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ASTRONOMIA
Imagens obtidas pelo telescópio espacial podem ser as primeiras de um astro do tipo ao redor de outra estrela
Hubble flagra possível planeta extra-solar
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A pesquisa de John Debes,
Steinn Sigurdsson e Bruce Woodgate pode se tornar um marco na
história da astronomia. O trio obteve imagens que podem muito
bem ser as primeiras obtidas de
planetas localizados fora do Sistema Solar -três ao todo. O esforço para confirmar a descoberta
está em andamento, e os resultados podem vir em seis meses.
"Tenho procurado enfatizar
que nossos resultados ainda são
bem preliminares", diz Debes,
pesquisador da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos EUA.
"Temos candidatos, mas ainda
precisamos demonstrar que eles
de fato estão em órbita das estrelas, não são objetos de fundo."
Os esforços de Debes e seus colegas foram apresentados recentemente num encontro realizado
em Baltimore, no Space Telescope
Science Institute, órgão responsável pela administração do Telescópio Espacial Hubble. Aliás, o
observatório orbital mais uma vez
foi protagonista do feito.
Exemplos do futuro solar
As sete estrelas inicialmente escolhidas pelos astrônomos para
observação são anãs brancas
-na verdade restos de estrelas
outrora parecidas com o Sol, mas
que agora esgotaram todo o seu
combustível e encolheram. Por
seu brilho discreto, são objetos
mais adequados para a busca de
planetas que estejam ao redor.
Em compensação, não havia
muitas garantias de que houvesse
planetas lá. Antes de encolher, em
seu suspiro final, estrelas como o
Sol costumam perder uma boa
quantidade de sua massa, em explosões que podem desestabilizar
planetas que estejam nas proximidades. Apesar disso, as estimativas atuais dão conta de que gigantes gasosos maciços (como Júpiter, ou ainda maiores) poderiam sobreviver ao processo.
Era por esses astros que Debes
estava procurando. Os sete astros-alvo foram escolhidos com
base na presença de certos metais
na atmosfera da estrela. Segundo
Debes, eram sinais de que ainda
havia atividade no espaço circundante. "Era como se ela estivesse
ali, acenando com uma bandeira,
"olhem para mim, eu tenho um
planeta'", diz o astrônomo.
De fato, próximo a três das estrelas os pesquisadores viram um
ponto que pode ser um planeta. É
impossível no momento determinar suas dimensões com exatidão, mas os três devem ter algo
entre 6 e 25 vezes a massa de Júpiter, o maior dos planetas do Sistema Solar. É muita coisa, o que
também levanta a hipótese de que
não sejam planetas gigantes, mas
anãs marrons -estrelas abortadas, que encerraram sua formação sem juntar gás suficiente para
iniciar a fusão nuclear.
A linha divisória entre anãs
marrons e planetas gigantes ainda
é muito debatida entre os astrônomos. "Ninguém sabe dizer exatamente quando um planeta pára
de ser um planeta e uma anã marrom começa a ser uma anã marrom", diz Debes. "O estudo de objetos como os que vimos pode
ajudar a elucidar essas questões."
Drible no ilusionismo
Para encontrar esses astros, os
cientistas precisaram aplicar um
truque. Tiraram duas fotos da
mesma estrela, mas entre uma e
outra giraram levemente o telescópio espacial. Dessa maneira, todos os objetos reais em uma das
fotos sofreriam uma ligeira rotação na outra, mas as distorções
causadas pelo brilho excessivo da
estrela permaneceriam as mesmas. Processando as imagens
desse modo, conseguiram identificar os candidatos a planeta.
Debes parece estar convencido
de que não está vendo artefatos
ilusórios na imagem. "Estamos
extremamente confiantes de que
é um objeto", ele diz. A maior dúvida na verdade diz respeito à posição desses astros. Será que eles
estão girando em torno das estrelas, como parecem estar, ou são só
objetos bem mais distantes, vistos
ao fundo da imagem?
O único jeito de responder isso é
seguir observando, para avaliar o
movimento do suposto planeta.
Um dos objetos é suficientemente
brilhante para ser acompanhado
com um telescópio terrestre, e Debes diz que tentará fazer observações num telescópio em Manau
Kea, no Havaí. Os resultados devem começar a apontar no horizonte em seis meses.
Já os outros dois astros exigirão
os esforços do Telescópio Espacial Hubble. "Eu ainda tenho um
pouco do meu tempo alocado no
Hubble, então vou usá-lo para
acompanhar um dos objetos", diz
Debes. "Mas, para acompanhar o
outro -o mais promissor dos
meus candidatos-, vou precisar
pedir mais tempo de observação."
Até lá, a dúvida persiste.
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