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Amazônia tem 11 áreas críticas de "sumiço" de aves
Mapa da destruição cruza dados de desmate com os da distribuição de pássaros
Oito espécies ficarão sob risco se 35% da floresta cair até 2020, como prevê dado anterior; em Roraima, terra indígena serve de proteção
Gonçalo Ferraz/Cortesia
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Cercomacra carbonaria
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
A diversidade das aves amazônicas sofrerá um irreversível
impacto caso as projeções de
destruição da floresta -que pode perder 35% de sua área até
2020-forem confirmadas. O
mapa da destruição mostra que
59% do território das 11 áreas
mais vulneráveis para os pássaros deixarão de ter mata nativa.
"Essas regiões são importantes para diferentes espécies.
Muitos bichos têm uma distribuição restrita", disse à Folha o
ornitólogo Mario Cohn-Haft,
do Inpa (Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia).
O levantamento -feito pelo
cientista com o ecólogo Stuart
Pimm da Universidade Columbia, de Nova York, e mais dois
biólogos- também avalia quais
aves especificamente devem
receber atenção. Caso a previsão de 35% de desmatamento
-feita por William Laurance
em 2001- se torne realidade,
oito espécies passarão a ser
consideradas sob ameaça.
A lista mostra, por exemplo,
que a choca-de-garganta-preta
e o dançador-de-coroa-dourada, que vivem em terra firme,
passariam à categoria de "criticamente ameaçados".
Duas espécies estudadas recentemente em Roraima pela
pesquisadora Mariana Vale
(Universidade de Duke) -primeira autora do trabalho feito
agora, publicado na revista
"Conservation Biology"- também entraram na lista de grupos impactados. Tanto o xororó-do-rio-branco quanto o
joão-de-barba-grisalha, só estão relativamente protegidos
agora porque habitam um "oásis" dentro da terra indígena
Raposa/Serra do Sol.
Outras oito espécies terão
uma perda de pelo menos 50%
de seus habitats, indica o mapa
feito a partir dos dados de distribuição das aves e do aumento do desmatamento. "São espécies, também, para ficarmos
de olho", diz Cohn-Haft.
De acordo com o pesquisador, no caso da Amazônia, houve até uma visão conservadora
na montagem dos mapas. "Nós
usamos uma previsão amena
de ritmo de desmatamento e
também dados que mostram
uma distribuição ampla das
aves", disse o cientista.
Para o pesquisador do Inpa,
muitas mudanças na ecologia
das aves ainda vão ocorrer em
território amazônico, o que vai
piorar o quadro da destruição.
"Os estudos taxonômicos
ainda vão mostrar que uma espécie, como é conhecida hoje,
na verdade são várias. Nós, que
trabalhamos no campo, sabemos muito bem disso", conta
Cohn-Haft. Ou seja, o impacto
quantitativo sobre as aves,
quando essas várias espécies
forem realmente separadas pelos cientistas, só vai aumentar.
Várzea mitológica
Um resultado inesperado no
mapa de destruição das aves
amazônicas é que as várzeas,
áreas inundáveis, também estão incluídas entre as áreas
mais vulneráveis ao desmate.
"As várzeas, ao contrário do
que os pesquisadores imaginavam, não são tão imunes assim
ao impacto ambiental". Por serem locais que já passam por alterações naturais grandes
-alagam e secam todos os
anos, por exemplo-, o senso
comum, até hoje, dizia que elas
não seriam tão frágeis.
O mapa feito agora mostra
também que a vegetação das
"savanas das Guianas", que
ocupa boa parte do norte de
Roraima, encolherá 73%.
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