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Fapesp quer dez genomas em 2001
Caio Guatelli/Folha Imagem
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Cientistas do Instituto Ludwing que trabalham no sequenciamneto dos genes ligados ao câncer |
SALVADOR NOGUEIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Pelo menos dez novos genomas
devem ter seu sequenciamento
iniciado em 2001 no que depender da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo). A informação vem do diretor científico da instituição, José
Fernando Perez.
Segundo ele, os novos organismos a serem sequenciados ainda
não estão definidos, mas devem
incluir um fungo responsável pela
doença vassoura-de-bruxa no cacau (Crinipellis perniciosa) e uma
"bactéria muito importante para
a saúde pública brasileira", que
ele não quis revelar.
Para Perez, a expansão dos programas genômicos brasileiros é
apenas uma consequência da
crescente evolução do país nessa
área de pesquisa. "Quando se chega a uma estrada de alta velocidade, se quiser continuar no jogo,
você não tem opção a não ser acelerar", compara.
A entrada nessa autopista aconteceu em janeiro de 2000, quando
o Brasil entrou para o seleto grupo de países que chegaram a concluir a decifração do genoma de
um organismo, ao sequenciar todas as letras que compõem as informações genéticas da Xylella
fastidiosa, bactéria responsável
pela doença do amarelinho, que
assola as plantações de laranja.
O trabalho, realizado por 35 laboratórios e financiado pela Fapesp, levou os pesquisadores brasileiros para a capa da revista
"Nature", em julho do ano passado, e abriu portas para novos estudos com Xylella -desta vez para analisar a variedade da bactéria
que ataca vinhas na Califórnia.
Metade do financiamento da
nova pesquisa veio dos EUA. O
trabalho só veio para o Brasil após
uma disputa com o JGI (Joint Genome Institute), renomada instituição de sequenciamento.
Assumindo a ponta
Foi uma das grandes vitórias
brasileiras, segundo Perez. "O JGI
tinha se oferecido para fazer muito mais rápido e de graça, mas,
mesmo assim, acabamos ficando
com o trabalho", conta.
E a investida brasileira na área
não ficou na Xylella. Em janeiro
deste ano, a Fapesp anunciou a
conclusão de seu segundo genoma: o da bactéria Xanthomonas
citri, responsável pela doença do
câncro cítrico, que ataca 25% das
plantas cítricas de São Paulo.
A bactéria teve seu código genético -5,2 milhões de letras, o dobro do da Xylella- sequenciado
por apenas 14 laboratórios e em
menor intervalo de tempo, demonstrando o progresso técnico
obtido com o primeiro projeto.
Mas nem só de bactérias vivem
os projetos da Fapesp. O projeto
Genoma da Cana-de-Açúcar chegou aos 50 mil genes sequenciados em dezembro do ano passado. O estudo já está em uma fase
que os pesquisadores estão chamando de "genoma aplicado",
em que os cientistas estão procurando genes específicos para solucionar os principais problemas
que assolam as plantações.
A abordagem do projeto é diferente da usada para as bactérias.
Neste caso, a Rede Onsa (grupo
de 65 laboratórios credenciados
pela Fapesp) sequenciou apenas
as letras que fazem parte de genes,
em vez de sequenciar o genoma
completo, como foi feito com a
Xylella e a Xanthomonas.
Assim também é o Projeto Genoma Humano do Câncer, uma
parceria entre a Fapesp e o Instituto Ludwig de Pesquisas sobre o
Câncer. Como o da cana, este projeto só trabalha com o sequenciamento de RNA (ácido ribonucléico, molécula que transmite os genes que efetivamente estão ativados na célula).
Até o final do ano passado, mais
de 1 milhão de sequências genéticas já haviam sido depositadas em
bancos de dados internacionais,
fazendo do Brasil o segundo
maior depositante de sequências
humanas no mundo.
Genoma humano
"Esse projeto adquire uma importância ainda maior com a publicação do genoma humano",
afirma Perez. "Embora nós não
façamos parte do grupo que sequenciou o genoma, muitas das
sequências deles foram obtidas a
partir de nosso projeto."
E o estudo do genoma do câncer
pelos grupos brasileiros deve tomar uma direção pioneira num
futuro próximo. É o Genoma Clínico do Câncer, uma extensão do
projeto que pretende ir "da bancada ao consultório".
A proposta, ainda experimental, é de unir a medicina e a genômica, fazendo o acompanhamento de casos clínicos usando a perspectiva da genética. "Pretendemos unir as duas pontas", diz.
Projeto federal
Indo na cola dos projetos genoma iniciados pela Fapesp, o Ministério da Ciência e Tecnologia
anunciou em dezembro o Projeto
Genoma Brasileiro, que irá sequenciar as bases genéticas da
Chromobacterium violaceum,
uma bactéria que processa minério de ouro, vive no rio Negro e
poderia ser eficaz no tratamento
de endemias, como a doença de
Chagas e a leishmaniose.
O projeto está sendo coordenado por Andrew Simpson, pesquisador do Instituto Ludwig que
coordenou o sequenciamento da
Xylella. A verba, de R$ 8 milhões,
é do Ministério da Ciência e Tecnologia e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
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