São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2008

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Brasil fará 1ª missão ao interior antártico

Grupo acampará 2.000 km ao sul da ilha onde fica a estação de pesquisa brasileira; objetivo é obter registro climático

Missão e laboratório para análise de gelo integram participação brasileira no Ano Polar Internacional, que se encerra em 2009

Nupac/UFRGS
Brasileiro em trabalho de campo na Antártida no ano passado, em missão de Brasil, Chile e EUA

CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA

Depois de quase três décadas fazendo pesquisas na Antártida, o Brasil realizará neste ano sua primeira expedição ao interior do continente. No dia 20 de novembro, sete cientistas do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro partem para o deserto antártico, onde ficarão até janeiro acampados sobre o manto de gelo, enfrentando temperaturas de 35 C negativos e os piores ventos do mundo.
A expedição voará até Patriot Hills, região a cerca de 2.000 km da ilha Rei George, onde fica a estação brasileira Comandante Ferraz. Em seguida, atravessará mais 400 km até Mount Johns, área na qual o manto de gelo é mais alto.
O objetivo da missão é duplo: primeiro, perfurar o gelo para coletar dados sobre como o clima variou na região nos últimos 300 anos. Depois, ampliar a área de pesquisas do Programa Antártico Brasileiro, até agora restrito ao mar e ao litoral do continente.
"Estamos com o navio em Recife. Para chegar até Manaus ainda falta muito", diz glaciologista Jefferson Simões, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), comparando a distância entre a zona de pesquisas do Brasil e o interior do continente antártico.
Simões será o líder da expedição, que levará ainda um cientista chileno. Ele já esteve duas outras vezes no interior do continente, mas em missões binacionais ou trinacionais.
A missão integra a participação brasileira no Ano Polar Internacional, grande esforço de cooperação científica que se encerra em 2009. Paralelamente a ela, será instalado na UFRGS o Laboratório Nacional de Testemunhos de Gelo.
Ali poderão ser armazenados e analisados cilindros coletados no manto glacial que fornecem um registro preciso de como o clima variou no planeta em diferentes pontos do passado.
A composição química das bolhas de ar aprisionadas nas colunas de gelo da Antártida forneceu aos cientistas, por exemplo, a prova de que nunca nos últimos 650 mil anos os níveis de gás carbônico na atmosfera estiveram tão altos quanto hoje. Esse dado é uma das principais novidades do relatório de 2007 do painel do clima da ONU que pôs o aquecimento global na ordem do dia.
Além de permitir aos brasileiros fazer as próprias análises do gelo antártico, o laboratório vai analisar o gelo dos Andes para reconstituir o ciclo hidrológico da Amazônia no passado.
O laboratório e a expedição estão sendo bancados por uma verba de R$ 10 milhões do MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia) para financiar uma dezena de projetos de pesquisa brasileiros no Ano Polar. O dinheiro foi um alento ao programa antártico nacional, que durante a maior parte de sua história sobreviveu com verbas anuais menores que R$ 1 milhão para fomento à ciência.
Simões e outros cientistas dizem esperar, agora, que o novo patamar de financiamento se mantenha nos próximos anos.


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