São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

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Periscópio

Angiogênese

José Reis
especial para a Folha

Angiogênese é a formação de novos vasos sanguíneos. Há anos se sabe que os tumores, para se desenvolverem, precisam de abundante suprimento de sangue. Sem ele o tumor não cresce nem se espalha. Daí a idéia de recorrer à inibição da angiogênese para manter estacionário o tumor, ou mesmo destruí-lo. Se isso fosse possível, poderiam os especialistas pensar em combater o tumor pela injeção diária de uma dose ou mais de um inibidor da angiogênese.
Cada célula tumoral é um misto de inibidores e estimuladores de angiogênese. Quando os dois grupos estão em equilíbrio, o tumor não cresce, mas quando os estimuladores prevalecem, o tumor revive e pode alastrar-se.
Muitos não acreditam na possibilidade de inibir os tumores pelo bloqueio da angiogênese, tratando os pacientes como se fossem diabéticos -uma ou mais doses de inibidor por dia. Entendem que, em matéria de câncer, é preciso recorrer a cirurgia e outros meios como radioterapia, que extirpam o tumor de uma vez. O perigo, todavia, são as recaídas, com o aparecimento de novos tumores mais tarde.
Pesquisadores chefiados por Noel Bach, da Northwestern University de Chicago, conseguiram extrair de tumores uma proteína, a trombospondina, que parece ligada ao gene supressor de tumores p53. Logo depois, Judah Folkman, de Harvard, extraiu a trombostatina. Ambas as substâncias inibem a angiogênese. Experiências em animais com tumor revelaram que a trombostatina pode inibir a formação tumoral.
Chegou-se, assim, à noção de que cada célula cancerosa é um misto de inibidores e estimuladores da angiogênese. Mas o mecanismo pelo qual o equilíbrio entre as substâncias se rompe não é conhecido, embora tenha sido objeto de muita pesquisa. Começou, não obstante, uma verdadeira caçada aos inibidores, que, como os estimuladores, são produtos naturais das células tumorais. Mas logo se descobriu que a fabricação industrial da trombostatina é inviável, porque exige quantidades enormes de plasma que todavia não dão para atender às necessidades do tratamento, que tem de ser diário. Descobriu-se, entretanto, que a trombostatina auxilia os tratamentos convencionais, tanto a radioterapia quanto a quimioterapia.
Outro agente capaz de estancar em parte a angiogênese é a talidomida, substância proscrita depois que provocou malformações em bebês cujas mães a tomaram para evitar as náuseas da gravidez. Não obstante, os cientistas estão pesquisando os efeitos da talidomida como antagônicos da angiogênese.
Novo caminho que tem sido pesquisado consiste em bloquear os vasos colocando ao longo de seu caminho natural receptores capazes de desviá-los, estancando a ação dos vasos. O bloqueio se faz por meio de anticorpos contra os receptores dos vasos. Até agora já se identificaram pelo menos dois receptores, mas não se dispõe de dados sobre a eficácia desse processo. As pesquisas sobre o uso da antiangiogênese continuam aceleradamente, porém por ora esse campo é meramente experimental, como é a produção de novos inibidores.



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