|
Próximo Texto | Índice
Biólogos mapeiam diferenças no DNA dos cães de raça
Cientistas analisaram genoma de 275 animais de dez raças diferentes; estudo ajuda a compreender doenças humanas
Pesquisa identificou genes como o que confere pele enrugada ao shar-pei e o que faz uma variedade de poodle ter tamanho menor
GIULIANA MIRANDA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A pele enrugada do shar-pei,
o tamanho compacto do poodle
toy e várias características
marcantes dos cachorros de raças domésticas estão sendo finalmente mapeadas. No mais
abrangente estudo já feito sobre o DNA dos cães, pesquisadores vasculharam o código genético de 275 animais de dez
raças diferentes e identificaram alguns genes responsáveis
pela aparência desses bichos.
O resultado do trabalho, descrito em um estudo publicado
hoje na revista "PNAS", mostra
as marcas da interferência humana no DNA dos cachorros.
Durante séculos, as técnicas
de criação e reprodução canina
têm produzido animais moldados de acordo com a vontade
dos humanos. Essas alterações
não são necessariamente favoráveis aos bichos, mas, por
meio de seleção artificial, foram incorporadas às raças.
Os cães de raça acabaram virando uma ótima plataforma
de estudos para geneticistas,
pois variam muito de características. Um estudo americano
do ano passado, por exemplo, já
tinha mapeado as diferenças de
pelagem entre os cachorros.
"Os cães são um objeto de estudo fantástico, porque têm
uma das maiores variações de
fenótipos [características manifestas] entre os mamíferos",
disse à Folha o líder da pesquisa na "PNAS", Joshua Akey, da
Universidade de Washington.
A partir da análise de mais de
3.500 amostras de DNA, os
cientistas identificaram 155 regiões do genoma dos cachorros
que, potencialmente, seriam
responsáveis por traços característicos, como a cor do pelo e
o tamanho do patas. Ao cruzar
as informações, eles avaliaram
a incidência das combinações
genéticas e os efeitos que elas
causam sobre as raças.
Embora preliminares, os resultados sugerem que a maioria dos aspectos marcantes das
raças seriam causados por um
gene específico, ou por um pequeno grupo deles. "Isso é um
passo importante, porque mostra que os criadores deram novos atributos a seus cachorros
simplesmente recrutando uns
poucos genes responsáveis por
esses traços em outras raças",
avalia Mark Neff, da Universidade da Califórnia em Davis,
que coordenou a análise.
Alguns dos grupos mapeados, que reuniam em média 11
genes, foram achados em raças
parecidas. Por isso, os cientistas atribuem a eles os aspectos
gerais da composição física dos
cães. A aparência de miniatura
dos bichos do grupo toy, por
exemplo, adviria de uma variação do gene IGF1, que influencia as dimensões dos animais.
Outros genes têm efeito exclusivo em certas raças. Uma variação do gene HAS2, por
exemplo, causa o enrugamento
da pele do shar-pei.
Uma das descobertas mais
importantes do estudo, segundo os cientistas, foi a correspondência da ação de certos genes também em humanos.
O gene HAS2, nas pessoas,
provoca deformações graves na
pele. As mesmas variações no
gene HGMA2, apontado pelos
cientistas como possível responsável pela regulação do tamanho do dachshund, também
causam nanismo no homem.
Como os cães vivem no mesmo ambiente e, muitas vezes,
sofrem das mesmas doenças
que as pessoas, o estudo de
suas características pode ajudar na pesquisa sobre doenças
humanas, dizem os cientistas.
"A descoberta da localização
e da função dos genes nos cães
ajuda a identificá-los no homem e foi uma das nossas motivações", afirma Akey.
Próximo Texto: Domesticação: Diversidade das raças é fenômeno mais recente Índice
|