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TECNOLOGIA
Material criado em forno de microondas armazena 250 vezes mais dados que um dispositivo convencional
Ufscar "turbina" memória de computador
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O nome é bem mais difícil de ser
memorizado do que o do silício,
mas há uma boa chance de que o
titanato de bário e chumbo se torne quase tão famoso quando o assunto são computadores. Cientistas da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos) usaram essa
molécula para projetar chips que
podem armazenar até 250 vezes
mais memória no mesmo espaço.
O processo de fabricação da
substância já rendeu o registro de
uma patente e o interesse de uma
grande empresa do ramo eletrônico, afirma o químico Elson Longo, 62, do Departamento de Química da Ufscar. "Só não sei se eles
vão querer fabricar o chip ou simplesmente comprar a patente para que outros não o fabriquem",
brinca o pesquisador, que não revela o nome da empresa.
Um dos motivos que levou Longo e seus colegas a escolherem o
titanato de bário e chumbo como
ingrediente central de seu novo
chip é a chamada constante dielétrica, uma medida da dificuldade
enfrentada por elétrons (partículas que formam a corrente elétrica) para atravessar um material.
Para um mecanismo armazenador, interessa que a constante esteja lá nas alturas, porque os elétrons ficam presos nele com grande eficiência, e assim a informação contida neles é guardada em
segurança.
O óxido e o nitreto de silício, hoje usados para essa função, têm
constante dielétrica de apenas 7.
Outros pesquisadores, com o titanato, já tinham conseguido constantes em torno de 700, mas usando métodos complicados e caros.
Longo e seus colegas conseguiram elevar o número para 1.800,
250 vezes mais que o dos compostos de silício, com a ajuda de uma
solução caseira -literalmente.
O problema, explica o químico,
é que os métodos antes usados
para construir o filme de titanato
criavam uma estrutura desorganizada na molécula. "Era como se
você construísse um prédio de
dez andares, mas só terminasse
três deles." E a capacidade de reter
os elétrons (e a informação) depende diretamente dos vãos atômicos bem-organizados no filme.
Dois procedimentos simples e
baratos, feitos em fornos, resolveram esse problema. Em primeiro
lugar, a equipe mistura titânio,
bário e chumbo com ácido cítrico
(substância presente em qualquer
suco de laranja ou limão).
Essa primeira mistura forma
um polímero (tipo de molécula
com várias unidades iguais repetidas) cuja organização já está a
meio caminho andado da necessária: os átomos de oxigênio, doados pelo ácido, já estão todos no
lugar certo, ou seja, em volta do
átomo de titânio.
Uma passagem de quatro horas
num forno normal elimina os resíduos orgânicos do ácido cítrico.
Finalmente, dez minutos em
qualquer microondas caseiro arrematam o processo: "Descobrimos que as microondas têm o poder de orientar o material [para
aumentar a constante dielétrica]",
explica Longo. "O método é totalmente original."
De quebra, a equipe acoplou
outro novo material ao protótipo
de chip.
Trata-se do niquelato de lantânio,
que entraria no lugar da platina,
hoje usada como material condutor no "sanduíche" de alta tecnologia que forma a estrutura dos
chips. A vantagem é que o novo
eletrodo tem estrutura compatível com a do titanato, deixando o
funcionamento do sistema todo
bem mais suave.
Para Longo, um chip com os
novos materiais tem possibilidade de transformar um disco rígido que hoje armazena só um gigabyte numa biblioteca de 250 gigabytes. O que ele não pode fazer,
no entanto, é aumentar a velocidade com que um computador
processa as informações.
"A velocidade de processamento depende da condução", afirma
o pesquisador, papel que não cabe
ao óxido de silício ou a seu possível substituto, o titanato.
O trabalho foi divulgado pelo
jornal "Ciência e Tecnologia", de
São Carlos, e pela revista "Pesquisa Fapesp" (revistapesquisa.fapesp.br), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo, que financia o estudo.
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