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Estudo mostra como o câncer progride
Formação de novos tumores, a partir do foco inicial da doença, é causada por um grupo de quatro genes, diz estudo
Para autor do trabalho, elo
descoberto agora nas cobaias é um caminho sólido para que novas drogas sejam desenvolvidas
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos caminhos para o
combate ao câncer é evitar que
os tumores secundários, chamados pelos médicos de metástases, se formem. Com os resultados científicos apresentados
hoje na revista "Nature" essa
via de acesso, por onde podem
entrar os medicamentos, está
definitivamente aberta.
Cientistas liderados pelo
pesquisador Joan Massagué,
do Instituto Médico Howard
Hughes, dos Estados Unidos,
conseguiram identificar um
grupo de quatro genes responsável por carregar as células
doentes do tumor inicial para
as metástases.
A pesquisa, feita em cobaias,
identificou principalmente o
espalhamento das células cancerígenas entre o câncer de mama e o pulmão. "É totalmente
possível que isso ocorra em outros tipos de câncer. Nós precisamos achar isso agora", disse
Massagué à Folha.
Para o cientista, catalão de
nascimento, "é o tempo agora
que vai dizer" se esses processos são universais. "Nós estamos estudando isso em outros
tipos de câncer que também invadem o pulmão, como o câncer de cólon", explica.
Pegando carona em estudos
feitos anteriormente, como
sempre ocorre na ciência, o
grupo de pesquisa americano
fez várias experiências com os
quatros genes.
Quando apenas um deles foi
desligado, tanto o desenvolvimento do tumor primário
quanto o da metástase presente no pulmão do rato tiveram
apenas uma pequena redução
de tamanho.
A situação se alterou bastante quando pares de genes foram inativados pelos pesquisadores. Nesse caso, a progressão
dos dois tipos de tumor foi
mais lenta do que o normal.
Mas, ao desligar os quatros
genes ao mesmo tempo, os
cientistas perceberam que a
velocidade da progressão do
câncer não diminuiu.
Em compensação, a anatomia do câncer é que mudou.
Como resultado disso, houve a
formação de pequenas metástases apenas.
"Na verdade, alguns genes
estão envolvidos com o desenvolvimento de novos tumores,
outros, especificamente, promovem a disseminação dessas
células cancerígenas para outros órgãos. Mas, esse grupo de
quatro genes parecem que são
requisitados para os dois processos", disse Gerhard Christofori, pesquisador da Universidade de Basel, na Suíça, que comentou o trabalho do grupo
americano na "Nature".
Foco clínico
Os cientistas liderados por
Massagué foram um pouco
mais adiante. Com base em
drogas que já existem no mercado os pesquisadores resolveram montar um coquetel de
dois remédios para aplicar nos
ratos. Já se sabia que cada uma
delas agiam contra os genes, de
forma individual.
O resultado, como era esperado por causa dessa nova descoberta, foi positivo. Os medicamentos fizeram efeito sobre
os tumores.
"Nossos dados abrem um caminho sólido o suficiente para
garantir que sejam feitos testes
em pacientes. Precisamos, porém, saber os resultados desse
testes para saber o quanto significativo eles serão em relação
à quimioterapia convencional",
disse Massagué.
Na mesma edição da "Nature" um outro grupo de pesquisa, da Universidade do Sul do
Texas, publicou um trabalho
que envolve 87 genes. Quando
eles foram desligados, as drogas
usadas normalmente nas quimioterapias funcionaram com
mais eficiência.
Em alguns casos, como no
câncer de pulmão, o remédio
pode ser aplicado em quantidades até mil vezes menor.
Além de obter uma via direta
para o combate ao tumor, os
cientistas também trabalham
com a hipótese de conseguir reduzir os desgastes do processo
quimioterápico.
A pesquisa feita no Texas ajuda a entender também porque
algumas drogas funcionam
bem contra certos tumores,
mas apresentam um resultado
pífio contra outros. Nesses casos é que os médicos precisam
aumentar a dose e, portanto,
correrem mais riscos de o paciente ter efeitos colaterais.
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