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MEDICINA
Sala com nível de segurança 3+ é a primeira do Brasil para lidar com microrganismos perigosos e pouco conhecidos
Laboratório da USP vai abrigar supervírus
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Daqui só sai vivo o pesquisador", brinca o biomédico Edison
Luiz Durigon, 47. A verdadeira
prisão de segurança máxima biológica à qual o pesquisador do
ICB (Instituto de Ciências Biomédicas da USP) se refere deve ser
inaugurada, hoje, às 14h. É o primeiro laboratório de nível de
biossegurança 3+ do Brasil, capaz
de lidar com vírus desconhecidos
e potencialmente letais.
O Laboratório Klaus Eberhard
Stewien ganhou o nome de um virologista alemão naturalizado
brasileiro que ajudou a conter a
paralisia infantil no país. Foi
construído com investimento de
R$ 1 milhão da Fapesp (Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo). Até o final do ano
que vem, outras instalações tão
seguras quanto ele devem ser
concluídas na USP de Ribeirão
Preto, no Instituto Adolfo Lutz da
capital e na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto.
Doenças emergentes
"Parece que o final do século
passado e o começo deste têm sido das doenças emergentes", diz
Durigon. "E a preocupação com o
bioterrorismo também é algo
mundial. Por isso é importante
normatizar a pesquisa nessa área:
ou você tem os requisitos necessários para manipular esses agentes
transmissores, ou desiste de estudá-los", afirma o pesquisador,
que já teve de parar pesquisas
com vírus influenza (aparentados
ao da gripe) isolados de aves migratórias por não contar com as
instalações necessárias.
Ao lado de seus colegas Paolo
Zanotto, também do ICB, e
Eduardo Massad, da Faculdade
de Medicina da USP, Durigon
coordena a Rede de Diversidade
Genética de Vírus da Fapesp, cujo
principal objetivo é exatamente
mapear tipos de vírus pouco conhecidos -os chamados emergentes- e avaliar o risco que oferecem para a saúde humana. Para
lidar com esses inimigos ainda
misteriosos, o único jeito é implementar laboratórios NB3+ (leia o
quadro acima).
As condições da sala de 50 m2
são monitoradas constantemente
por computador, que verifica se a
temperatura é a desejada (por volta de 20C) e se a pressão atmosférica do laboratório é menor que a
de fora, para evitar que o ar do recinto leve os patógenos para o exterior. O ar é filtrado duplamente:
quando entra e quando sai.
Para entrar no laboratório, os
visitantes precisarão se despir e
envergar um macacão impermeável cujo tecido, estruturado como
um filtro, impede a passagem de
quaisquer bactérias. Uma máscara (que também tem seu filtro de
ar), luvas e óculos completam o figurino. "Uma das poucas diferenças entre o nosso laboratório e um
de nível 4 é que, no nível superior,
as pessoas usam uma tubulação
para respirar só o ar de fora", explica Durigon.
A sala trata seu próprio esgoto e
sua própria água, aquecendo-a a
140C e depois resfriando-a, tudo
para eliminar intrusos virais indesejáveis. Para sair, é preciso tomar
uma ducha com 20 litros de água
com cloro desinfetante, seguida
de mais 30 litros de água pura.
Além do vírus da Sars (pneumonia atípica), a equipe vai investigar arbovírus (o grupo do vírus
da dengue), hantavírus (transmitidos pelas fezes de roedores silvestres e causadores de pneumonias hemorrágicas) e o vírus do
oeste do Nilo, que não chegou ao
Brasil, mas já matou 200 pessoas
nos EUA neste ano.
Para Paolo Zanotto, o problema
dos vírus emergentes, em geral
surgindo em áreas desmatadas,
tem de ser levado a sério: "Há 2
milhões de febres desconhecidas
por ano na Amazônia", ressalta.
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