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São Paulo, sábado, 12 de abril de 2003

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ARQUEOLOGIA

Dados mostram que invasão de Israel por faraó ocorreu logo depois da morte do monarca hebreu, em 925 a.C.

Nova data de sítio confirma poderio do rei Salomão

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma guerra no Oriente Médio -igualmente brutal, mas bem mais antiga que a do Iraque- foi agora corretamente identificada, no tempo e no espaço, por cientistas em Israel.
O aperfeiçoamento da cronologia histórica dá apoio à hipótese de que o rei hebreu Salomão, glorificado na Bíblia como soberano sábio e poderoso, de fato pode ser qualificado ao menos com o segundo desses adjetivos, pela imponência das construções agora confirmadas como obras suas.
Usando o tradicional teste de carbono-14 para datação, os arqueólogos puderam localizar o ponto correspondente à destruição da cidade israelita de Rehov durante uma campanha do faraó egípcio Shoshenq 1º, mencionado na Bíblia como Shishak (ou Sesac). A invasão do faraó é narrada no Primeiro Livro dos Reis (capítulo 14, versículos 25-26) e no Segundo Livro das Crônicas (capítulo 12, versículos 3-4).
Rehov foi destruída e reconstruída muitas vezes, deixando várias camadas de ocupação, entre as quais figuram as marcas dos incêndios que ocorreram durante suas tomadas e saques. Para as datações com carbono-14 foram usados grãos e caroços de azeitona carbonizados desses estratos marcados pela guerra.
O estudo, coordenado por Hendrik J. Bruins (Universidade Ben Gurion do Negev, em Israel), saiu na última edição da revista científica norte-americana "Science" (www.sciencemag.org).
"Para a Idade do Ferro em Israel, em relação aos dados bíblicos sobre Salomão, o sincronismo com o faraó Shishak em geral e sua campanha militar em particular é de extrema importância, por causa do elo textual direto com a cronologia do antigo Egito", disse Bruins à Folha.
"Pela primeira vez nós fomos capazes, baseados em datação independente de radiocarbono, e não meramente na opinião acadêmica, de associar uma camada específica de destruição da Idade do Ferro com o faraó Shishak", afirma o pesquisador. "Isso significa que essa camada pode ser considerada "salomônica", porque os textos em hebraico antigo dizem que Shishak e Salomão estavam vivos e ativos no mesmo período."
Salomão é tradicionalmente considerado um dos mais poderosos reis hebreus, construtor do templo de Jerusalém e de grandes fortificações em cidades como Megido, Hazor e Gezer. A imponência das construções do período salomônico em Tel Rehov indicariam que a visão tradicional de Salomão como um grande rei estaria correta.
Uma historiografia e uma arqueologia revisionistas, no entanto, procuraram mostrar que esses grandes complexos arquitetônicos na verdade seriam construções mais recentes, e que a glorificação dos reis Davi e seu filho Salomão era exagerada. Os dois teriam sido meros chefes tribais.
A data aceita pelos historiadores para o ataque egípcio é em torno de 925 a.C., ou cinco anos depois da morte de Salomão. Depois dele, a monarquia hebraica partiu-se em dos reinos, Israel e Judá.
"As datações por radiocarbono se relacionam muito bem com a cronologia egípcia. É inconsistente aceitar Shishak e Jeroboão e rejeitar Salomão. Todos os três são mencionados no texto", diz Bruins. Jeroboão usurpou do filho de Salomão o reino de Israel.


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