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54ª REUNIÃO ANUAL DA SBPC
Instrumento astronômico de baixo custo desenvolvido com tecnologia brasileira será lançado na estratosfera até o fim do ano
Telescópio vai observar centro da galáxia
RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA
Um balão maior que um campo
de futebol vai levar um telescópio
brasileiro de duas toneladas para
seu local de observação a 40 km
de altitude (na região atmosférica
conhecida como estratosfera).
O Masco, telescópio para detecção de raios X e raios gama desenvolvido pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais),
deverá ser lançado em setembro
ou outubro em Nova Ponte (MG).
O lançamento é mais uma das
boas notícias para a astronomia
brasileira no momento. A produção científica nacional na área deu
um salto de 1981 a 1995. Foram
313% mais artigos publicados em
revistas científicas (contra 140%
de aumento médio no mundo).
Os brasileiros passaram de 21º a
15º lugar na lista de publicações,
mas se for medido o impacto desses trabalhos pelo número de citações em artigos científicos, eles
sobem para o 6º lugar mundial.
As frequências em que o Masco
irá operar devem ajudar a compreender melhor o interior dos
objetos celestes -como um aparelho de raio-x usado para ver o
interior do corpo humano.
"Queremos ver o centro da galáxia", disse o responsável pelo projeto, o astrônomo Thyrso Villela,
da Divisão de Astrofísica do Inpe,
em palestra ontem na 54ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade
Brasileira para o Progresso da
Ciência). A região é pouco conhecida, embora se acredite que ali
possa haver um buraco negro.
O nome Masco vem de "máscara codificada", a técnica que permite obter imagens a partir dos
raios X e gama.
Esses raios têm alto poder de
penetração. Por isso, a maneira de
detectá-los é utilizando uma máscara constituída por orifícios distribuídos em um anteparo pelo
qual a radiação de alta energia
não é capaz de passar. Atravessando os orifícios, a radiação cria
uma sombra captada no plano de
um detetor, mais abaixo.
Para poder realizar as observações enquanto o balão se desloca
pelo céu, o telescópio inclui um
sistema automático, desenvolvido no Inpe, capaz de apontá-lo
para os alvos de pesquisa.
O sistema permite, pela visualização de apenas três estrelas, reconhecer o ponto do céu para o
qual o telescópio está apontando.
A posição e luminosidade das estrelas está arquivada no computador do sistema, que usa esses dados para indicar ao telescópio que
corpos celestes ele deve procurar.
O balão tem diâmetro de 150
metros, pesa 1,5 tonelada e será
recheado de hidrogênio.
Barreira
Na altura em que irá operar, a
densidade do ar é mínima. O ar
rarefeito é ideal para observações,
pois a atmosfera bloqueia a passagem de parte da radiação para o
solo. A luz visível e as ondas de rádio chegam fácil ao chão. Raios X
e ultravioleta são absorvidos, e radiação gama e infravermelha estão em posição intermediária.
Entre as tecnologias desenvolvidas para o projeto está a de detetores plásticos cintiladores de
grande volume, que servem como
uma forma de "blindagem ativa"
do telescópio. Isto é, o plástico
captura as partículas luminosas
(fótons) indesejáveis antes que
elas cheguem ao detetor e comprometam a imagem buscada.
Como não há como controlar o
deslocamento do enorme balão
pelo céu, o local escolhido tem de
ter pouco tráfego aéreo e não estar
no caminho das principais rotas
de aviões. Daí a escolha do aeroporto da cidade mineira de Ponte
Nova. O balão deve voar por cerca
de 18 horas e, nesse período, poderá se deslocar por várias dezenas de quilômetros na atmosfera.
O curto período de operação é
uma das desvantagens do balão
estratosférico, se comparado com
telescópios a bordo de satélites. A
grande vantagem é o custo bem
menor- R$ 500 mil, contra os
milhões de um satélite. O custo é
baixo também porque muito do
equipamento foi desenvolvido no
país. O maior preço isolado é o do
balão, importado -US$ 150 mil.
O projeto foi concebido no fim
dos anos 80, mas só deslanchou
com verba inicial da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo, a partir de 1994.
A estrutura de sete metros que
transporta o telescópio foi projetada para suportar o ambiente
hostil da estratosfera, com temperaturas baixas, turbulência e ventos de até 100 km/h.
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