São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 2002

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54ª REUNIÃO ANUAL DA SBPC

Instrumento astronômico de baixo custo desenvolvido com tecnologia brasileira será lançado na estratosfera até o fim do ano

Telescópio vai observar centro da galáxia

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA

Um balão maior que um campo de futebol vai levar um telescópio brasileiro de duas toneladas para seu local de observação a 40 km de altitude (na região atmosférica conhecida como estratosfera).
O Masco, telescópio para detecção de raios X e raios gama desenvolvido pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), deverá ser lançado em setembro ou outubro em Nova Ponte (MG).
O lançamento é mais uma das boas notícias para a astronomia brasileira no momento. A produção científica nacional na área deu um salto de 1981 a 1995. Foram 313% mais artigos publicados em revistas científicas (contra 140% de aumento médio no mundo).
Os brasileiros passaram de 21º a 15º lugar na lista de publicações, mas se for medido o impacto desses trabalhos pelo número de citações em artigos científicos, eles sobem para o 6º lugar mundial.
As frequências em que o Masco irá operar devem ajudar a compreender melhor o interior dos objetos celestes -como um aparelho de raio-x usado para ver o interior do corpo humano.
"Queremos ver o centro da galáxia", disse o responsável pelo projeto, o astrônomo Thyrso Villela, da Divisão de Astrofísica do Inpe, em palestra ontem na 54ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). A região é pouco conhecida, embora se acredite que ali possa haver um buraco negro.
O nome Masco vem de "máscara codificada", a técnica que permite obter imagens a partir dos raios X e gama.
Esses raios têm alto poder de penetração. Por isso, a maneira de detectá-los é utilizando uma máscara constituída por orifícios distribuídos em um anteparo pelo qual a radiação de alta energia não é capaz de passar. Atravessando os orifícios, a radiação cria uma sombra captada no plano de um detetor, mais abaixo.
Para poder realizar as observações enquanto o balão se desloca pelo céu, o telescópio inclui um sistema automático, desenvolvido no Inpe, capaz de apontá-lo para os alvos de pesquisa.
O sistema permite, pela visualização de apenas três estrelas, reconhecer o ponto do céu para o qual o telescópio está apontando. A posição e luminosidade das estrelas está arquivada no computador do sistema, que usa esses dados para indicar ao telescópio que corpos celestes ele deve procurar.
O balão tem diâmetro de 150 metros, pesa 1,5 tonelada e será recheado de hidrogênio.

Barreira
Na altura em que irá operar, a densidade do ar é mínima. O ar rarefeito é ideal para observações, pois a atmosfera bloqueia a passagem de parte da radiação para o solo. A luz visível e as ondas de rádio chegam fácil ao chão. Raios X e ultravioleta são absorvidos, e radiação gama e infravermelha estão em posição intermediária.
Entre as tecnologias desenvolvidas para o projeto está a de detetores plásticos cintiladores de grande volume, que servem como uma forma de "blindagem ativa" do telescópio. Isto é, o plástico captura as partículas luminosas (fótons) indesejáveis antes que elas cheguem ao detetor e comprometam a imagem buscada.
Como não há como controlar o deslocamento do enorme balão pelo céu, o local escolhido tem de ter pouco tráfego aéreo e não estar no caminho das principais rotas de aviões. Daí a escolha do aeroporto da cidade mineira de Ponte Nova. O balão deve voar por cerca de 18 horas e, nesse período, poderá se deslocar por várias dezenas de quilômetros na atmosfera.
O curto período de operação é uma das desvantagens do balão estratosférico, se comparado com telescópios a bordo de satélites. A grande vantagem é o custo bem menor- R$ 500 mil, contra os milhões de um satélite. O custo é baixo também porque muito do equipamento foi desenvolvido no país. O maior preço isolado é o do balão, importado -US$ 150 mil.
O projeto foi concebido no fim dos anos 80, mas só deslanchou com verba inicial da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a partir de 1994.
A estrutura de sete metros que transporta o telescópio foi projetada para suportar o ambiente hostil da estratosfera, com temperaturas baixas, turbulência e ventos de até 100 km/h.



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