vem, seja substituído por um acordo direto com o governo brasileiro.

FOLHA - Alguns físicos brasileiros consideram que o custo da associação seria melhor investido em pesquisa no país. Qual a sua opinião?
AYMAR
- Para haver progresso na pesquisa e colher seus frutos é preciso tempo e continuidade. A condição de membro associado é algo bastante livre e as contribuições variam. O primeiro passo é ter os cientistas a bordo, o que já acontece hoje.
Se o Brasil quiser continuar essa aproximação para se tornar membro associado, teremos o maior interesse em ajudar. Mas é um processo gradual. (MN)


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