São Paulo, quarta-feira, 12 de maio de 2004

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ASTRONOMIA

Imagens obtidas pelo telescópio espacial podem ser as primeiras de um astro do tipo ao redor de outra estrela

Hubble flagra possível planeta extra-solar

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A pesquisa de John Debes, Steinn Sigurdsson e Bruce Woodgate pode se tornar um marco na história da astronomia. O trio obteve imagens que podem muito bem ser as primeiras obtidas de planetas localizados fora do Sistema Solar -três ao todo. O esforço para confirmar a descoberta está em andamento, e os resultados podem vir em seis meses.
"Tenho procurado enfatizar que nossos resultados ainda são bem preliminares", diz Debes, pesquisador da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos EUA. "Temos candidatos, mas ainda precisamos demonstrar que eles de fato estão em órbita das estrelas, não são objetos de fundo."
Os esforços de Debes e seus colegas foram apresentados recentemente num encontro realizado em Baltimore, no Space Telescope Science Institute, órgão responsável pela administração do Telescópio Espacial Hubble. Aliás, o observatório orbital mais uma vez foi protagonista do feito.

Exemplos do futuro solar
As sete estrelas inicialmente escolhidas pelos astrônomos para observação são anãs brancas -na verdade restos de estrelas outrora parecidas com o Sol, mas que agora esgotaram todo o seu combustível e encolheram. Por seu brilho discreto, são objetos mais adequados para a busca de planetas que estejam ao redor.
Em compensação, não havia muitas garantias de que houvesse planetas lá. Antes de encolher, em seu suspiro final, estrelas como o Sol costumam perder uma boa quantidade de sua massa, em explosões que podem desestabilizar planetas que estejam nas proximidades. Apesar disso, as estimativas atuais dão conta de que gigantes gasosos maciços (como Júpiter, ou ainda maiores) poderiam sobreviver ao processo.
Era por esses astros que Debes estava procurando. Os sete astros-alvo foram escolhidos com base na presença de certos metais na atmosfera da estrela. Segundo Debes, eram sinais de que ainda havia atividade no espaço circundante. "Era como se ela estivesse ali, acenando com uma bandeira, "olhem para mim, eu tenho um planeta'", diz o astrônomo.
De fato, próximo a três das estrelas os pesquisadores viram um ponto que pode ser um planeta. É impossível no momento determinar suas dimensões com exatidão, mas os três devem ter algo entre 6 e 25 vezes a massa de Júpiter, o maior dos planetas do Sistema Solar. É muita coisa, o que também levanta a hipótese de que não sejam planetas gigantes, mas anãs marrons -estrelas abortadas, que encerraram sua formação sem juntar gás suficiente para iniciar a fusão nuclear.
A linha divisória entre anãs marrons e planetas gigantes ainda é muito debatida entre os astrônomos. "Ninguém sabe dizer exatamente quando um planeta pára de ser um planeta e uma anã marrom começa a ser uma anã marrom", diz Debes. "O estudo de objetos como os que vimos pode ajudar a elucidar essas questões."

Drible no ilusionismo
Para encontrar esses astros, os cientistas precisaram aplicar um truque. Tiraram duas fotos da mesma estrela, mas entre uma e outra giraram levemente o telescópio espacial. Dessa maneira, todos os objetos reais em uma das fotos sofreriam uma ligeira rotação na outra, mas as distorções causadas pelo brilho excessivo da estrela permaneceriam as mesmas. Processando as imagens desse modo, conseguiram identificar os candidatos a planeta.
Debes parece estar convencido de que não está vendo artefatos ilusórios na imagem. "Estamos extremamente confiantes de que é um objeto", ele diz. A maior dúvida na verdade diz respeito à posição desses astros. Será que eles estão girando em torno das estrelas, como parecem estar, ou são só objetos bem mais distantes, vistos ao fundo da imagem?
O único jeito de responder isso é seguir observando, para avaliar o movimento do suposto planeta. Um dos objetos é suficientemente brilhante para ser acompanhado com um telescópio terrestre, e Debes diz que tentará fazer observações num telescópio em Manau Kea, no Havaí. Os resultados devem começar a apontar no horizonte em seis meses.
Já os outros dois astros exigirão os esforços do Telescópio Espacial Hubble. "Eu ainda tenho um pouco do meu tempo alocado no Hubble, então vou usá-lo para acompanhar um dos objetos", diz Debes. "Mas, para acompanhar o outro -o mais promissor dos meus candidatos-, vou precisar pedir mais tempo de observação."
Até lá, a dúvida persiste.


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